Maio de 2012.
Por que não consigo parar de observar ele?
Sempre me considerei uma pessoa muito observadora, mas as vezes parece que beiro o stalker (nota: engraçado que essa palavra nem existia na época), só que é assim que eu me sinto. Como se de alguma forma ele atraísse a minha atenção apenas por existir, e vê-lo quieto dia após dia me intriga e faz minha imaginação ir longe...
"será que ele é tímido?"
"será que brigou com alguém?"
"por que ele não conversa?"
Hoje tem sido como os últimos dias, chato até a morte, eu já estudei essa matéria na outra escola mas não me atrevo a dizer que já fiz essa série. Mesmo não sendo por culpa minha, ter que refazer essa série meio que foi estranho.
Podem não acreditar mas as vezes parece que tem coisas na nossa vida tem que acontecer, e foi assim comigo e a quarta série. Minha mãe foi até a escola me matricular e levou todos os documentos necessários e segundo a secretária eu não poderia ir para o quinto ano pois era muito nova, já que comecei os estudos aos seis anos e aqui as crianças começavam aos sete. O resultado disso, foi eu ter que rever os mesmos assuntos todos de novo.
Volto minha atenção para a professora que está tentando explicar a matéria mas a sala ultimamente está impossível, então a professora Izilda que é sempre sorridente e paciente finalmente perde a paciência. Cerca de 40 minutos depois estamos todos em novos lugares onde não pudemos ter qualquer tipo de escolha.
Estou sentada do lado da parede e de frente para a porta e adivinhem quem está sentado logo atrás de mim?
Isso mesmo, o até então misterioso Gabriel Lucas Dourado de Oliveira.
Descobri seu nome completo bisbilhotando o diário de faltas da professora, não me orgulho dessas atitudes mas minha curiosidade sempre fala mais alto. Coisa que está acontecendo agora, estou literalmente me segurando na carteira para não virar para trás. Mas logo sou vencida pela batalha interna então, disfarçadamente, viro de costas e me apoio contra a parede e disfarçadamente com toda a naturalidade possível, olho para ele. Que está de cabeça baixa copiando o que a professora escreveu na lousa. Espero que ele me olhe de volta mas aparentemente ele não percebeu que o estou encarando pelos últimos 3 minutos.
Acabo voltando para minha posição anterior e continuo prestando atenção na aula que se desenrolava tranquilamente após as mudanças de lugares e então eu ouço algo ininteligível e me viro para trás. Automaticamente acabo perguntando:
- Falou comigo? - sorrio para parecer simpática, um sorriso aberto, mas então me lembro dos meus dentes que ainda não haviam crescido por completo e comprimo lábios.
Gabriel me olha e fica me observando por alguns segundos e só responde um "não" muito breve e volta sua atenção para a professora.
Cabisbaixa me viro novamente e começo a imaginar se os próximos dias serão cheios de silencio. O que pra mim, é quase igual a morrer veementemente de tédio.
Hoje em dia, pensando nesse momento me lembro que ficar parada era semelhante a uma morte épica de cinema. E se você está chocado com o tamanho do drama que se passa na minha cabeça, já vou te avisando que esse é só o começo dessa história.
Tem muito mais por aí.