Prólogo

10 0 0
                                    

  21 de agosto, 2019.

— Você não me parece bem. — ele me dizia, olhando no fundo dos meus olhos, enquanto deitado no meu peito nu, depois de uma noite praticamente interminável de sexo. Mas minha mente não estava lá. Desde nunca. Tudo girava em um único sentido, uma única pergunta:

  Quem destruiu Loblon?

  Você provavelmente está se perguntando, o que é Loblon e o que aconteceu para ser destruída? E como isso interferiu na sua mente durante o sexo e os outros dias?

Bom, o que você precisa entender, está explícito há doze anos atrás.

  O ano era 2007. Eu era apenas mais uma mulher no meio de tantas. Com um sonho igual ao de poucas. Eu... eu sonhava em me tornar perita criminal. Tudo bem, eu era uma jovem com mentalidade de vinte anos, um sonho normal. Eu me dedicava, dia e noite para isso. E em um dia, ele foi realizado. Não foi acontecendo, foi da noite pro dia.

  Sobre Loblon. Ah, lugar bonito. A cidade já não existe mais. Apenas há dois anos atrás o lugar deixou de ser considerado a cena do genocídio. Durante longos dez anos, minha cidade natal deixou inclusive de ser habitada e frequentada.

O terror agora era a atração principal do lugar. O cheiro que pairava, antes de água limpa, árvores e terra molhada, dava lugar ao odor de podre, corpos em decomposição, sangue, desespero. Parando-se pra observar com calma, era possível ainda ouvir os gritos de horror, que se resumiram à aquele dia. Homens, mulheres, crianças inocentes, jovens, idosos. Todo e qualquer tipo de gente era morta durante aquela semana.

  Todas mortas da mesma maneira, com aquela maldita marca da estrela, tatuada em carne viva sobre o ombro de suas vítimas. Seus membros? Poucos foram encontrados. Danificados. Sem pele. Longe do tronco, e da cabeça. Uma verdadeira carnificina.

  E o pior das descrições. O culpado de tudo, jamais foi encontrado. A única coisa que se sabia, era a máscara branca. Aquela maldita máscara branca que cobria mais da metade de seu rosto. Um detalhe importante a ser mencionado: ela já fora achada esquecida por algum canto de São Paulo, porém como já se era de imaginar, seu dono nunca apareceu para buscá-la.

  Ele poderia ser qualquer um de nós.

  Eu bem poderia não fazer parte dessa história. Mas após dois anos de investigação, sem pistas, suspeitos ou provas coletadas, decidiram que era hora de buscar reforços.

  Às 09h:34 de uma segunda-feira chuvosa, eu fui chamada para solucionar o caos formado. Foi durante meu café da manhã, no meio do silêncio meu celular vibrou. Era uma mensagem da patrulha. Eu deveria honrar o lugar em que nasci.

Nunca na minha vida eu imaginei investigar uma situação como aquela. Não sabia o quanto uma série de mortes pudesse ser tão complicada para se resolucionar. E doía. Doía por ver minha cidade coração naquelas condições. Ver gente que eu conheci de fraldas e mamadeira jorrando sangue pelas ruas.

Enfim, os doze anos se passaram. O caso já estava arquivado há tempos. Mas minha sede de descoberta não dormia. Eu precisava - quem quer que fosse - pôr atrás das grades o filho da puta acusado de tudo aquilo. Eu passava noites sem dormir. Estudava suspeitos, não descansava mais. E qualquer distração para mim, era uma tortura.

 — Desculpe. — murmurei suspirando fundo. Relembrar toda a tensão que se sucedeu durante aqueles anos me machucava demais.

— Está tudo bem. — com uma mão, Kailan começou a fazer carinho nas minhas bochechas, tentando passar algum mínimo tipo de conforto.  — Eles vão pagar por isso. Eu estou disposto a te ajudar em toda a investigação. Não ficará barato. — sussurrou sem esboçar reação.

— Ok, Kailan. Obrigada. — forcei um sorriso e levantei da cama, tombando seu corpo forte e suado para o lado, antes de - ainda nua - invadir o banheiro da suíte ligando o chuveiro em seguida, onde chorei por minutos a fio. Eu me sentia tão culpada... Era como se o mundo caísse as minhas costas.

  E de alguma forma, as palavras do meu marido não me traziam confiança. Na verdade, nada que ele fazia tentando me provar que a justiça seria feita.

  Mas eu precisava lutar. Com ou sem ajuda. Aquelas pessoas mereciam justiça. A cidade merecia justiça! Eu merecia poder viver em paz.

Existirão outros tempos.Onde histórias criam vida. Descubra agora