Cansada, triste e infeliz.
Era assim que eu me sentia. E ao me olhar no espelho do banheiro do hotel, naquela primeira noite de núpcias percebi que eu tinha sido uma tola. Desde que eu havia contado a verdade a Aslan algo dentro de mim havia mudado. Aslan havia me aceitado como eu era, do jeito que eu era. Ele não esperava de mim que eu mudasse, que eu me adequasse a nada, ele simplesmente me aceitava como eu era. E foi ali que percebi, talvez eu pudesse ser feliz. Talvez a liberdade que eu tanto procurava estivesse ali, com Aslan.
No entanto, eu estava grávida de outro...
- O que está fazendo? - pergunto ao sair do banheiro e ver Aslan se acomodando no sofá do quarto para dormir.
- Vou deixar você na cama! - ele diz.
- Não, de jeito nenhum! - digo ao me aproximar.
- Não vou ficar na cama e deixar você dormir no sofá!Ele ergue uma sobrancelha e me encara.
- Aslan, estamos casados, acredito que não tenha nada demais em dividirmos a mesma cama!
Aslan me olha atentamente.
- Eu só não...
- Não se preocupe, não vou pensar errado de você. - digo exibindo um leve sorriso.
E então Aslan se levanta e seguimos juntos até a cama. Nos acomodamos lado a lado e nos deitamos. Encarando o teto ficamos e aquilo foi um tanto, diferente.
- Boa noite, Sila! - ele diz ao virar a cabeça e me olhar.
Nesse momento viro a minha e o olho.
- Boa noite, Aslan! - digo o olhando.
E então Aslan apaga as luzes do abajur.
Eu não conseguia dormir. A insônia havia me pegado de jeito, sem falar que ao meu lado, dividindo a mesma cama estava meu esposo. Sim, Aslan havia se tornado meu esposo, e diferente do que eu pensei um dia, eu estava feliz por estar ali com ele. De um jeito estranho e novo, eu e Aslan havíamos nos dado bem. E enquanto eu encarava a escuridão que fazia no quarto, acariciei meu ventre que ainda estava lisinho, sem nenhum volume. Eu carregava um filho, um filho fruto de uma aventura, de um descuido, de um ato irresponsável. Eu não deveria ter me entregado a Guilherme, não deveria ter acreditado nele. Fui ingênua, confiei, me abri, me entreguei, e me desiludi. No entanto, não foi apenas a decepção que Guilherme deixou em mim, um filho, um elo maior e inquebrável. Eu estava ligada a ele por toda a minha vida. E para piorar, eu estava casada com outro.
O dia amanheceu da forma mais linda possível. Da sacada do hotel pude ver aos poucos os primeiros raios do sol surgindo no horizonte, a nossa frente havia o mar e a sensação de paz e tranquilidade ali era incrivelmente bom. Era como se os problemas naquele lugar não existissem, e se existisse, não nos atingia. O ar que respiramos era de paz, tudo ali era paz. E sim, eu estava gostando.
- Acordou cedo! - escutei a voz de Aslan vindo por trás de mim.
Ainda encarando o mar, de braços cruzados enquanto a brisa suave que vinha do oceano tocava meu rosto e balançava suavemente meus cabelos, digo:
- Eu queria ver esse novo dia nascendo! - falei.
Aslan parou ao meu lado e também encarou o mar.
- Tem razão! É lindo mesmo. - ele disse.
- Não só apenas por estarmos aqui, nem por apenas essa linda paisagem que temos a nossa frente, mas... - ele me olha, eu o encaro.
- Por este ser o primeiro de muitos dias que passaremos juntos, que seremos um casal...Uma informação sobre os homens turcos, eles sabem ser românticos quando preciso, e sabem dizer exatamente o que uma mulher precisa ouvir. E Aslan fez isso naquele momento. Suas palavras tocaram algo dentro de mim, eu estava sensível, magoada, vulnerável, e ele naquele momento foi meu alívio.
Imediatamente meus olhos se encheram de lágrimas, e não, eu não as controlei.
- Está chorando! - ele diz ao secar minhas lágrimas com as pontas dos dedos.
- Eu, eu não... Eu não mereço o que você tem a me oferecer, Aslan! Não mereço! - digo sentindo o peso de cada palavra.
Era a mais pura verdade. Diante de mim existia um homem bom, um homem verdadeiro e que estava se apaixonando por mim. E eu não era o que ele pensava que eu fosse. Eu era mentira no mundo de verdades dele.
- Não diga isso! - Aslan me encarou.
- Eu também cometi erros. Sei que você se refere ao seu passado, ao que você viveu antes de mim. Mas eu também cometi erros, Sila! Me envolvi com o mundo ocidental, me envolvi com mulheres, álcool, drogas... Hoje estou bem, sou o que todos esperam de um turco, mas antes, há alguns anos atrás, fui a vergonha da minha família. Eu te entendo, melhor do que qualquer pessoa poderia entender. Sei o que é ser diferente, pertencer a um mundo e viver em outro. É tão confuso que, chegamos a acreditar que não somos como os nossos, que somos como eles. Mas não somos! Nós temos o sangue turco batendo forte em nossas veias, somos turcos não por nascimento, mas por sangue. O sangue da nossa gente fala mais alto! E é por isso que estamos aqui! Nenhum brasileiro casaria como nós casamos, nenhum brasileiro estaria disposto a viver um amor assim, a construir um amor assim... Eu nunca te toquei, e só tocarei no dia que você permitir. E enquanto esse dia não chega, tentarei construir ao seu lado um amor. Um verdadeiro amor, único e especial!E foi então que percebi, Aslan me amou primeiro. Ele me amou antes que qualquer outra pessoa pudesse amar. Ele foi o primeiro amor da minha vida, sim, digo sem medo de errar. Apenas um amor verdadeiro e sincero poderia amar sem pedir nada em troca, sem medir a força desse amor. Aslan me amou até quando eu mesma não me amava! E foi ali, que percebi isso. E sim, foi ali também que decidi lutar para construir ao seu lado um amor tão puto e sincero quanto o que ele sentia por mim mesmo mal me conhecendo. Aslan foi meu primeiro amor, ele me amou primeiro.
Nota da autora:
Turcos não consomem bebidas alcoólicas. É algo que está inserido na religião e na cultura.
Para nosso mocinho ter feito isso é sinal de que ele tem uma cabeça mais aberta, mais ocidental. Mas mesmo assim, Aslan largou essa prática. A família é algo sério para eles, por isso ele está tentando se dar bem com sua esposa mesmo não a amando ainda. Estamos mergulhados em uma história com costumes e modo de enchergar a vida diferente do nosso.
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Meu amor turco
RomanceSila se vê presa a família, aos costumes, a religião mesmo sendo brasileira por nascimento. Um casamento arranjado a faz querer lutar por sua liberdade.