Banhada e vestida, com roupas limpas e confortáveis, sapatos novos, e um tratamento literalmente digno de uma realeza. Assim, Jane foi empurrada - com menos brusquidão do que da última vez - para uma sala diferente.
Olhou para atrás, para os novos pares de portas duplas que a trancafiaram naquele lugar, e não reprimiu uma língua escondida para a sombra de seu guarda já desaparecido atrás da madeira. Era tão bruto e idiota quanto os outros.
Recompondo-se, suspirou e se voltou para a frente. Sentiu-se arfar um pouco ao se deparar com uma enorme e farta mesa de café da manhã. Além da sala, que era em diâmetro menor comparada à outra, com apenas uma janela que, igual a todas as demais que já vira até ali, ia do chão ao teto. Cortinas elegantes e claras esvoaçavam nas laterais dela com a ajuda do vento. A frente da janela, o assento da Rainha, e, diante dela, a extensa mesa de madeira, forrada com uma toalha branca rendada e bastante comida.
A Rainha Não Vista encontrava-se sentada em seu posto, imponente e, como se lembrava, devastadoramente linda.
Jane teve que conter outro suspiro, mediante a sua presença. Sua beleza era mesmo de tirar o fôlego. E soava tão delicada, com a cor da pele tão alva. Tinha os cabelos escuros presos em um coque, com uma coroa simples, como uma espécie de colar ao redor de sua cabeça e uma pedra rubi pendente entre sua testa. Um acessório nunca tornou alguém tão atraente antes.
Heidi avaliou sua garota de cima abaixo. Sentiu-se mil vezes melhor ao notar as mudanças nela. O corpo alto e forte estava forrado por um conjunto de calças de tecido até seus calcanhares, fazendo conjunto com um par de sapatos pretos formais. A camisa era branca, dessa vez, e não a encardida de antes, com os botões todos perfeitos e dentro de suas casas. Era de mangas cumpridas, e seus inseparáveis suspensórios estavam ali, fazendo seu trabalho corretamente na extensão vertical de seu tronco. Não havia nenhum rasgado. Nenhuma mancha. O sangue em seu rosto fora limpado. Seu cheiro era de citronela, limpo, e seus cabelos mantinham-se indomáveis ao redor de seu rosto marcante.
Linda.
Não conteve uma exalação baixinha ao admirá-la. A mulher era sem dúvidas um evento. Seus lábios eram uma parte de seu corpo que mais agrava a Heidi, aparentemente. Isso não fez com que deixasse de notar o sutil volume entre suas pernas, no entanto. Imaginava do que poderia se tratar, mas não tinha preocupação com aquilo, apenas curiosidade.
- Sente-se - Ofereceu brandamente de seu lugar, apontando para a única outra cadeira sobrando ali, na ponta oposta. Heidi desejava muito tê-la por perto, alias, mantinha-se ansiosa para isso, mas achou preferível manter uma certa distância por diversos motivos. A Janel daquela época e tempo não era confiável, e sua intensa vontade de pegá-la para si só fazia crescer, então um espaço entre elas era o mais seguro para ambas. Além disso, se convencia de que a distância impediria que sua insegurança e inquietação fossem perceptíveis à mulher.
Achando graça da situação, Jane cruzou os pulsos às suas costas, avaliando a Rainha de cima abaixo com humor interno.
- És muito madona.
Surpreendida, tanto com a fácil recepção quanto com sua ousadia, a Rainha arqueou uma sobrancelha.
- Em minha posição, necessito sê-lo - explicou com calmaria, gostando, apesar de tudo, de sua interação. Aceitaria até mesmo ser ofendida se isso significaria não ter aquele silêncio aterrador de antes.
- Isso não a impede que seja ao menos educada - rebateu, segurando um riso ao ver a expressão contorcida da Majestade. Podia jurar que a viu corar. Talvez até a tenha irritado um pouquinho mais. Definitivamente, se agradava da ideia de irritá-la. Se não podia matá-la, ao menos ainda, faria de tudo para lhe tirar do sério.
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HEIDI
Viễn tưởngPor anos, vida pós vida, Heidi realiza suas Viagens através do tempo para permanecer junto de seu amor. Ao se ver sempre perdendo-a para a morte, ela se recusa a ficar sem sua metade onde quer que esteja. Após perder uma vez mais o grande amor de su...