O pomar

188 15 19
                                    

"O amor é a sabedoria dos loucos e a loucura dos sábios" – Samuel Johnson




⊹──⊱✠⊰──⊹



   A iluminação que reluzia era favorável para enxergar com clareza as cores que cintilavam na obra de andamento. O vermelho parecia brilhar na tela branca enquanto a mesma cor era meticulosamente conduzida pelo pincel manuseado pelo garoto, que sorria satisfeito com o andamento da pintura. 

— E o que temos aqui? — Felix estava tão imerso em seu trabalho que nem reparou que a professora estava passando de estudante em estudante, avaliando suas performances. 

   A tarefa de hoje era fazer um desenho pensando em algo que te inspira. Uma comida, um personagem, um filme, um livro, uma música, uma celebridade, você mesmo, ou outra pessoa em especial. E esta última opção que foi escolhida pelo loiro, que sorriu antes de iniciar a explicação.

   A pintura se tratava de um pomar que ocupava metade do retângulo branco, que reluzia verde e pontos vermelhos. E embaixo dele, tinha um rio que refletia perfeitamente outra árvore de cabeça para baixo. Essa segunda planta não tinha cores vivas como a de cima, mas não parecia sombria mesmo ela sendo feita num jogo de cores de marrom, cinza e preto. A única cor que se destacava era o laranja, cuja árvore dava a fruta. 

— Usei como inspiração os dois amores da minha vida — revelou ele, apontando para um ponto da imagem ainda com a tinta fresca. — A árvore do reflexo do rio representa meu antigo namorado, que não está mais entre nós. Por isso a árvore parece fora da realidade, em um mundo alternativo que não conhecemos. Mas mesmo assim, ela ainda tem cores porque a árvore não está triste. Ela está em paz, só não está mais aqui. 

"O pomar é o meu atual namorado. No reflexo, pode observar um ambiente escuro perto da laranjeira, mas em volta do pomar há um céu ensolarado. Isso porque quando perdi a laranjeira, me afundei em um rio de profunda tristeza sombria, mas o pomar me puxou e me impediu de me afogar, me trazendo de volta para uma paisagem tranquila e clara." 

   Após seu breve discurso, alguns balbucios de cochichos paralelos podiam ser ouvidos pela sala. Felix fez força para ignorá-los a todo custo. A professora apenas assentiu com a cabeça devagar até interrogar:

— E por que a escolha dessas frutas? 

— San adorava laranjas. E Hyunjin adora maçãs. 

"O luto fez ele começar a alucinar um namorado novo, coitadinho." — Conseguiu ouvir concretamente uma colega sussurrando para amiga e o loiro a fuzilou com o olhar, o que bastou para a garota desviar e se fazer de desentendida. 

— Excelente obra, Felix. — A mulher mais velha elogiou. — Vou te deixar voltar ao trabalho agora.

— Obrigado — disse docemente fazendo uma reverência curta, ainda usufruindo de todo o controle que tinha para fingir que aqueles olhares de pena não eram para ele. 

   Ele conheceu Choi San quando tinha apenas nove anos de idade. E um tempo depois, a amizade infantil acabou evoluindo para uma paixão. Tinham quatorze quando começaram a namorar, e tudo foi um mar de rosas dali em diante. 

   Isso até uma das doenças mais malignas e mais subestimadas da humanidade chegar como uma praga na vida do casal: a depressão. Os dois fizeram o possível para superar aquilo, Felix segurando a mão de San todas as vezes antes de ele entrar nos consultórios da psicóloga, o mandando mensagens todas as vezes lembrando o garoto de tomar seus remédios, escondendo as lâminas dele para não ter a mínima chance de ele se ferir, atendendo suas ligações durante uma crise e até mesmo indo até a casa dele duas da madrugada para limpar suas lágrimas. Foram tempos difíceis, mas Felix estava decidido a lutar com ele até o fim. 

The Oddinary House - HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora