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Sina

— Oi, hoje é dia 24 de novembro de 2021 e eu estou atrasada há três dias. — Sorri pra camera sem muito ânimo mas mesmo assim, esperançosa.

Eu queria abraçar a minha criança logo.

Era tudo que eu queria.

— Sina, você quer que eu faça o que pro café? — Noah bateu na porta do banheiro e eu limpei as lágrimas.

Eu acabei soltando um soluço sem querer.

— Amor, abre a porta, por favor. — ele disse.

Eu permaneci quieta, esperando o resultado do teste.

— Amor...por favor, você não precisa fazer isso. — ele bateu na porta com a palma da mão.

Ele forçava a maçaneta enquanto tentava falar comigo mas mesmo assim eu só conseguia focar no meu teste.

Todo mês.

Todo mês um pedaço de mim morre.

Ou nunca nasceu.

Ouvi a voz de Luke sussurrar um "preciso de ajuda em química, pai", eu limpei meu rosto imediatamente, joguei o teste negativo no lixo abri um sorriso imenso no rosto antes de abrir a porta.

— Você precisa de ajuda com o que, Luke? — ele sorriu pra mim e disse:

Noah olhou para mim com os olhos marejados mas os enxugou imediatamente.

— Cálculo estequiométrico. — ele disse encarando o caderno.

— Arrume a mesa da sala e depois Sina ajudará você. — Noah disse e ele saiu do quarto.

Eu desabei instantaneamente.

Eu fui ao chão mas Noah me segurou para que eu não caísse, ele apenas me deitou no chão e deitou do meu lado.

— Eu sou uma inútil! — eu limpei o meu nariz que provavelmente estava um tomate. — A única coisa que eu preciso te dar, e a única coisa que eu quero, é o que eu não posso ter. — ele me beijou na bochecha e eu desabei em seus braços enquanto eu chorava ainda mais.

— A única coisa que você precisa me dar, é amor, e é isso você está me dando há muitos anos, querida. — ele segurou meu rosto entre as mãos. — E tudo vai acontecer de acordo com a vida, nem tudo vai ocorrer instantaneamente, talvez no próximo mês a gente consiga ok?

— Eu só queria um bebê. — eu choraminguei enquanto ele me envolvia com os seus braços grandes.

— Eu sei o quanto você quer isso...não posso te prometer nada mas eu acho que Deus está reservando uma coisa linda para nós dois. — ele fez carinho no meu rosto.

Luke

Eu passei pela porta do quarto dos meus pais e escutei minha mãe chorando.

— Luke não me vê como mãe, ele me chama de mãe por pena. — ela disse enquanto soluçava.

— Ele não tem pena de você, ele ama você.

— NINGUÉM ME AMA, EU SÓ ESTRAGO A VIDA DAS PESSOAS. — ela chorava muito, acho que ninguém havia me visto parado na frente da porta. — Até você adolescente conseguiu ser pai e eu como uma adulta não consigo. — ela riu triste. — Eu não servi pra isso, desculpa por estragar a nossa família.

Eu senti uma lágrima bolar o meu rosto e eu corri para o meu quarto, me trancando lá.

Parece que eles estão tão focados em ter um bebê que eles esquecem de mim às vezes.

Eu posso até não ser filha da Sina, mas eu sou filha do meu pai e eu merecia pelo menos metade da atenção que ele dá pra ela.

Peguei um rolo de silvertape e apertei minhas pernas com a fita, depois os meus seios, depois meus braços mas antes de passar no meu braço eu passei algumas gases no local para dar uma limpada.

Revirei minha gaveta de calcinhas tirando um cigarro eletrônico lá de dentro, dei uma primeira tragada e senti a lágrima quente descer a minha bochecha.

— Luke. — ouvi a voz do meu pai do outro lado da porta e logo ele a abriu, eu joguei o cigarro pra baixo da cama e como já estava vestido meu pijama do bob esponja, não precisei fazer muita coisa. — A sua mãe não está se sentindo muito bem pra te ensinar ok? mas eu posso tentar se você quiser.

— Não pai, obrigado mas você é pessimo em química, vou tentar estudar sozinho então. — tentei sorrir.

— Ok então... — ele enrugou a testa e inspirou o ar. — Que cheiro é esse?

Apontei para o incenso azul próximo a minha cama.

Ele riu baixo.

— Nem te dei bom dia direito, sinto muito, estava tentando fazer uma coisa. — O Urrea original disse. — Bom dia filho.

— Bom dia.

Forcei um sorriso na cara, ele fechou a porta e voltou a sala ou para o quarto, ou para qualquer lugar onde Sina estivesse.

Eu gosto dela mas desde que ela começou a tentar a fazer um bebê, as coisas ficaram mais difíceis e ela mudou completamente, e pra pior.

Ela não se importa mais comigo.

Nem com o meu pai.

Ela só quer saber de fazer esse bebê.

Mas ela nunca consegue e com isso ela deixa meu pai chateado também.

Eu coloquei o meu gorrinho, escrevi um bilhete pro meu pai e deixei na minha mesa.

Eu precisava tomar um ar sozinho.

Toda essa história de bebê enlouquece todos da casa e só estraga tudo.

Se não conseguem cuidar de mim, quem dirá de um bebê.

Acho que talvez, ela não tenha nascido pra ter um outro bebê, apenas eu basta.

wife | noartOnde histórias criam vida. Descubra agora