E se eu fosse você?

Capítulo 1

Agosto, 2017

– Você quer o quê?

– Uma semana. É só o que eu te peço.

Harry encarou o irmão com espanto.

– Uma semana!? Fizemos uma promessa, lembra?

Edward hesitou antes de fechar sua mala em cima da cama, que já vinha sendo preparada durante aquela conversa, embora Harry ainda nem tivesse dado sua resposta.

– Preciso estar em dois lugares ao mesmo tempo, irmãozinho, mas não tem como. Foi por isso que eu nasci gêmeo.

O alto nível de sarcasmo em seu tom de voz fez Harry ficar ainda mais irritado.

– E você não pode avisar na empresa?

Edward caminhou até a cômoda, abriu a primeira gaveta, e remexeu nas roupas até puxar algumas notas de libras, as quais enfiou rapidamente dentro da mala.

– Não é uma viagem à trabalho – ele disse finalmente. – Tem uma reunião importante na empresa amanhã, e eu sei que você dá conta do recado – e admitiu, passando uma autoconfiança que Harry não tinha.

– Se a reunião é tão importante, por que de repente você decidiu ir para a Austrália?

Foi rápido, mas ele pensou ter visto Edward estremecer, sinal de que estava nervoso. Mas por quê?

– Surgiu uma oportunidade de negócios – ele respondeu por fim.

Harry franziu o cenho.

– Você disse que não era uma viagem à negócios.

Enfurecido, Edward largou a mala e encarou o irmão.

– Não está relacionada aos negócios da família... Porra! – ele hesitou, impaciente, parecendo cansado de tentar explicar a situação. – Você aceita ou não? Só precisa ir na reunião e cuidar do meu apartamento por alguns dias. Você está desempregado, não está? Aposto que não tem nada melhor pra fazer.

Harry engoliu em seco e olhou para a aliança prateada no dedo anelar direito do irmão. Era a primeira vez que via Edward usando um anel de compromisso. Um lindo anel, a propósito. Simples e brilhante.

– Você não tem um namorado?

O outro deu de ombros.

– Ele não mora comigo – e estendeu a mão para o irmão. – Documentos, Harry.

– Meus documentos? – ele ficou confuso. – Pra quê? Você precisa dos seus documentos pra viajar.

– E você não vai precisar dos seus por enquanto, então...

Harry continuou imóvel, o que fez Edward baixar o tom de voz e respirar fundo.

– Que diferença faz se o nosso rosto é igual? Eu vou deixar os meus aqui, caso você precise.

Ainda confuso, Harry puxou os documentos do bolso da calça e os jogou em cima da cama. Edward os pegou e guardou no bolso do sobretudo preto que usava.

– O Louis, meu namorado, vai visitar a família dele em Doncaster – Edward avisou. – Mas se ele aparecer por aqui, é só contar a verdade.

– Simples assim?

– Simples assim.

Foi com essa simplicidade que Harry viu Edward sair do próprio apartamento, levando uma única mala e toda a sua autoconfiança junto com ele. O cacheado ainda não entendia porque, nem como, Edward conseguia convencê-lo a fazer certas coisas.