EM MEIO ÀS SOMBRAS, Marianne se locomovia rumo ao salão principal do Orfanato Claremont. Era grandioso e frio. Sua atmosfera sugava qualquer resquício de que alguma criança ali já havia sido feliz. Para elas, a solidão já havia se tornado o habitual, e família nunca foi algo além de um mito.
Mas não para Marianne. Talvez o que a mantivesse de cabeça erguida fosse exatamente isso. O mito da família. O rosto palpável de sua mãe. Talvez, esse paraíso pudesse ser real.
Ou talvez essa fosse apenas a imaginação fértil de uma jovem de quatorze anos que sonhava com o dia em que sairia daquele incessante pesadelo.
No orfanato, o mal tinha forma humana e ela estava prestes a encontrá-la.
— O senhor mandou me chamar? — A voz da garota antecedeu a sua presença conforme se aproximava daquela figura intimidadora. Ele avistava a vista da janela de seu escritório.
— Sim, querida. — O homem se virou para a garota examinando o seu rosto. Marianne desviava seus olhos dos que a perseguiam. Não admitiria, mas tinha medo de estar ali. — Eu a convoquei aqui, porque tenho recebido centenas de reclamações sobre certos tipos de comportamento vindos de você. — Ele deu um passo adiante, o que fez com que Marianne se esquivasse. — Temo que sejam verdadeiros, pois Laura achou isso debaixo de sua cama. — O homem estendeu um pergaminho velho em suas mãos. Marianne se sentiu aterrorizada por dentro. Ela sabia exatamente do que se tratava, e sabia qual castigo a esperava.
— Senhor. Isso não é o que você está pensando. — Ela procurou por uma desculpa, mas não foi rápida o suficiente. Seu braço foi segurado fortemente pelas mãos enrugadas de Mestre Thorne. Ela não queria passar por aquilo novamente.
— Você acha que pode me desafiar dessa forma? — Sua face se aproximava e amedrontava a garota. — Na minha casa? Debaixo do meu nariz?
— Não, senhor. — Sua voz era trêmula tal como o seu corpo.
— Muito bem. — Ele parecia estar satisfeito com o temor que causara na garota. — Agora você vem comigo.
Apesar de suas lágrimas e súplicas, a garota foi arrastada pelos corredores escuros e misteriosos do último andar da antiga construção. Era o andar mais temido de todas as crianças.
Thorne a jogou contra o chão gélido de uma sala escura. Ela sabia o que estava por vir. Ela sentia.
— Isso é para que aprenda que não importa o quão espertinha você tente ser. Ou quão fortes são os seus dons, você nunca poderá sair desse orfanato enquanto eu disser que não. — A porta se fechou bruscamente após o sermão do velho diretor.
Ali estavam Marianne e todos os demônios que a assombravam. A garota sentia que era sugada por algo, mas não tinha ideia do que era. Parecia que o escuro do quarto estava a se mover enquanto drenava a pobre garota.
VOCÊ ESTÁ LENDO
SWEET DREAMS - THE SANDMAN
FantasíaSWEET DREAMS Boatos de que Roderick Burgess aprisionara o diabo em seu porão circulavam pela Inglaterra dos conhecedores da magia. Para Marianne Delacroix, não era diferente, apesar de suas dúvidas quanto à capacidade de Burgess. Entretanto, a usuár...