Minha mãe me assusta

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- Oh meu Deus! Você está bem? - perguntou ela

Mas eu ainda estava olhando para aquele vazio, procurando aquela pessoa, aquela coisa, sei lá, aquele negócio estranho. Será que eu estava ficando louca? Ou tudo isso realmente aconteceu?

- Ah, sim, estou bem. Eu só... Só estava amarrando o cadarço e me encostei na porta, até você abrí-la

- Hmm, sei, mas o que a mocinha ainda está fazendo sentada nesse chão imundo? Vamos, levante-se - disse ela, esticando a mão para me ajudar.

Ótimo, mais um acontecimento estranho pra minha lista. Lisa Grace? Me ajudando? Ela nunca ajuda ninguém. Mas mesmo assim, aceitei e segurei sua mão.

- Nossa - falei, com uma expressão de estranhamento.

- O que foi?

- Tudo!

- Tudo? - perguntou ela, levantando as sobrancelhas.

- Esquece, deixa pra lá. Bom, é melhor a gente sair daqui - falei apanhando meus livros.

- Concordo plenamente! Nossa, esse cheiro é horrível. Assim que sair daqui vou reclamar com o diretor. Não admito estudar num colégio onde o banheiro fede, onde o banheiro FEMININO fede! Ou eu não me chamo Li... - ela parou de falar, digo, de resmungar quando percebeu que eu não estava mais lá.

Saí na primeira palavra que ela disse, sabia que quando Lisa Grace começa a reclamar, não para.

- Hey, Aurora! Aqui - disseram Mia e Fred acenando para mim do lado de fora do Colégio.

Fiz um sinal com a mão e me dirigi até eles.

- Minha mãe ta demorando hoje, não acham? - perguntei, olhando ao redor na esperança de achar seu carro.

- Relaxa, deve ter acontecido alguma coisa no trabalho dela - disse Mia de boca cheia, comendo uma maçã. Enquanto Fred jogava um tipo de jogo de cartas online.

Então, sentei ao lado de Mia, que colocou o fone de ouvido para escutar suas músicas que só ela, e mais ninguém, gosta de escutar. E ali estava eu, sentada, sem fazer nada, apenas observando os outros alunos despreocupados com a vida, jogando bola, rindo de tudo, fofocando, falando de jogos de futebol, moda, entre infinitas outras coisas. E lá estava Josh com, Lisa, eles pareciam um casal feliz, estavam rindo, se abraçando, se beijando e ... Buzinando?

- Aurora? Acorda mocinha, tua mãe está batendo nesse troço há séculos - disse Fred estalando os dedos na frente do meu rosto.

- Oh, desculpe, e-eu estava meio distraída - disse - cadê Mia?

- Ela já foi, você não viu?

- Não - respondi estranhando - passei tanto tempo assim voando?

- Você não viu? Cara você até se despediu dela - falou ele, levantando os braços.

- Sério? Bom, deveria estar bem distraída mesmo!

Então me despedi de Fred e entrei no carro. Agora sim, eu reparei que ele tinha ficado vermelho quando o abracei e o beijei na bochecha. Será que Mia estava correta? Será que ele realmente gostava de mim?

- Oi mãe - dei um beijo em sua bochecha - tá aí a muito tempo?

- Oi querida, não muito. Mas... Onde estava sua cabecinha que não me ouviu buzinar? - perguntou ela, já acelerando o carro.

- Observando

- Observando? Okay...

Ela não estava mais com aquela cara estranha. Mas estava meio tensa, como se estivesse sendo obrigada a rir comigo.

- E então, como foi o dia? - perguntou ela.

- Digamos que... Estranho.

- Estranho? Hmm, me diga, como é estranho para você? - perguntou, tirando as mãos do volante e abrindo aspas com os dedos.

- Bom, pra você, o que acontece num dia estranho?

- Coisas estranhas? - ela tinha essa mania de me responder com perguntas.

- Exatamente!

- Que tipo de coisas? - agora ela parecia mais séria, como de manhã. Então não quis continuar.

- Nada, esquece.

- Nada disso, começou agora termine. Você sabe que eu odeio quando me deixam curiosa, não sabe?

- Okay, okay. Hmm... Por onde começar? Ah, sim! Josh Hutcherson.

- Esse é aquele seu namoradinho desde a sexta série?

- É.. - dei uma risadinha - O que? Quer dizer, n-não! Claro que não. Ele não é m-meu namorado mãe.

- Mas você queria que fosse, não queria? - disse ela, dando aquele sorrisinho de costume, para todo mundo achar que ela estava bem.

- Bom, continuando - mudei o assunto e decidi pular a parte de Josh, já estava muito constrangedor - eu perdi meu dinheiro que estava dentro do bolso e do nada ele aparece no mesmo lugar. Eu tenho certeza, certeza absoluta que ele não estava lá antes.

- Querida, de estranho isso não tem nada. Você vive perdendo as coisas e quando sou eu quem procura, acho no mesmo canto que você pensou que tinha perdido. Não é verdade?

- É, você está certa. Mas... Mas foi como se ele tivesse desaparecido para me levar até aquela carta idiota.

- Carta? Não estou entendendo mais nada - disse ela, parando no semáforo.

- Deixa eu explicar - me sentei com as pernas cruzadas em cima do banco - assim, como eu não achei meu dinheiro no bolso, fui até meu armário na esperança de que estaria lá e quando o abri, um tipo de bilhetinho caiu da porta. E tinha alguma coisa muito estranha escrito.

- Hmm, pode ter sido algum paquerinha ou algo do tipo. É normal escreverem cartinhas de amor, ou não?

- Em que século você vive?

- Mesmo que o seu, enfim... Continue.

- Okay, voltando. Bem, não era esse tipo de carta. Deixa eu me lembrar... Droga! Não consigo, não era pra ter jogado fora. Espera, espera... Ah! Estava escrito assim, eu acho: Com a marca da guerreira você nasceu. Seus pais verdadeiros ainda não conheceu. Tem apenas cinco dias para pensar. Se o mundo intei... AHH! MÃE! VOCÊ PIROU DE VEZ? - ela freiou o carro com tudo, eu quase batia a cabeça no parabrisa (estava sem cinto de segurança). E ela parecia muito, muito, muito assustada.

- Mãe? Me responde! - coloquei as mãos em sua frente, mas ela nem piscava. Sua respiração começou a ficar forte, ela começou a ficar totalmente pálida, a tremer as mãos e... Enfim, eu nunca a vira daquele jeito antes, e comecei a me assustar também.

Aurora, q-quem colocou isso lá? - ela ainda estava olhando pro nada. Os outros carros já estavam buzinando.

Ela nunca me chama de Aurora, só quando é para me dar uma ordem. Geralmente só me chama de querida ou mocinha.

- E-eu não sei mãe, eu não sei.

- Oh meu Deus! Isso não pode estar acontecendo - ela colocou as mãos sob o volante, deitou a cabeça e começou a chorar.

- O que? Isso o que? Mãe, calma. Meu Deus! O que está acontecendo? Por que você ficou assim? - perguntei assustada.

- P-precisamos chegar em casa logo.

- Será que tem como me explicar? Você freia o carro do nada, começa a agir muito estranho, fica pálida e começa a chorar! O que está acontecendo pelo amor de Deus?

Mas ela não me respondia. Então, parei de perguntar e resolvi não acabar de falar, principalmente sobre o que acontecera lá no banheiro. Ficamos calada o caminho todo, até chegarmos casa.

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