A fortaleza que era o Palácio encontrava-se cercada por dezenas de homens, todos vestidos em seus uniformes e espadas, consternados de bom grado em seus juramentos eternos de proteger a Rainha. A temperatura era alta, quente, como geralmente é em Sulnntergard, mas sob a pele de Heidi o frio instalado era seu parâmetro atual.
Seus passos eram firmes, encoando por cada cômodo e colidindo contra as paredes. Tinha a mente enervada por sua conversa conturbada com seu Servo, ambos debatendo e guerreando por suas razões. Aliás, cada um representava seu argumento, ali, com Ernest sendo guiado pela razão e o temor, enquanto Heidi deixava-se levar por seus sentimentos e emoções. Não aceitaria os argumentos de seu Servo, prova disso era seu caminhar determinado por trilhas que nunca explorou naquele lado do Palácio.
Uma verdadeira comitiva foi selecionada para lhe fazer escolta, com dúzias de guardas lhe guiando a frente e mais duas dúzias protegendo sua retaguarda. Suas laterais também não se encontravam vazias, deixando-a assim no centro de um círculo bem formado e intransponível. Não ligava para nada daquilo, achava inclusive uma perca de tempo. Não tinha planos de ter companhia alguma quando enfim alcançasse seu destino, porém não se desgastaria antes do momento.
Mantinha a postura altiva, ombros enquadrados, queixo erguido e olhos afiados como ponteiros à frente. As mãos entrelaçadas diante do corpo, abaixo do ventre.
Embora sua pose fosse imponente e confiante, sentia-se estranha e inquieta por dentro. Os pensamentos desalinhados e frenéticos, o coração apertado sob o peito e as emoções conflituosas. Uma onda devastadora de ansiedade a banhava naquele momento, e um pouco de inconformidades e revolta a alfinetava a medida em que seus passos a levavam para partes mais deterioradas do Palácio. Não queria sequer imaginar em que condições sua amada se encontrava e, jurava pelos Deus, que perderia sua postura de bondosa caso o local não lhe agradasse.
O silêncio só não era vencedor graças aos brutos passos dos soldados que a cercavam, marchando em uníssono adiante. O som de suas espadas e armaduras de ferro irritavam-lhe os ouvidos, mas manteve-se séria e calada.
A medida em que adentraram mais os confins subterrâneos do Palácio, mais incomodada a mulher se via. O cheiro passou a mudar, indo de neutro a forte, fedido. O ar de limpo à poluído e úmido, a atmosfera pesada, a ausência do calor tão costumeiro no reino gelando o ambiente e seu sangue. Todo o caminho era escuro, e iluminava-se somente com o desbravar dos soldados, que levavam tochas nas mãos, abrindo passagem.
Ernest, como seu bom Servo, liderava-os na frente. Seu desejo era ir lado a lado com sua dona, mas após a discussão exaltada por divergência de interesses, sabia que o melhor agora era lhe dar espaço.
Após vencerem mais alguns corredores, desceram as íngremes escadas que dava acesso ao calabouço, por fim chegando ao destino esperado. Heidi recusou de pronto a ajuda de um dos soldados para descer os degraus, deveras furiosa pelo que se pronunciava ser o local. Pela pouca visão panorâmica que tinha, suspeitava que a cela seria ainda pior do que seus olhos enxergaram até ali.
O longo corredor abrigava paredes escuras e deformadas, faltando até mesmo algumas pedras de tijolos. Haviam manchas que a fizeram torcer o nariz pelo odor que exalavam.
Sangue, suspeitou.
O chão era tão nojento quanto, com sujidades e mais daquelas manchas, como se corpos feridos tivessem sido arrastados por ele. Quase conseguia visualizar a cena. Ouvir os gritos... Torturante.
As celas vazias a cada lado mostravam-se em condições ainda piores do que supôs. Passou por uma em condições tão críticas que não se conteve ao levar uma das mãos à boca e nariz. O cheiro era forte.
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HEIDI
FantasyPor anos, vida pós vida, Heidi realiza suas Viagens através do tempo para permanecer junto de seu amor. Ao se ver sempre perdendo-a para a morte, ela se recusa a ficar sem sua metade onde quer que esteja. Após perder uma vez mais o grande amor de su...