01 | sou eu, oi, eu sou o problema, sou eu

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Eu tinha sete anos de idade quando descobri a verdade.

Posso dizer com tranquilidade que foi um evento, no mínimo, traumático. Devido a toda a circunstância, sabe?

Óbvio que hoje, anos depois, vejo o quanto eu era uma criança tola e idiota. Como não enxergar a bolha que vivia? Toda a pompa ao redor dos meus pais, principalmente da minha mãe? Aquela quantidade absurda de empregados andando de um lado para o outro, aquelas reverências tão exageradas e os pedidos de desculpas após falarem "Vossa Majestade" quando eu estava por perto?

Mas parecia tudo uma grande brincadeira.

Eu era um príncipe que não fazia a menor ideia disso. Príncipe herdeiro das Coreias Unificadas, para ser exato, e não tinha conhecimento do que significava aquilo. Pelo menos não até a vovó morrer.

Você agora deve estar se perguntando: Nossa, como você não sabia que era um príncipe?

A resposta é muito mais simples do que imagina.

Meus pais.

Foi uma escolha deles, mais precisamente da minha mãe, a Princesa Minji. Viver sob os holofotes não era fácil, sua vida sendo privada sendo publicada todos os dias nos jornais matinais. Editores e leitores achando que você tem o dever de dar a sua vida privada de mão beijada, a todo custo. Não importa o que seja, eles só querem saber.

Minha mãe viveu aquilo na pele, filha única e herdeira do trono. Teve toda a sua vida estampada nos jornais e nas revistas, sendo amada ou odiada, ela era notícia, obrigada a servir de entretenimento ao público. Seu choro, suas quedas quando criança, suas birras, caretas, sorrisos verdadeiros e falsos, seus flertes quando adolescente, seu primeiro beijo inventado pela mídia, sua troca de cartas com o meu pai, suas saídas "às escondidas", noivado, casamento, gravidez e eu.

Tudo noticiado, em primeira página, alimentando o público da sua necessidade de fofoca absurda.

Então ela botou um basta, um ponto final. Lógico que aquilo nunca, em hipótese alguma, foi bem recebido pela mídia. Mamãe foi e é até hoje, massacrada por suas escolhas em relação a minha criação e a dos meus irmãos, mas principalmente em relação a mim. Ela não quis fazer da minha vida mais um circo particular, nada além de uma foto oficial: meu pai em pé, o majestoso príncipe das ilhas do Sul, mamãe sentada em uma bela cadeira e em seu colo, eu, uma pequena bolinha rosada enrolada em panos brancos.

Príncipe Min Yoongi, das Coreias Unificadas. Nascido em nove de março de mil novecentos e noventa e três.

Nada além de um rosto, um nome e uma data.

O príncipe perdido.

Três míseras informações que fizeram a vida da minha mãe e do meu pai virarem de cabeça para baixo. Claro que, depois de uma entrevista que ela deu, falando abertamente sobre o abuso da mídia perante a nossa família, uma parte da população entendeu e a apoiou, afinal era uma mãe protegendo o seu bebê. Mas a outra parte? A outra parte dizia que ela tinha a obrigação de me mostrar, a família real vivia em um zoológico, então por que não deve ser mostrada? O que esse bebê tem de tão importante que não pode ser mostrado? Explorado? Julgado?

Loucura, não é? Fora que, em algum momento da minha primeira infância, meus pais decidiram omitir quem eu era. Não me falaram sobre o peso que eu levava nas costas, não até vovó morrer. Depois de alguns anos, mamãe me disse que não queria que eu crescesse com isso em mente, o peso de uma nação nas minhas costas, mas não que não tem como fugir...

Mas voltando... vamos voltar à parte onde descubro que sou um príncipe.

Eu tinha sete anos, estávamos de férias ao norte do país, em um pequeno castelo. Era finalzinho da tarde, eu estava brincando com os meus dois irmãos mais novos, Beomgyu e Momo, nosso pai nos supervisionava, principalmente os gêmeos que ainda não tinham muita noção da força que tinham.

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