Capítulo 8

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#Sandro

Não foi fácil.

Mas para mim, com certeza foi mais fácil do que para a Alice. Vê-la desmoronar e se perder nesses últimos dias foi doloroso. Estava com ela quando descobriu que a mãe havia tido um AVC e fiquei do seu lado o máximo que pude, pois não podia faltar o trabalho durante os dias de semana. Claro que ela não foi trabalhar e nem tinha como ir, afinal ela claramente estava perdida.
Depois de 3 dias levando café da manhã, almoço e janta pra ela, e ainda à levando para casa para tomar um banho. Embora ela não tenha comido na maioria das vezes, eu tentei ao máximo manter a sua saúde um pouco estável.

Quando a notícia do falecimento da mãe de Alice chegou, ela já parecia estar um pouco mais conformada, e enquanto ela fazia os papeis da sua mãe no hospital, seu pai chegou com suas malas, já que ela o havia informado do ocorrido. Nesse momento ele pode dar apoio a ela e eu me afastei por alguns momentos, para ver aquela situação de fora. Eu estava muito envolvido com Alice, até demais. Mas como eu poderia deixar ela sozinha naquele momento? Alice me contou que não tinha contato com a família da mãe dela e seu pai tinha perdido os pais muito cedo, tanto que ela nem conheceu. Isso significava que ela estava sozinha, e eu fiz minha parte.

O velório e enterro aconteceria em uma cidade próxima, pois Alice queria colocar a sua mãe no mesmo túmulo que seu avô. Levei ela, seu pai e suas malas em meu carro. Foram exatos 45 minutos em silêncio, com ela olhando para janela e seu pai dormindo.
Quase acabando o tempo do velório, um casal entrou, percebi que Alice ficou desconfortável e acabou saindo da capela. Achei que seu pai iria atrás dela, mas ele pareceu não perceber o que havia acontecido. Fui atrás dela, e a encontrei em um tumulo, sentada e chorando. Cheguei por trás dela, sentei ao seu lado e a abracei. Sabia que ela precisava chorar e colocar a sua tristeza para fora, o que eu não sabia era o verdadeiro motivo.

- Ela não devia estar aqui - soluçou ainda chorando, se virou e escondeu o rosto no meu peito - Ela não merecia nem se quer ver a minha mãe.

Respirei fundo, entendi que se referia a mulher que havia entrado na capela e que a deixou desconfortável.

- Quem é ela? Quer conversar sobre isso?
- Ela é minha tia, irmã da minha mãe. E ela arruinou a vida dela - se afastou um pouco, me olho enquanto limpava as suas lágrimas - Como ela tem coragem de aparecer aqui?

Não sabia exatamente o que dizer, então abracei ela o mais forte que pude. Queria tirar ela dali, colocá-la na cama e fazer toda a sua dor passasse enquanto ela dormiria. Mas não posso, então o máximo que eu posso fazer é abraçá-la. Vejo seu pai se aproximando, e a solto, pois não sei exatamente o que ele iria pensar sobre um professor ser tão próximo de uma aluna. Aliás nem eu sei o que penso sobre isso. 

- Alice, sua tia está te procurando - ela se vira e pela indignação que havia em seus olhos sabia que ele iria ouvir algo não muito agradável - Vamos lá falar com ela.

- Você só pode estar brincando né? - levantou indignada e passou a mão no rosto enquanto suspirava fundo, resolvi levantar também, pois poderia precisar segurar ela - Acho que o sol do deserto deve estar te causando algum problema de memória, já que pelo jeito você esqueceu o que ela fez. Ela arruinou a vida da minha mãe e não vai ser porque minha mãe morreu que eu vou perdoar aquela vaca. Ela nem sabia como minha mãe vivia, nunca veio aqui nesse cemitério se quer rezar pelo meu avô nesse túmulo - apontou para o túmulo que estávamos sentados alguns segundos atrás - E você quer que eu vá lá dar boas vindas pra ela? Quem sabe você convida ela para dormir na nossa casa? Aproveita e da amor e carinho para quem sempre te odiou. 

Nunca havia visto Alice daquele jeito, e assim que terminou de falar saiu batendo os pés indo em direção a capela onde estava ocorrendo o velório. Olhei para seu pai, que estava sem reação, então eu mesmo resolvi ir atrás dela. E ainda bem que eu fui, pois quando cheguei lá Alice estava gritando.

- Eu quero que você e esse seu marido de merda saiam daqui agora. Nunca pensou em se quer mandar uma mensagem pra minha mãe e agora quer fingir de boa irmã? SAI DAQUI AGORA.

Quando ela ia ir empurrar a mulher, a segurei. Alice estava com os nervos a flor da pele, e parecia que estava pronta para atacar a mulher.

- Alice, calma. Respira fundo, pelo amor de Deus - a segurei pelas costas, tentando não deixar ela caminhar. Assim que viu sua tia indo embora foi se acalmando aos poucos. Virou para mim, com os olhos cheios de lágrimas - Por favor, vamos encerrar esse velório.

E assim foi, logo em seguida o padre fez o encerramento, fecharam o caixão e alguns amigos da mãe dela e seu pai carregaram o caixão até aonde ocorreu o enterro. Alice não parou de chorar e o tempo todo ficava do meu lado. Seu pai tentou conversar com ela, mas ela não quis. Aparentemente ficou magoada com aquela atitude dele.
Assim que acabou toda a cerimonia, e ela se despediu de todos, veio até mim, mas parecia que estava sem força até para caminhar. A abracei, beijei a sua cabeça.

- Quer que eu te leve pra casa? - sussurrei contra seu cabelo que estava com cheiro de baunilha.

- Não quero te explorar mais, vou pedir um uber e assim já levamos as malas do meu pai também - suspirou tão fundo que parecia que havia se arrependido de ter chamado ele para vir ao Brasil.

- Alice, não é exploração nenhuma. Vou ter que dirigir até minha casa, a viagem vai ser igual - me afastei do cabelo dela, olhei para seu pai vindo carregando duas malas - Quer ajuda senhor? - Alice se afastou de mim, virou de costas e pelo jeito a viagem teria um clima ruim. 

Ajudei o pai dela a colocar as malas no carro. Alice foi na frente e em menos de 10 minutos, ela acabou dormindo. Logo que seu pai constatou que ela havia dormido, resolveu conversar e isso foi uma tragédia, depois de algumas perguntas banais, veio a que eu temia.

- Alice não me contou, mas quando você começaram a namorar?- me engasguei com a pergunta, mas fingi naturalidade, soltei um riso baixo.

- Não somos namorados, eu sou professora dela e ela faz estágio comigo. Estava com ela quando recebeu a notícia, e fiquei do lado dela o tempo todo já que ela não tinha ninguém para ajudar.

Percebi que ela não gostou muito da minha resposta e depois disso ficou em silêncio. Não conversamos mais até chegar na casa de Alice. Assim que chegamos, estacionei, e tirei o cabelo do rosto de Alice, para tentar acordá-la devagar, enquanto seu pai pegava as malas no porta malas. Assim que se mexeu um pouco, me olhou com uma feição cansada. 

- Acorda Bela Adormecida - e finalmente a vi sorrindo depois de tantos dias de choro.

- Dormi muito? - olhou para trás e viu seu pai - Ele te incomodou muito?

- Não, só fez algumas perguntas, incluindo quando começamos a namorar.

- Quando começamos a namorar? Que? Meu pai achou que você era meu namorado? - ela riu sem jeito e ao mesmo tempo suas bochechas ficaram coradas - Ah me desculpa Sandro, ele é totalmente sem noção e pelo jeito o calor do deserto está fritando seu cérebro.

Ri do que ela disse, me aproximei dela, tanto que sentia sua respiração no meu rosto. Beijei sua bochecha e senti que sua pele estava quente. Olhei para ela e eu sabia que naquele momento que estava completamente apaixonado naquele olhar. Ouvi seu pai tossir do lado de fora e me afastei rapidamente.

- Quer entrar para jantar? Para eu poder te retribuir todas as jantas que tu me levou. 

- Melhor não. Você e seu pai precisam descansar.

- Tudo bem - veio até mim, beijou minha bochecha e sussurrou - Obrigada por tudo. Boa noite.

Saiu do carro, esperei eles entrarem em casa e escorei minha cabeça no volante. Como eu estou apaixonada pela minha aluna? Eu não podia ter deixado isso acontecer.

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Recadinho da autora

Oi gente, tudo bem?

Capítulo tenso né? E quem ai está torcendo pelo casal SanLice?

Tive uns probleminhas com a internet e por isso não pude postar sexta-feira o capítulo, mas está ai.

Hoje postei, quarta postarei de novo e sexta também.

Fiquem ligadinhos!

Beijinhos


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⏰ Última atualização: Sep 05, 2022 ⏰

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