Algo sumamente interessante é a forma que o vermelho escarlate profana a pureza do frio da neve morta.Já presenciaram um rastro de sangue no meio de uma montanha de gelo?
Não?
É algo muito belo de ver.
E também muito mórbido.
Se for um sangue vermelho mais claro ele tende a fazer a neve ficar em um tom suave de rosa. Um vermelho mais escuro faz a superfície branca reluzir.
São efeitos bem interessantes visualmente.
Porém em ambos os casos apenas uma gota de sangue já é o suficiente para ficar em evidência quando derramado contra uma cor tão pura quanto a da neve.
Todavia,nem mesmo o tom mais claro de sangue é visível contra as pedras frias dos caminhos do inferno.
Havia sim o cheiro de sangue no ar.
Um fedor pungente de carne podre em processo de decomposição.
Todavia nenhum corpo está a vista.
Até onde os olhos conseguem alcançar só existe um solo rochoso negro e um céu totalmente coberto por nuvens escuros onde vez ou outra um trovão estronda e um raio ilumina por entre o aglomerado de nuvens.
Porém o odor de morte fica mais e mais forte.
Neste mar de pedra uma figura não se encaixa na paisagem e, como uma gota de sangue na neve, chama a atenção por destoar completa e totalmente do lugar onde está.
Um ser aparentemente humanoide.
Todo o corpo,da cabeça aos pés, coberto por um grande véu branco que no ambiente de cores mortas tem um aspecto meio fantasmagórico.
Com passos lentos e cuidadosos,a figura caminha pelo chão que parece não ter fim.
Seu tempo de caminhada não dura mais que algumas respirações pois não muito longe de onde está a figura incomum está ela avista um gigantesco pavilhão de pedra negra. Uma chama alaranjada queima no topo do pavilhão em uma estrutura parecida com uma vela. Por entre as colunas que sustentam o teto do pavilhão o mesmo brilho de fogo do topo está a emanar pelos espaços entre uma e outra. A figura continua se aproximando e vagarosamente nota que existe um lago de água escuras logo atrás do pavilhão.
Ao redor do lago, pequenas criaturas quadrúpedes que podem ser descritas como "pele e osso",sem qualquer tipo de pelo por todo o corpo quase da cor do céu,notam o ser que se aproxima do pavilhão. Eles viram um rosto com olhos vazados e sem boca nem nariz para o observar. Algumas até ficam de pé inclinando a cabeça na direção e fazendo movimentos de como se estivessem cheirando o ar mesmo com a ausência de narinas.
De onde está,a figura também vê os estranhos seres,mas prontamente os ignora em prol de subir a escadaria de rocha fria que leva até as portas do pavilhão.
O tecido do véu arrastando pelos degraus deixa um quase imperceptível rastro de minúsculas partículas. Quando a figura de branco chegou na frente das grandes portas,sua cabeça coberta virou para trás a tempo de ver as mesmas criaturas das margens do lago negro amontoadas nos degraus da escadaria. Todos os buracos vazios fixos nele.
Com um estrondo de trovão,as portas se abriram e a figura de branco continuou seu caminho deixando para trás todas as curiosas criaturas.
Dentro do pavilhão é muito diferente do lado de fora.
O cômodo que se apresenta é uma gigantesca sala de paredes altas sem uma janela sequer. Grandes tapeçarias nas duas paredes laterais.O piso ainda é da mesma pedra escura, porém um pouco mais polido.O teto não existe.É apenas um grande buraco que deixa o brilho escarlate da nebulosa vermelha pintar o ambiente divergindo por completo do céu cheio de nuvens negras do lado de fora. Nenhuma alma viva para qualquer canto que se olhar.
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Você É Capaz De Ouvir O Grito Das Estrelas? (Hiato)
Fantasy"-Por que o teto do seu palácio é uma nebulosa morta? -E porque não poderia ser? -Isso não é uma resposta. As duas esferas obsidianas que são os olhos negros do demônio brilham de divertimento direcionado para o anjo. -Talvez ela me lembre você?"