Capítulo 4

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Não sentia vontade de voltar para aquela escola depois de tudo aquilo. Pareço tão dramática, eu sei. Mas é tão difícil seguir em frente sem ter sequer amigos. Tá, eu tenho o Lucas, mas ele passa o dia inteiro falando dos meninos que ele pegou no último final de semana que as vezes sinto vontade de dar com um caderno na cabeça dele, ou jogar água gelada nele para ver se ele acorda para a vida.

A questão é que a Karina era minha amiga para tudo. Tudo que estava nos faltando, encontrávamos uma na outra. Sempre que eu precisava, sabia que podia contar com ela e vice-versa. Nós tivemos uma discussão tão horrível e idiota, e tudo isso definiu nosso destino? Essa briga idiota escolheu com quem estaríamos daqui uns anos?

Sempre valorizei tanto a nossa amizade e agora eu me vejo sozinha. Sem amizades. A única pessoa que tenho por perto é a louca da Gabriela, que está muito longe de ser uma amiga.

Ela implica comigo o dia inteiro, e sempre que tem a oportunidade, mostra o quanto me odeia e o quanto odeia o fato de eu estar morando lá. De eu estar ocupando o quarto que, provavelmente era dela e agora graças a mim, ela está dividindo quarto com o irmão dela.

Acordo no outro dia com a cara toda amassada, acabada, me olho no espelho e vejo uma doida descabelada com olheiras e olho inchado de tanto chorar. Eu estava destruída. Só queria deitar na cama, assistir um filme e comer salgadinhos de isopor e brigadeiro.

Mas hoje ainda é terça feira.

- Será que dá para acelerar aí? Você já está há meia hora nesse banheiro. Que saco, será que ela pensa que tá em um spa? - disse Gabriela.

- Pelo amor de Deus, Gabriela, deixa a sua prima em paz. Enquanto ela usa o banheiro, porque você não se arruma no seu quarto? - era o meu tio.

- Pai, será que dá para defender menos ela? Já está chato demais. Aliás, em vista do toco que ela recebeu da própria amiga ontem, essa aí vai sair desse banho só daqui duas horas. Haja dinheiro para pagar essa conta de água. - fez uma pausa e prosseguiu agora virada para a minha porta, eu presumo. - Acho até bom que vocês não se falem mais. Imagina a humilhação que o Calleb iria passar tendo que andar com a namorada, e com a amiga esquisita da namorada.

Abri a porta bem na hora e voei em cima dela.

Eu nunca fui forte, sempre apanhava dos meus primos. Também nunca fui de violência, mas nessa hora tudo que eu pensava era em esfolar a cara dela. Grudei em cima dela e arranquei um pedaço do cílios do olho esquerdo, e só parei quando senti o Calleb e o meu tio me puxando de cima dela. Ela estava gritando esse tempo todo histericamente e com essa voz fina ridícula dela, mas é óbvio que eu só me toquei quando já estava longe. Eu podia não ter força, mas eu estava com raiva. Acho que isso bastava.

Não preciso dizer que fiquei de castigo, ouvi um sermão horroroso do meu tio, e depois ele ligou para o Carlos e a Joana e contou tudo para eles. Me proibiu de ver eles por um mês.

E os castigos não paravam por aí. Eu estava proibida de sair para qualquer lugar. Era da escola para casa, e de casa para a escola.

Não entendi esse último castigo, já que eu nem saía de casa mesmo. Mas é óbvio que eu não falei nada, vai que ele resolve tirar meu celular.

A Gabriela faltou 2 dias, na esperança que um milagre fosse acontecer e a cara dela fosse voltar ao normal tão depressa. Piada.

Infelizmente (para ela), teríamos uma prova super importante e ela não poderia continuar faltando. Então ela teria que encarar a escola com o olho roxo.

- Talvez seja bom para você, sabe prima? Você sempre quis chamar atenção. Com esse novo visual todo mundo vai olhar para você. - falei enquanto comia torradas no café.

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