20 de Outubro de 2019
Entre as areias amareladas, os ventos torrenciais do deserto e um clima escaldante, árido nas áreas remotas do extenso deserto da Arábia Saudita, vivi o meu povo, os nômades.
Sou Hartmut, filho de um ancião! Nascido e criado sob os mantos do deserto! Numa vida nômade e numa liberdade que o deserto me proporciona e que eu amo. As dunas ondulantes são meu lar, e o vento sussurra segredos de meus antepassados em meus ouvidos. No entanto, pertencer à tribo significava mais do que cavalgar pelos desertos e compartilhar histórias.
As tradições locais são como correntes invisíveis, amarrando-me ao papel que eu devo desempenhar. Sei que, como filho do ancião, estou destinado a liderar a comunidade um dia e minha tribo, os Al-Hamad, segue os caminhos traçados pelos antigos. O casamento é um elo que une famílias, fortalece alianças e perpetua nossa linhagem. E eu? Eu sou destinado a casar com minha prima, Diná. Seus olhos são como as noites sem lua e meu coração não bate por ela.
A tradição diz que devo ser o próximo ancião, o guardião das areias e das leis. Mas, oh, como desejo escapar!
Quero sentir o vento em meu rosto enquanto cavalgo para o horizonte desconhecido. Quero seguir as trilhas solitárias, onde as pegadas dos antigos se apagam. Não quero ser o mediador de disputas, o contador de histórias à beira do fogo. Quero ser livre como os falcões que cruzam os céus.Mas a tribo espera. Os olhos de meu pai, enrugados pelo sol, me lembram disso. Ele diz: 'Hartmut, você é a continuação de nossa história.' E eu? Eu sou um grão de areia, perdido entre as dunas.
-Querida mãe, a senhora não sabe como é ver minha vida decidida por outros. Vê-la entrelaçada com as teias da tradição é sufocante.
-Eu sei que seu pai é difícil, mas ele cuida de uma tribo inteira querido, tenha paciência, e espere um momento certo para dizer o que sente.- Falou a mesma segurando minhas mãos para me reconfortar de mais uma discursão que tive com meu pai.- Heidrun lhe ama, e quer o melhor para você, eu e ele sempre faremos o impossível para vê-lo bem.- A mesma sorriu para mim e acariciou meu rosto com as pontas delicadas de seus dedos.
-Não acho que ele me ouvirá- Murmurei, afundando nas almofadas dentro da tenda, sob as areias escaldantes. A senhora que me criou durante 24 anos respirava pesadamente ao meu lado.
-Querido, lembra o que sempre dizia quando era pequeno?- Zara sentou-se ao meu lado, seus olhos brilhando com memórias.
-Eu lhe dizia muitas coisas.- Respondi, com um sorriso irônico.
-Você dizia: 'Mamãe, quero ser um falcão'!- Ela imitou uma voz infantil, e uma onda de nostalgia me atingiu.
-Sim, eu lembro. Passava as manhãs quentes no deserto, correndo pelas areias, fingindo ser como aquela majestosa ave de rapina antes que meu pai despertasse. Sentir o vento no rosto, mesmo que por apenas três minutos, me fazia invejá-las.
-Você me disse isso durante toda a sua infância- Continuou Zara.-Mas nunca compreendi por que você queria ser como aquele falcão. Até que você cresceu e se tornou este homem de coração sensível, guerreiro e talentoso. Notei a sua semelhança com aquela criatura: sua força e determinação para perseguir um objetivo, sem temer os obstáculos do caminho.
Aquela mulher à minha frente sempre irradiou amor e sabedoria. Seu brilho, respeito e desejo de ajudar os outros encantava-os. Assim como eu, ela também teve um destino traçado: seu cônjuge foi escolhido pelo meu avô. Ela lutou contra essa decisão, tentando evitar o casamento com Heidrun para escolher seu próprio amor. No entanto, no fim das contas, ela acatou a vontade de seu pai. E, com o tempo, ela e Heidrun aprenderam a se amar. Algo que, para mim, ainda não faz sentido. Como amar alguém que foi escolhido por outro?
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Ao Som Do Beduíno
RomanceAlicia, uma talentosa escritora, ao enfrenta a dor da perda quando seu pai sucumbe ao câncer lança um livro que conquista muitos leitores. Mas após este lançamento, a mesma se encontra dentro de um bloqueio literário. Determinada a mudar isso, ela d...