O caminho da floresta

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Duval, reclamou por todo caminho até o Aeródromo. Eu mantive a minha calma, embora por dentro eu fosse um mar de calamidades. Eu só não precisava de mais motivos para perder a calma. Andei com passos firmes, tentando manter minhas pernas feito gelatina no meu comando, tentei controlar a minha respiração e não descontar minha ansiedade na comida. Não era nem cinco e meia da manhã e eu já tinha comido o suficiente para me manter sem fome até o Almoço. Bom, a ansiedade ajudava o meu descontrole com meu peso. Mas sinceramente, não era só isso. Eu realmente amava comer, amava fast food, amava pizza e comida japonesa. Sempre tive que lutar com a balança, fui a nutricionistas de famosos, fiz dietas de celebridades e usei remédios caríssimos...coisas que funcionavam por um tempo, mas logo passavam e eu retornava ao meu peso inicial.
Foi aos dezesseis anos que resolvi não parar em um mesa cirúrgica. Depois de eu descobri que meu par do baile de primavera Erick Mackenzie, só Havia me convidado porque o meu pai havia arrumado ingressos para ele e seus amigos exclusivos para conhecer o Coldplay no Super bowl . Eu fiquei arrasada e decidi que quem quer fosse, gostaria de mim da maneira que eu sou. Não porque meu pai havia pago. Me senti humilhada por muitos anos por isso, justamente por ele ter concluído que ninguém levaria uma menina baixinha e gordinha ao baile sem ter algo que realmente fosse interessante nela.
Que se dane, papai era um homem egoísta.
Respiro fundo enquanto vejo duas malas Grandes e uma mochila sendo organizadas no banco detrás do pequeno helicóptero planador. Estamos dentro de um pátio gigante, onde existem muitos tipos de aviões de pequeno porte. Não vejo o homem, Dante em lugar nenhum, mas tem um ajudante dele organizando as malas para nós. Duval, está em seu telefone falando um pouco distante com alguém. Seja quem for, parece o estar deixando agitado. Ele apoia o celular entre o ouvido e ombros e mata um mosquito que está no seu braço.
— Lugar maldito. — Ele revira os olhos nervoso. Eu quase sorrio com o seu descontrole...desde ontem, o homem estava fora de si. Não o culpava, era uma situação ruim em que nós estávamos. Um mosquito passa zumbindo pelo meu ouvido e isso me faz lembrar do kit que trago na minha bolsa. A bolsa é um pouco grande, bom, que se dane, sou uma mulher reservada. Estou usando leggings pretas, uma regata preta e um jaqueta de lona, colorida. Prendi meus cabelos castanhos em um rabo de cavalo bem no alto da cabeça, embora possa sentir meu cabelo liso, escorregar sorrateiramente da minha xuxinha. Uso uma pochete com kit de primeiros socorros e de reserva três barrinhas de cereais. Não sabia em que condições estaria o meu marido e gostaria de poder cuidar dele da melhor maneira possível até que a gente esteja em um local seguro. Na minha mochila das costas, carrego uma manta térmica, termômetro, uma corda, água e mais algumas coisas que comprei em uma loja local aqui perto. Coisas demais, Duval zombou, quando entrei no seu quarto de hotel com um kit enorme de mochileiros. Mas isso não importa, prefiro ser reservada, principalmente quando a gente vai andar selva a dentro.
— Você quer um café? — Grito a Duval que ainda está no celular. Ele me olha de soslaio, oque me faz pensar que ele me ouviu. Mas ele apenas acena de qualquer maneira para mim. — Ok, — Sussurro saindo do Aeródromo indo até a estrutura fechada onde ficava a administração e banheiros.
Além do hangar com capacidade para abrigar  umas cinco aeronaves, tinha também uma oficina de manutenção e pista de pouso de terra, ao lado de fora. Eu observo a mata densa a nossa volta, enquanto caminho até a sala a procura de um café. Assim que entro lá percebo que não há nada além de uma cafeteira vazia e uma máquina Melodia Vending antiga. Bato nos meus bolsos tentando encontrar uma moeda, pois se não tinha café, uma Pepsi gelada poderia servir, mas não tinha nada além de algumas notas e um cartão de crédito. Eu bufo irritada e sacudo um pouco a máquina na esperança que de alguma maneira o refrigerante desça até a trava.
— Você sabe que precisa colocar uma moeda aí para conseguir o refrigerante, né?
Eu olho assustada para trás, e encontro Dante. Ele caminha lentamente em minha direção, parecendo que está crescendo a cada passo. Eu não sei se ele sabe, mas a sua presença emana poder e superioridade, e ele não está fazendo nada além de vir em minha direção. Ele está usando uma roupa típica do exército, calça e jaqueta camuflada, além de um coturno preto muito bem engraxado. Seus cabelos pretos estão jogados para trás, e além de um corte acima da sobrancelha e uma pequena vermelhidão entre sua bochecha e seu nariz, não há qualquer sinal de que ele estava em um ringue improvisado ontem a noite.
Eleé tão bonito que me deixa enrubescida como uma maldita adolescente. Não sei se ele percebe mas os seus lábios se curvam em um sorriso. E quando ele continua vindo, eu só posso dar mais um passo para trás, até que as minhas costas batam suavemente na máquina de refrigerantes. A verdade, é que os meus instintos me mandavam eu me afastar, mas eu era muito afrontosa para isso. Eu olhei para cima, admirando de perto seu rosto perfeito, seu perfume masculino que irradiava suavemente em ondas na minha direção, justamente com a sua loção pós barba. Quando notou minha aproximação ou o simples fato de que eu não sai da sua frente os olhos dele brilharam.
Ele levou uma das mãos, próximo a minha cintura, e meu corpo estremeceu antes de um real contato.
Deus amado, qual era o meu maldito problema?
Eu ouvi um tintilar suave, quando ele se inclinou até que sua respiração tocou meu rosto, e então sussurrou: — Você está na minha frente americana.
Antes que eu pudesse processar a embaraçosa interpretação errônea de suas intenções, ele repetiu: — Você está na minha frente boneca.
Quando meus olhos encontram os seus novamente, suas sobrancelhas estão inclinadas com diversão. Na mesma hora, minha pele adquire um tom vergonhoso de vermelho. A máquina atrás de mim, da um clic e então uma Pepsi desce.
Ele havia colocado uma moeda para o refrigerante.
Imediatamente olho para os meus pés, envergonhada. Tentando esconder a minha vermelhidão eminente.
Dante limpa a garganta bem na minha frente. Eu elevo o olhar até a linha da sua mandíbula afiada que estava levemente salpicada em uma sombra de Barba. Sua boca era carnuda, sensual e puxada para trás com força para revelar um sorriso.
— É para você. — Ele empurra a lata de Pepsi na minha direção.
— É para...uh, mim? — Eu meio que engasgo nas palavras, quando olho para as suas mãos, grandes, com veias levemente saltadas em torno do refrigerante.
— Você estava tentando pegar uma... então...— Ele da ombros.
Oh! É tão bonito.
— Obrigada Senhor Dante. — Eu sorrio para ele, gentil. — Eu queria café, mas parece que aqui ninguém consome cafeína. Reviro os olhos pegando a Pepsi da sua mão.
— É só Dante, por favor — Ele me corrige depois olha de cima em baixo, de uma maneira definitivamente não atrativa. Ele para se apoiando, as suas costas em uma mesa que estava no centro da sala, e depois cruza os braços fortes sobre o peito me olhando de uma maneira desconfiada. — Eu  realmente não deveria questionar sobre estar levando dois americanos E bagagem suspeita para uma ilha remota no meio da Amazônia. Eu realmente não deveria...mas olhando para você, não parece ser o tipo de mulher aventureira.
— Eu não sou. — Afirmo encarando-o. — E também pensei que não quisesse saber o porquê desta viagem. — Lembro-o de ontem a noite.
— Você tem razão, — Ele arqueia uma sobrancelha escura e bem esculpida para mim. — Mas eu realmente não gostaria que nenhum de nós entrasse em uma situação difícil de sair.
Tentei não deixar que qualquer vestígio do medo e ansiedade que eu estava sentindo transparecesse em mim, principalmente quando a gente estava indo ao encontro de homens perigosos e que possivelmente estavam armados.
— Não é nada demais. — Respiro pesadamente e encaro seu rosto com firmeza. — Vai ficar tudo bem.
Não sei se ele lê minhas emoções, mas fica claro que ele não compra a minha mentira.
— Você precisa repetir isso mais vezes. — Ele desencosta da mesa e vai em direção a porta. — Melhor vim logo se quiser mesmo ir.

*

Nós estamos prontos para decolar alguns minutos depois, Duval finalmente largou seu celular e me olha com expectativa subindo ao meu lado no helicóptero.
— Sua mão está gelada querida. — Ela apoia a mão na minha. Estou suando frio, não consigo controlar. Ainda por cima, tem Dante, Ele parece nos observar de vez em quando, certamente desconfiado.
— Está tudo bem? — Ele diz baixo, encarando Dante de soslaio.
— Sim, é que eu... só estou um pouco nervosa. — Respiro fundo apertando o cinto.
— Me surpreenderia se não tivesse. — Ele da tapinha na minha coxa e se segura na alça superior quando o helicóptero começa a decolar.
Em pouco tempo as construções desparecem e num piscar de olhos dão lugar a uma natureza impressionante, uma imensidão sem fim. Aquele momento é realmente marcante para mim, e de alguma maneira acalma o furacão de emoções que estou sentindo, mesmo que seja temporariamente. Vejo labirintos de milhares de árvores formando pequenas ilhas e o rio correndo livremente. O tempo está bom e firme embora tenha chovido na noite anterior. Não sei como Duval consegue dormir, eu estou uma pilha, não consigo pregar meus olhos e muito menos me arrepender de ter subido nesse helicóptero. Infelizmente, era tarde para todos nós. Algumas horas depois o sol nasce. Uma mistura mágica de azul e rosa se estendem pelo céu e se agarra magicamente ao rio abaixo de nós. Isso é lindo, o Brasil é lindo. Eu gostaria de aproveitar mais a viagem, mas levando em conta a situação que me pôs aqui, eu dificilmente voltaria para uma viagem de lazer. O rio, atinge um tom mágico de dourado, assim que o sol raiou completamente. Pássaros voavam de encontro ao Horizonte e até onde meus olhos não podiam enxergar. Tentei controlar minha ansiedade, já que estávamos cada vez mais perto do nosso destino.
Um caroço lanoso se formou na minha garganta e engoli em seco para forçá-lo a descer. Era tudo tão lindo, e eu me entristecia por não poder retribuir essa energia a esse lugar incrível. Infelizmente, eu era uma confusão emocional e não sabia muito bem oque estava fazendo, além do que eu julgava correto para ajudar meu marido.

Eventualmente olhava Dante enquanto ele pilotava, ele parecia saber muito bem oque fazia, ele conduzia o helicóptero com maestria e segurança. Nem se quer vacilava em seus comandos. Da minha linha de visão, podia ver a sua postura Reta, ombros largos, braços fortes que abraçavam o seu uniforme militar bonito. O seu cabelo não estava penteado, como a grande maioria dos homens que eu conhecia, meu marido, usava uma quantidade absurda de spray fixador para cabelos mas Dante... eu podia ver os fios pretos jogados para trás,  acho, que em uma tentativa de arruma-lo por baixo do fone Headset. Era bonito, e pareciam macios e cheirosos.
Quando ouço um suspiro profundo, olho para o lado e encontro Duval acordado.
— Estou perdendo alguma coisa? — Ele me olha e depois pra Dante de uma maneira que não consigo decifrar.
— Só cansada. — Afastei-me e falei com voz áspera.
— Vamos pousar em alguns minutos, —  Dante olha de soslaio para nós, interrompendo e aponta para uma parte sem vegetação. — Teremos que pousar ali, é pelo menos uma hora de caminhada até a vila. Não há como pousar mais próximo da aldeia. Ela é rodeada por extensa vegetação.
Nós concordamos, também porque não há muito oque fazer. Logo, e em poucos minutos estamos pousando em um campo de vegetação baixa. Observo, que pelos troncos caídos e vegetação levemente danificada que pode ter sido uma área anteriormente usada para garimpo. Exatamente por isso que a vegetação é baixa e irregular somente onde pousamos, cercado de árvores caídas e floresta danificada.

O Sol expoente queima a minha pele levemente, sinto o suor escorrer por dentro da minha roupa, então simplesmente tiro o meu casado amarrando-o em minha cintura, sem me importar se vou parecer um pouco maior com ele dessa maneira. Duval, desce com as malas enquanto Dante verifica o sinal do seu celular.
— Estamos sem sinal, ele observa olhando a nossa volta. — Espero que não precisam usar o celular.
Eu tiro o meu próprio da pochete e percebo que realmente não há sinal.
— Não há tempo para isso. — Duval para ao meu lado puxando uma das malas. — Só posso carregar uma mala então você pode carregar a mochila enquanto o soldado carrega a outra mala — Avisa.
Olho para a mochila enorme além da minha e a mala igualmente grande. Resolvo deixar a minha no helicóptero e manter apenas a mochila com dinheiro, mas, mesmo assim, caminhar, durante uma hora com uma mochila  de dinheiro nas costas ou arrastando uma mala por uma caminho sinuoso no meio da floresta não era o meu plano perfeito para um final de semana. Mas diferente do que as pessoas achavam, eu não iria reclamar.
— Eu não me importo de levar. — Aviso.
— Porque você não leva a mochila de rodinhas? É uma caminhada longa e difícil... principalmente se você não tiver prática carregando peso. — Dante vai até a mochila de costas.
— Ah, amigo, confie em mim, carregar peso extra não é um problema para Abby. — Duval dá uma risadinha despretensiosa.
Tão rápido como eu respiro, eu mascaro minha cara de nojo. Eu ouvia recorrentemente piadas sobre o meu peso, principalmente de pessoas que conviviam comigo, não era novidade nenhuma para mim. Mas de alguma maneira vê-lo fazendo perto de Dante soava mais errado e repugnante que o normal.
— Eu levo a mochila. — Puxo a mochila pesada da mão de Dante, mas ele segura pela alça, seu aperto firme e Duro.
Quando levanto o meu olhar, vejo que sua mandíbula se apertou e seus olhos brilhavam ainda mais, quase selvagens, e prendi a respiração.
— Você não precisa fazer isso. — Ele sussurra baixo, tão baixo que desconfio que ele nem falou.
Então eu puxo a mochila novamente. Dessa vez ele não resiste.
— Eu posso fazer isso. — Minha voz cai uma oitava.
— Não é nada para mim. — Ele diz com delicadeza. Pegando a alça da mochila novamente
— Eu não preciso que ninguém carregue o meu peso extra por mim. — Aviso, talvez um pouco grosseira quando puxo a bolsa de uma vez.
Quando ele soltou um suspiro forte, olhei para cima para encontrar seus olhos vidrados com um estranho tipo de surpresa...ou talvez fosse chateação. Eu fiz uma careta.
— Vamos ficar discutindo sobre bolsas ou vamos caminhar? O sol está me matando. — Duval resmunga enquanto passa por nós.
Os olhos de Dante vão para Duval, com ódio em sua superfície. Não acho que Dante aceite ou goste de receber ordens, então ele da um olhar mortal para Duval.
— Caminho errado mauricinho de merda. — Ele segue para o outro lado puxando a mochila de rodinhas, enquanto eu vou levando a mochila pesada atrás.


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