O sonho

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"Acordei e me olhei no espelho ainda a tempo de ver meu sonho virar pesadelo" - Paulo Leminski


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— Felix. — Uma voz masculina chamou severamente, o fazendo levantar o rosto e se remexer na cadeira. — Eu espero que esse papel que você tanto olha seja sobre a matéria.

— Ah... na verdade não, desculpa — disse num sorriso sem graça, colocando a folha debaixo da mesa.

— Vai ter tempo para escrever sua cartinha de amor depois.

— Claro, para o namoradinho imaginário dele — um garoto do fundo da sala pronunciou, causando o riso alheio. Felix se virou na direção dele, o massacrando com o olhar.

— Para seu governo, foi ele quem me deu a carta ontem.

— Own, mas que romântico — outra garota sentada na parede, também no fundo, participou da zombaria. - Eu na verdade acho que você é um gênio, Felix. Também vou criar um namorado, assim ele vai ser exatamente do jeito que eu quero e eu não vou me decepcionar.

   Mais gargalhadas vieram, fazendo o Lee bufar pesado e alternar o olhar para a dupla dos comentários e para cada um que dava risada, como se estivesse planejando qual olho furaria primeiro com sua caneta.

— Escuta, se ele é só um fruto da minha imaginação, como eu posso estar com a jaqueta dele. Hm? — Indagou exibindo a peça no corpo. — E como eu posso ter uma foto dele, hein?

   Ele colocou a mão no bolso, onde se recordava de ter deixado o polaroid. Mas surpreendentemente, não sentiu nada além do tecido. O garoto franziu o cenho, tateando os bolsos internos e em seguida os da sua calça. Nada.

— Mas estava bem aqui... — pensou consigo mesmo, procurando freneticamente a fotografia.

   O universo só podia estar de brincadeira com sua cara.

   "Vamos, não me deixe na mão assim." - Rezou para todas as entidades espirituais que conhecia e até mesmo as que havia acabado de inventar. Sua próxima ação de última esperança foi checar dentro do envelope vermelho, torcendo para que estivesse lá para provar que não estava maluco.

   E nada.

— Que droga, deve ter caído — cochichou consigo mesmo. E diante de seu embaraço, mais risadas vieram.

— Chega. Sabe que tipo de pessoas vocês estão se mostrando rindo de um colega que passou por uma situação difícil? — Repreendeu o professor. — Coloquem-se nos devidos lugares de vocês e mostrem o mínimo de respeito.

   Ele pensou em agradecer, isso antes de ele se inclinar e apoiar as mãos em sua mesa com aquele olhar de pena que o garoto constantemente recebia e odiava com todas as forças.

— Felix, sabemos que você está em uma situação delicada, mas isso tem que parar. Até os professores já estão começando a ficar preocupados.

   "Então que peguem essa preocupação e enfiem onde o sol não bate." — Pensou ele enquanto pegava seu caderno e abria em alguma anotação aleatória, exibindo a folha ao mesmo tempo que deixou ao lado a carta.

— São letras diferentes, inferno. Como eu posso ter escrito?

— Isso acontece em alguns casos — disse o professor, causando indignação no australiano. — Escuta, Felix, talvez seja bom pra você procurar a psicóloga da faculd-

— Ah, puta que pariu! — Disparou ele jogando o caderno e a carta em cima da mesa, cruzando os braços.

— Felix! — Repreendeu o mais velho. — Sabe que esse tipo de linguagem não é tolerado.

The Oddinary House - HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora