Capítulo 23 (pov's Jinmin)

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Jimin era sozinho. Desde que se conhecia por gente, seus pais viajavam e o deixavam com babás. Quando fez 10 anos, sempre se perguntava se era um filho ruim. Seus pais não apareciam no seu aniversário, não iam nas apresentações da escola, mas ele aprendeu a lidar com isso. Afinal, no seu aniversário ou Natal, as pilhas de presentes sempre o esperavam. Jimin aprendeu que presentes eram a forma de seus pais tentarem cobrir sua ausência. Com 14 anos, Jimin já não ganhava mais presentes, e sim uma mesada bem recheada, a qual o ômega odiava com todas as forças. Ele não queria dinheiro, queria seus pais ali com ele. Até mesmo chegou a arrumar brigas na escola para tentar chamar um pouco de atenção dos mais velhos, mas falhou. Um dos empregados foi buscá-lo e ele só recebeu mensagens de decepção dos pais. Desde então, ele aprendeu a lidar com a realidade: seus pais eram ocupados demais para ele. Isso fez com que o ômega se tornasse rebelde; saía de casa para festas, passava dias fora, ignorava constantemente as ligações dos pais. Um dia, quando tinha 15 anos, teve uma briga colossal com os dois, aproveitando para falar o quanto eles eram pais ruins. Entre ameaças de cortar a mesada, que Jimin pouco se importava - ele nunca havia gastado um won sequer - a discussão se encerrou.

Pouco tempo depois, Jimin conheceu seu atual namorado, Seokjin, dois anos mais velho que ele. Na época, Seokjin tinha 18 anos e estava completando o ensino médio. Foi ele quem deu uma boa segurada na vida agitada que Jimin levava. O Kim vinha de uma família humilde, apesar de ser parente de Taehyung. Sua mãe nunca quis nada com isso, então abriu uma cafeteria e vivia disso. O pai do alfa já era aposentado de uma carreira militar de quase 30 anos. Jimin e Seokjin passaram quase 4 meses se conhecendo e saindo até que o Kim o pediu em namoro. Como o Park era louco de amor por aquele alfa, não tardou a aceitar. Seus pais não ficaram contentes, mas o ômega era ótimo em discutir com eles e sempre defendia Seokjin. Jimin apenas deixou o assunto de lado; com a presença do Kim mais velho, seus pais não eram tão importantes para ele, não mais. O problema veio quando Jimin completou 17 anos e sua mãe apareceu grávida novamente. Poxa, aquilo deveria ser motivo de comemoração, mas então Jimin viu seus pais fazendo por aquela criança tudo que não fizeram por ele. Eles literalmente largaram tudo por aquela criança, não trabalhavam com tanta frequência, nem viajavam mais. Então Jimin realmente tomou consciência de que seus pais o odiavam, que nunca quiseram tê-lo. Não era possível que eles fizessem aquilo por ele e não por si.

Jimin realmente saiu de casa. Com 18 anos, juntou suas coisas e foi morar com Seokjin, sem avisar seus pais, sem avisar ninguém. Só juntou suas coisas e foi sem pensar duas vezes, após ver as fotos da viagem que os pais fizeram para comemorar o aniversário de 1 ano de Baekhyun. Ele chorou como nunca naquela noite, agarrado ao namorado, porque aquilo doía demais. Saber que seus pais não o amavam. Quando voltaram da viagem, Jimin recebeu várias ligações e mensagens dizendo que ele estava agindo de forma infantil. Então o Park surtou, xingou os pais pela primeira vez, descarregou tudo que sentia em relação a eles e os mandou para o inferno. Quando ameaçaram cortar a mesada, Jimin apenas riu, dizendo que não se importava e não dependia deles para nada. Aquela foi a última vez que viu os pais e pisou na casa deles. Desde então, vivia com Seokjin na casa dele, bem de boa. Trabalhava na cafeteria dos sogros sem estresse nenhum. Ele realmente estava feliz assim, longe daquelas pessoas tóxicas.

Seokjin morava sozinho desde os 16 anos. Gostava do gostinho da independência, trabalhava direto na cafeteria da mãe para ter seu dinheiro e não esperava embarcar em um relacionamento tão cedo. Mas foi inevitável não se apaixonar por Jimin. O ômega era incrível. Seokjin era maduro para entender as diferenças entre eles e ajudar como podia. Tinha um pai militar que lhe fazia andar na linha. Ele era um alfa, mas acima de tudo, todos mereciam respeito, e assim foi criado. Ter Jimin na sua vida de fato aumentou muito sua maturidade, porque no começo o ômega conseguia ser bem infantil quando queria. Mas, com paciência, eles conseguiram se acertar. Evitava falar dos pais dele porque sabia que era um assunto sensível. Mas quando o ômega apareceu lá entre lágrimas, dizendo que havia ido embora e que estava exausto, Seokjin reagiu. Trouxe o menor para sua casa sem pensar duas vezes, tornando o relacionamento de ambos ainda mais sério.

...

— Jimin, você está bem? — pôde escutar sua sogra lhe chamar.

— Sim, apenas tive uma lembrança — suspirou fraco, arrumando os cabelos.

— Sente falta dos seus pais? — perguntou curiosa, olhando.

— Não. Quando eu era criança até sentia, mas hoje não faz mais diferença. Apesar das ameaças, eles ainda depositam dinheiro na minha conta. Vai ser útil para pagar a faculdade de direito — deu de ombros, porque queria lutar pelos direitos dos ômegas e ajudar Seokjin, que estava firme em gastronomia para continuar com a cafeteria da mãe.

— Você e o Jin pretendem ter filhos? — perguntou, sentando-se ao lado do Park.

— Sim, daqui a uns 8 anos talvez. Não quero ser igual aos meus pais. Não quero deixar meus filhos com babás, não quero perder o crescimento deles, entende? — olhou-a.

— É claro que eu entendo. Tive Jin bem tarde também, quando sabia que iria poder cuidar dele — sorriu, dando um beijo na testa do mesmo e foi atender os clientes que haviam acabado de entrar. Jimin reconheceu o cheiro no mesmo instante e não tardou a praticamente correr para dentro da cozinha, porque evitava de todas as formas ver os pais. Seokjin entrou na cafeteria, passando pelos sogros sem olhá-los, e foi até a cozinha, vendo o namorado sentado. O menor o olhou e foi até ele, abraçando-o.

— Vamos para casa? — perguntou calmamente, vendo o Park concordar. Jimin saiu com o namorado de cabeça erguida pela frente da cafeteria.

— Até quando vai continuar sendo infantil, Jimin? Você foi embora de casa sem explicações e nos ignora — falou a ômega. Jimin era a cara da mãe, isso não podia negar.

— Estou fazendo um favor a vocês. Estou poupando vocês da minha presença — falou, dando de ombros.

— Jimin, eu não entendo. Você precisa conversar mais com a gente — falou, suspirando.

— O problema é que eu sempre falo e vocês nunca me ouvem! Mas que merda, vocês não podem me deixar em paz? Parem com esse teatro de fingir que se importam comigo — falou, irritado, encarando ambos que lhe olhavam surpresos.

— Nós não estamos fingindo — falou, tentando soar sincera.

— Vocês me odeiam tanto assim que querem me manter por perto para fazer da minha vida um inferno? Eu já sei que vocês me odeiam — virou a cara.

— O quê? Como pode dizer isso? Nós amamos você — falou surpresa. Pela primeira vez havia parado para ouvir o que Jimin tinha a dizer e, para a ômega, um tiro doeria menos que aquelas palavras.

— Se vocês me amam, nunca de fato demonstraram. Já passou a fase em que eu precisava de vocês. Já passou a fase em que eu precisava dos meus pais em festas de aniversário ou apresentações da escola. Eu não preciso mais de vocês — falou sério antes de se virar e sair com Seokjin sem esperar respostas dos mais velhos. Ambos se abrigaram no apartamento do alfa e foram para a banheira aproveitar o tempo que tinham. Jimin sentiu as mãos do namorado fazendo carinho em seus ombros.

— Eu te amo, Ji — sussurrou, beijando o ombro do ômega.

— Eu também te amo, Jin — sorriu bobo, fechando os olhos. Ele não precisava dos pais, ele tinha seus sogros e, especialmente, ele tinha Seokjin. E com ele, tudo ficava mais leve. Com ele, Jimin aguentava tudo.

[Taeyoonseok] Nosso não clichê ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora