4 - Um pequeno milagre

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[Sarang]

Já estou olhando a meia hora para o celular em minha mão, deslizando o dedo pela tela vez ou outra para não se apagar. A mensagem do meu irmão me aflige. Ele não costuma agir assim.

Jin:

Já fez alguma refeição hoje?

[19:36 p.m.]

Me sinto extremamente culpada por deixa-lo tão preocupado. Nos últimos dois anos ele esteve presente em momentos que sabia que, embora ele nunca me deixasse saber, tinha certeza que eram difíceis para ele poder estar por perto. Meu irmão tem uma vida agitada, há muito o que fazer em sua rotina. Esposa, filhos, um lar, o trabalho de advogado sênior no escritório de advocacia mais importante do país, suas infinitas audiências e reuniões. Existe um mar de responsabilidades que recaem sobre seus ombros, e eu tenho sido um estorvo, um peso morto em sua vida.

Nunca precisei de ninguém para me lembrar de fazer uma refeição, mas, nas circunstâncias que tenho vivido, não sinto fome, não vejo as horas passando. E às vezes me esqueço que preciso comer, ou lavar as roupas, que preciso sair para ver um pouco da luz do sol... O tempo é tão instável. Os dias se misturam e as horas se sobrepõem medonhamente, e aí, quando vejo, já se foram e eu mal pude notar quando um dia terminou e outro está começou. Minha noção de tempo está distorcida. Troco a noite pelo dia. A madrugada não tem fim e o dia também. Não sinto sono, não sinto nada. Exceto por essa dor excruciante que parece querer despedaçar minha alma.

Mas nos últimos dias sei quando é noite porque, o vizinho ao lado tem um bebê, e esse bebê chora todas as noites, das nove até quase as dez. Sei que o dia está acabando porque eles são um sinal de que um dia inteiro já se passou, mesmo eu não tendo visto. É a única movimentação da minha vida, o único lembrete que tenho de que existe um mundo fora do meu apartamento. Fico esperando para que eles cheguem em casa para ouvir a movimentação dentro de seu apartamento, porque ultimamente é só isso o que me lembra que ainda estou viva. Não sei se isso é um bom sinal. Eu nem sei mais o que é estar viva. Sinto que morri há tempos e só o que me restou foi um corpo. Não há nada dentro de mim que me faça sentir viva.

Namu:

Seu irmão me chamou pra almoçar com ele hoje

Ele tá muito preocupado com você

E eu também

Posso te ligar mais tarde?

[20:19 p.m]

Meus olhos inundam de lágrimas quando vejo a mensagem de Namjoon. Sinto falta dos meus amigos, sinto falta da minha família, mas não consigo estar perto deles agora. De certa forma, me sinto sobrecarregada, mas também me sinto só, e mesmo assim, não quero que as pessoas se aproximem. É estranho ter sentimentos contraditórios.

Jin:

Faça uma refeição decente.

E leve o Holly para passear.

[20:21 p.m.]

Respiro fundo e olho para Holly deitado no cantinho do sofá, triste e apático. Tenho vontade de chorar ao vê-lo desse jeito. Ele deve sentir tanto a falta do Yoongi. Eu sinto tanto a falta do Yoongi. Nós dois estamos na mesma situação. As lágrimas sobem aos olhos, mas tento me segurar.

— Holly, quer passear?

O cãozinho apenas me olha. Espero por uma reação dele, que não vem, logo voltando a se deitar e fingir que eu não estou por perto. Talvez ele esteja com depressão. Preciso leva-lo ao veterinário. Me preocupa o estado em que ele ficou depois que o Yoongi se foi. Holly nunca mais foi o mesmo. Às vezes fica sem comer por dois dias, não quer sair quando chamo, evita contato, não liga mais para os brinquedos. Não sei o que fazer com ele.

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⏰ Última atualização: Aug 05 ⏰

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