2 - O peso do futuro incerto

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[Jeongguk]

Jogo a mochila em cima da cama de qualquer jeito e faço o mesmo com a mala. Meu irmão entra no quarto logo atrás de mim, carregando uma caixa grande de plástico nas mãos, colocando no canto perto da porta. Respiro fundo. Agora é real. Eu realmente saí da casa dos meus pais, vou viver sozinho com minha filha e seguir em frente. Eu vou seguir em frente. Eu preciso.

— Ei, Jeongguk-ah? — Junghyun me chama. — Você vai ficar bem?

Olho para o meu irmão parado no batente da porta. Ele me olha com preocupação.

Queria ser capaz de responde-lo com sinceridade que tudo ficará bem, mas eu não tenho certeza disso. Sinceramente, acho que não vou aguentar tudo isso por muito tempo. Tudo aconteceu tão rápido.

— Vou. — Respondo sem convicção.

Meu irmão sabe que não. Ele tem certeza disso, porque ao responder, ele vem até onde estou e coloca uma mão em meu ombro e o aperta com carinho.

— Você pode ficar em casa com o papai e a mamãe. — Ele fala baixo para que nossos pais não ouçam. — Se for por causa da rescisão do contrato de aluguel, fique tranquilo, eu pago. Tenho um dinheiro guardado. Você não precisa fazer isso se não estiver preparado. A Sunhee só tem três meses, você nunca cuidou de uma criança na vida. Como pretende fazer isso sozinho?

— O dinheiro que você tem é pro seu casamento. Eu vou dar um jeito. — Digo ao fungar, já sentindo as lágrimas nascendo em meus olhos. — Eu sou adulto agora e a Sunhee é minha responsabilidade. Eu sou o pai dela, vou fazer isso.

— Jeongguk-ah, a Soomin faleceu só tem um mês. Você não está bem. Pare de ser teimoso, e aceite a ajuda. Deixe a gente cuidar de você.

— Hyung, eu entendo sua preocupação. — Digo ao enxugar meus olhos com força para impedir as lágrimas. — Entendo mesmo, e sou muito grato pelo seu cuidado comigo. Mas eu não vou voltar para a casa dos nossos pais. Eu decidi assumir minhas responsabilidades e não vou voltar atrás.

— As coisas não são assim. — Meu irmão fala cansado.

— Hyung, eu não vou mudar de ideia.

Ele inspira pesado e me olha com preocupação. Ele tem certeza em pensar que não vou dar conta de fazer tudo sozinho, e eu também penso assim, mas preciso tentar. Eu tenho que fazer as coisas certas para que minha filha tenha um pai digno. Sei que não suprirei a ausência da mãe dela, a Soomin vai fazer muita falta e deixou vago um lugar que eu, na posição de pai, nunca poderei ocupar. Mas eu quero ser o melhor para minha filha. E agora, ser o melhor significa ficar distante de Gamcheon. Não consigo ficar lá agora. Tudo me lembra Soomin, tudo me leva para aquele pesadelo vivido. Não quero estar lá agora. Preciso estar bem para minha filha. Ela depende de mim. Sunhee só tem a mim.

— Jeongguk-ah, mamãe comprou jajangmyeon. — Minha mãe fala alto da sala. — Venha comer. Junghyun, você também.

Passo a frente do meu irmão, indo até a sala. Essa é a minha forma de pôr fim a nossa conversa. Com quatro passos já estou na sala. O apartamento é minúsculo, mas é o que meu dinheiro pode pagar para eu e Sunhee não morrermos de fome.

Tenho plena ciência de que morar com meus pais seria uma melhor opção financeira, mas eu não consigo ficar naquela casa. Tinha a sensação de que Soomin apareceria a qualquer instante no meu quarto pedindo para eu trocar a fralda da Sunhee ou me chamando para jogar uma partida de Overwatch. Mas isso nunca mais vai acontecer.

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