(unfortunately)

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Dazai não tinha namorada alguma. A última havia terminado com ele a algumas semanas. Bonita e delicada como uma boneca de porcelana, Dazai a assistiu partir quando ela se rachou.

Uma vez perguntaram a ele se o antigo rei das ovelhas era seu amante. Osamu riu tanto que ficou com dores no corpo inteiro. Riu até o dia seguinte, onde acordou, se sentiu respirar, e imediatamente explodiu em gargalhadas ao pensar na irrealidade de um Chuuya o tratando com carinho.

Pensou naquilo o dia inteiro. E no seguinte, onde já não era mais engraçado. A piada sem graça o assombrava como uma maldição que não deixava sua cabeça em paz.

Passou a ignorar quando pensar em Nakahara em detalhes se tornou uma rotina. Dazai simplesmente aprendeu, à força, que deixar de desejar Chuuya era impossível. Querê-lo, inevitável.

Mas ele tinha, sim, melhores amigos; Odasaku era um deles. Estavam conversando lado a lado e rindo ao meio dia, caminhando pela sede da Máfia do Porto com os passos sincronizados. Se encontrariam no bar em algum momento, daqui a horas, eles sabiam.

Odasaku era o maior mistério da vida de Dazai. Alguém que ele via como um de seus maiores interesses, e o único homem além de Chuuya que o entretinha e distraía o suficiente a ponto de não o deixar entediado. Os dois tinham métodos diferentes, no entanto. Com Odasaku, sentia-se confortável. Poderia deitar ao lado dele e baixar a guarda se quisesse. Com Chuuya, nunca permitiria a ele que confiasse em si. Gostava de ter um pouco de controle.

— No que está pensando?

— Em você. Por quê? — Disse Dazai, olhos grandes na direção de Odasaku. — Eu pareço distraído?

— Com a cabeça nas nuvens, com certeza.

— Não se incomode. E então?

— Você parece diferente ultimamente. — Ele suspirou. — Bom, suponho que seja sua sina. Ou encontrou uma namorada.

— Outra? — Sorriu de leve, divertido pela maneira casual que Odasaku o abordava. — É brincadeira. Não tenho ninguém, e alguém está tentando bancar o detetive...

— Olha só. — Odasaku atraiu a atenção dele para o fim do corredor. — Não quero nem ver essa.

Era Chuuya. De cabeça para baixo por estar caminhando no teto, tragava um cigarro entre os dedos, vindo de encontro a eles. Dazai imediatamente fechou o rosto.

Odasaku e Osamu ficaram em silêncio, os passos dos dois e de Nakahara ecoando como o ressoar de um relógio prestes a anunciar a meia noite. As grandiosas janelas por trás deles exibiam vidro do teto ao chão, e Chuuya, encarando Dazai com pupilas felinas conforme se aproximava, brilhava com a luz do sol. Seu cabelo parecia ainda mais claro por baixo do chapéu. Ele levava o trago aos lábios, e afastava, deixando um rastro de nuvens de fumaça por onde passava.

Dazai piscou uma vez, recordando-se do que fizeram na escola abandonada.

Então, se entreolhando, Nakahara ultrapassou os dois ao assoprar fumaça cinzenta em Dazai e passou reto.

— Tenso. — Disse Odasaku quando estiveram sozinhos mais uma vez, fazendo Osamu rir. — Vocês brigaram? Quer dizer... — Se corrigiu. Estavam sempre se xingando, afinal. — Brigaram de verdade. Você entendeu.

— Não, é claro que não — Ele gargalhava. Odasaku não tinha ideia se estava sendo sincero ou não. — Passamos dessa fase. Não somos mais crianças, certo?

— Semana passada você não o machucou? E vice-versa. Disse que foi culpa de um inimigo.

— Não sei do que está falando. Nós amadurecemos. Tenha orgulho de mim, eu o protegi, Odasaku!

Intimacy | SoukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora