A Entrevista

13 0 0
                                    

01 de Outubro de 2019

" ...E naquela manhã chuvosa, Lis viu que aquele vazio que havia se apoderado de sua alma à anos nunca passaria, pois se completava 5 anos que seu amado, Leôncio Padilha, havia partido de sua vida, o seu primeiro amor. Anos poderiam se passar, mas a alma dele permaneceria ao seu lado persistentemente, ele não iria embora nunca mais de seu coração. Lis estava visivelmente viva aos olhos das pessoas, porém, sentia-se o oposto sem o homem a qual ensinou o sentido de amar.

Era como se milhares de cacos de vidro comum estivessem perfurando seu peito. Uma dor que alastrou sua vida e a levaria sempre consigo, mas que por uma fração de segundos seria desmemoriada quando avistasse o fruto do amor deles, a pequena Sofia, a razão para Lis lutar constantemente, e a única que conseguia anestesiar a sua dor...

-Agonizante." -Um suspiro preencheu aquele estúdio. Carmem acabará de finalizar as últimas palavras do meu mais novo livro. E exatamente naquele momento encontrava-me em um estado de nervos. Uma mulher menina publicando uma história de amor dos queridos pais, que deram seus últimos suspiros poeticamente, para serem lembrados por milhares de brasileiros. Isso soa de forma tão...impossível! Mas ali estava eu, num programa ao vivo, em rede nacional, falando sobre o que eu escrevi! Era uma linda e calmosa tarde em Holambra, e estava diante de uma das maiores conquistas que alcancei. E tal situação me deixava tão nervosa, que a cada palavra que saia da boca excessivamente vermelha pelo batom matte de Carmem, a apresentadora, eu batia o calcanhar no pé do sofá, com a intenção de amenizar toda aquela tensão em que me encontrava.

- Sabe Alicia, acho que assim como eu, todos aqui presentes na plateia gostaria de ouvir mais sobre este seu novo livro que vem emocionando tantos leitores.- Olhou para o pequeno bloco branco, em suas mãos, no qual fazia destacar exageradamente suas unhas rosa fluorescentes. -Em 2013 seu pai faleceu de câncer, e de acordo com as informações sua mãe faleceu em seu parto deixando você e seu pai, correto?

-Sim, minha mãe faleceu em 1992, deixando eu como o "fruto do amor" entre ela e meu pai.

-Então este livro foi baseado no relacionamento de seus pais assim como descrito na sua carta do livro pros leitores?-A pressão crescia de forma dominadora e empolgante ao mesmo tempo.

-Sim. A morte da minha mãe fez o papai sofrer muito, ele não aceitava a repentina partida dela. E seu esforço para levantar todos os dias sentindo o vago ao seu lado do colchão, era maçante e visível...-Meros segundos se desprenderam da minha fala, naquela noite havia mais olhos sobre mim do que o normal. E precisava
retomar as palavras antes de desabar com aquelas lembranças- Eu e ele não falávamos sobre...porém, por causa do seu trabalho, tinha que me deixar no sítio da minha avó Teresa e com isso fui sabendo a história dos meus pais. Ela me contava o quanto eles se amavam e que a morte da minha mãe, o levou a uma vida rotineira, mas que eu era a razão para ele lutar todos os dias.- Um sorriso aflorou em meus lábios ao recordar das manhãs ensolaradas em que eu e vó Terê conversávamos durante o desjejum.— Era um sítio pequeno, mas fazia enormes aventuras nele, desde castelos imaginários à escalar árvores para ver o cachorro do vizinho.
Era um Bingo, bem desajeitado, sempre que escalava a mangueira para vê-lo, o mesmo estava lá, cavando buracos no gramado bem aparado ou destruindo mais um sapato de alguém. Pobre vizinho, deve ter ficado descalço várias e várias vezes.— Minha infância foi aventuresca! -Quando meu pai faleceu, eu decidi escrever este livro, não queria que uma história tão comovente como a deles morresse. E fico muito feliz de ver tantas pessoas lendo.-Corri os olhos pelo Grande Estúdio rapidamente, depositando minhas duas pupilas de volta ao olhar questionador de Carmem, seus olhos eram devidamente intimidador, apesar das cores vivas da sombra e dos cílios falsos que usava.

Ao Som Do Beduíno Onde histórias criam vida. Descubra agora