Nora Seed

594 17 0
                                    

Uma coisa que aprendi.
(Escrito por uma ninguém que já foi todo mundo.)


(...)

Não exige esforço sentir falta dos amigos que não fizemos, do trabalho que não realizamos, das pessoas com quem não nos casamos e dos filhos que não tivemos. Não é difícil se ver através da lente de outras pessoas e desejar que você fosse todas as diferentes versões caleidoscópicas de você que elas queriam que você fosse. É fácil se arrepender e continuar a se arrepender ad infinitum até nosso tempo acabar.

Mas não são as vidas que nos arrependemos de não termos vivido que são o problema de verdade. É o arrependimento em si. É o arrependimento que nos faz encolher, murchar e nos sentir como nosso pior inimigo, além de o pior inimigo das outras pessoas.

Não dá para dizer se qualquer uma dessas outras versões teria sido melhor ou pior. Essas vidas estão acontecendo, é verdade, mas você está acontecendo também, e é nesse acontecimento que temos de nos concentrar.

Obviamente, não podemos visitar todos os lugares, nem conhecer todas as pessoas, nem fazer todos os trabalhos, mas muito do que nós sentiriamos em qualquer vida está disponível para nós. Não precisamos jogar todos os jogos para saber qual é a sensação de vencer. Não precisamos ouvir cada canção já composta no mundo para entender música. Não precisamos ter experimentado todas as variedades de uvas de todos os vinhedos para sentir prazer com o vinho. Amor, riso, medo e dor são moedas universais.

Nós precisamos apenas fechar os olhos e saborear o gosto da bebida diante de nós e ouvir a música enquanto toca. Estamos tão completa e totalmente vivos como estamos em qualquer outra vida, e termos acesso ao mesmo espectro emocional. Precisamos ser somente uma pessoa.

Precisamos sentir apenas uma existência. Não precisamos fazer tudo a fim de ser tudo, porque já somos infinitos. Enquanto estamos vivos, carregamos em nós um futuro de possibilidades multifacetadas.

Então sejamos gentis com as pessoas em nossa própria existência. Olhemos para cima, de vez em quando, do ponto em que estamos, porque, onde quer que estejamos, o céu acima de nós se estende infinitamente. Ontem eu sabia que não tinha futuro, e que era impossível, para mim, aceitar minha vida como é agora. E, no entanto, hoje, essa mesma vida confusa parece cheia de esperança. De potencial. O impossível, acho, acontece com o viver. Minha vida será milagrosamente livre de dor, desespero, mágoa, coração partido, dificuldades, solidão, depressão? Não.

Mas eu quero viver?

Sim. Sim.

Mil vezes, sim.

Frases do livro "A biblioteca da meia-noite"Onde histórias criam vida. Descubra agora