Prólogo

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Como de costume, o calor deveras alto irradiava pela casa. Uma pessoa poderia vir a acreditar que devido a casa ser à beira de um lago, e construída sob um dos vários morros do campo, ela teria dentro de si uma temperatura agradável. Mas a realidade dita que tal pessoa estaria errada.

Para ajudar o vento não existia. As janelas permaneciam abertas, mas por elas não passava nem mesmo uma brisa, apenas pássaros famintos, procurando roubar um dos pães recém feitos de cima da mesa. Notando a malandragem dos animais, um homem andava de janela em janela, fechando os quatro redondos portais para o mundo exterior.

Mas ele não estava sozinho na árdua tarefa de puxar para baixo as escotilhas, pois em seu abraço estava uma criança, atenta e observando os passos do pai, que parecia evitar pisar na madeira polida do chão, optando pelos tapetes estendidos por todo canto.

Fios que eram na realidade negros douraram na luz forte do meio dia, enquanto o rapaz se curva para frente, buscando a alça. Os dedos calejados de sua mão alcançam o trinco, e puxam a janela para baixo até que ela se fechasse.

Abaixo da janela da sala era o lugar do sofá, e sobre o couro marrom, o homem coloca a criança, e se senta ao lado dela, em cima da própria perna

— Papai — a criança se ajeita, e seus olhos analisavam todo o ambiente como se ela nunca havia o visto antes, mas era apenas a curiosidade de uma criança, ela morava lá.

— Que foi querida? — Inclinado para a esquerda, e apoiado no braço do sofá ele vira a cabeça para a filha

— Por que você fechou todas as janelas? — A moreninha já havia se colocado de pé no sofá, olhando através do vidro

— Os pássaros estavam comendo nossa comida, não queremos que façam isso, não é? — Se ajustando agora para a direita, ele observa o cenário pela janela com a filha.

O lago prosseguia calmo, refletindo o céu sem nuvens e o único carvalho do outro lado de sua pequena extensão. Infelizmente, a grama permanecia quase que parada, o vento realmente não queria cooperar no dia que parecia ser o mais quente de todos... bem talvez não o mais quente de todos para o rapaz, mas certamente era para a pequena criança.

Novamente ela virou a cabeça para o pai, seus olhos travaram em uma marca em seu rosto, uma ravina que cortava sua sobrancelha esquerda, passava pelo nariz e terminava do lado da narina, completamente reta, e com uma falha entre a sobrancelha e o nariz.

O pai, naturalmente levantou uma sobrancelha enquanto sorria. E já imaginava que a filha lhe perguntaria pela milionésima vez como aquilo acontecera. Ele apenas esperou, a pergunta já fazia eco em sua cabeça antes mesmo de sua filha vocalizar.

— Pai — foi um som prolongado, pedindo atenção — Como que você fez isso?

A garotinha passou o dedo na cicatriz, apenas no começo dela e sentou novamente, coçando seu cabelo curto.

— Bem, lá estava eu saindo sozinho pela floresta — deu ênfase no sozinho — quando um essentea resolveu que queria um pedaço de mim por ser muito bonito

Risadas da moreninha alegraram o ambiente quente, e o pai continuou

— Eu não havia visto ele se aproximar, e como eu estava sozinho — novamente a ênfase — ninguém me avisou. Me virei quando escutei barulhos, mas a cobra de gelo coberta de espinhos já havia saltado na minha cara!

Ele gesticulava grandiosamente

— Ela me cortou aqui no rosto — ele traçou a cicatriz com a própria mão — mas eu cortei ela em duas, acho que estamos quites...

— Quando eu crescer, eu quero ser igual a você, pai! — Ela disse com um sorriso grande no rosto, tão grande que era impossível não notar sua inocência.

Mas aquelas palavras colocaram gelo na alma do pai, pois uma das coisas que ele menos queria é que ela quisesse ser igual a ele. 

As Runas de LwellynOnde histórias criam vida. Descubra agora