Encaro meus olhos destacados pelo lápis de olho no espelho. Bochechas coradas, lábios rosados e um biquíni coberto por um vestido longo e fresco, branco. Estava radiante de felicidade.
Penso a respeito do que o velho disse, o amor realmente nos fazia cometer loucuras. O amor em si era uma loucura, mas valia tudo, porque era delicioso.
Faltavam 20 minutos para o horário combinado, penso se deveria tentar almoçar, mas decido que seria melhor que não. Alguém poderia me fazer perguntas e eu não queria responder, não estava disposta a ouvir ninguém ofendê-lo.
Segurando a pequena bolsa que levava, vejo Anthony conversando com Firmino numa das áreas que cercavam a casa.
- Bom dia. - cumprimento, traçando uma nova rota de fuga.
O rosto de Anthony estava inchado, e quando se virou, me dei conta de que seu lábio estava como se uma abelha o tivesse picado bem ali. Parecia doer.
- Te procurei assim que acordei, Malena. - fala ruidento, a língua presa pelos pontos.
Não persisto no assunto.
- Está tudo bem?
- Tive febre a noite toda, não preguei o olho um instante sequer. - fala firme. Firmino me olhava indecifrável do outro lado.
- Comece com um antitérmico e um anti-inflamatório.
- Isso é tudo, Firmino. - dispensa o homem com um olhar. - Vamos buscar, Malena?
- Na verdade eu estou de saída, Anthony. Seu pai me deu folga. Célia sabe onde estão os comprimidos, ela pode te dar.
Ele assente, indiferente, pensativo.
- Bom, com licença. - avanço para a porteira principal, fingindo que sairia por ali, mas não tinha realmente saída.
Me guiei instintivamente pelo canavial, sentindo aquela parte mais densa me arranhar. Gemi quando a palha da cana fez um corte fino no meu braço. Respirei fundo e segui, percebendo que saí atrás da árvore que ficava em frente à casa de Salvador. Logo o vejo, colocando sacolas na Hayabusa gigante dele.
Estava lindo com uma bermuda de praia azul marinho, parecendo despreocupado, uma camisa preta ressaltando a pele branca que possuía. Ele era lindo, mais que isso, exalava uma energia que me atraía com força atômica, e eu fui, com um sorriso meio bobo na boca e a sensação de mil e uma aventuras porvir.
Ele tinha o faro de um lobo mesmo. Me captou no ar, os olhos me lendo rapidamente, tão rápido quanto o sorriso magnífico que surgiu no seu rosto.
- Minha menina. - rosnou possessivo, ajustando os óculos escuros no rosto, os tirando em seguida para me dar aquele mar verde perolado dele. - Você está tão linda, Malena, tão linda. Você me fascina mais a cada vez que eu te vejo.
- Ora, muito obrigada. - sorrio faceira, mas me emocionava o jeito que Salvador expressava amor, gentileza, afeto, paixão. - Você também não está nada mal.
- Foi tudo pra você.
Sorri largamente, finalmente chegando perto o suficiente pra sentir o perfume marinho dele.
- Pensei que as mulheres eram quem se arrumavam pros homens. - rebati.
- Você se arrumou pra mim? - perguntou com uma sobrancelha arqueada, achei intrigante o ar arrogante, superior que era inerente a ele, contrastava com a humildade que também tinha.
- Talvez..
- Acho bom que seja, bonitinha. - observou-me como um todo. - Esse biquíni não pode ser pra ninguém mais.
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A verdadeira face do lobo
RomanceAlgumas coisas na vida são falhas, algumas pessoas também. Eu não saberia dizer se amar os erros era uma qualidade ou uma maldição, também não saberia dizer o que me levou até aquela cidade. Sorte ou destino? Deus ou o diabo? Malena tinha a estabil...