Capítulo 4

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— Posso te ajudar com isso? — Antônio apontou para as sacolas.

— Sim, seria ótimo! — Amanda entregou uma das sacolas e abriu o trinco do portão.

Subiram as escadas em silêncio, Amanda dois passos à frente. Imaginava que teria mais tempo para se preparar antes de encontrar com ele, não que achasse precisar. Mas agora que estava ali, com Antônio logo atrás, podendo sentir o seu perfume levemente citrico, mas bem forte, que já invadia seus poros, percebia que tinha sim que se preparar antes do encontro.

Não sabia decifrar o que exatamente estava sentindo. O coração errava o compasso, correndo como nunca antes ao mesmo tempo que o peito apertava dolorosamente. Teria um ataque de pânico?

Nos primeiros dois anos longe, sonhou com ele a maior parte das noites. Sentia o perfume dele em todo lugar que ia. Chegava a ouvi-lo suspirar ao pé de seu ouvido pela manhã. Até que aquele sentimento esfriou ao passo que sua mente traiçoeira começou a faze-la duvidar de tudo que aconteceu em Chicago. Seu coração, com tantas rachaduras, tentou se recuperar por induzi-la a pensar que foi tudo um lindo sonho e que nunca mais os veria novamente.

Mas agora estava ali, novamente com o homem que amou como nunca antes. Com um sentimento dentro do peito que parecia ter morrido e que agora via que só adormeceu nos últimos anos. Apesar disso, sentia-se sonsa, realmente não estava preparada para reencontra-lo.

— Podemos deixar aqui na mesa. — Amanda quebrou o silêncio meio sem jeito, assim que abriu a porta do pequeno "apartamento" e se encaminhou até a mesa, com Antônio em seu encalço.

Havia um enorme elefante branco na sala. Uma tensão que nunca existiu entre eles antes. Tudo sempre foi muito... natural. A amizade nasceu, a paixão floresceu e o amor foi simples, mesmo quando ela tentou complicar.

— Senti sua falta.

A voz de Antônio saiu vacilante, trazendo Amanda de seus pensamentos inquietantes e ansiosos.

Os dois trocaram um olhar que dizia tanta coisa, que era difícil definir. Mas um sentimento era claro como a água, havia mágoa no par escuro de orbes a encarando.

— Onde esteve por dois anos?

Queria contar tudo, despejar os seis anos que passou longe, mas não podia. Até porque, como poderia explicar que para ele se passaram apenas dois anos e para ela foram seis? Não queria ter que mentir, então se apegou aos detalhes que poderia dizer.

— Em casa. — Respondeu sem firmeza. Nem mesmo parecia certo se referir ao outro lado como casa. — Lembrei do meu passado, precisava resolver tudo, antes de poder voltar definitivo.

Aquela explicação tinha que ser o suficiente.

Mas a resposta de Antônio depois de alguns minutos num silêncio torturante, quebrou Amanda em tantos pedaços que ela quase precisou se sentar.

— O que tivemos foi tão insignificante que não mereci nem uma ligação?

— Toni, não diz isso, sabe que não é verdade.

Os dois se encararam por mais alguns segundos, num silêncio desconfortável e cheio de palavras não ditas.

— Eu queria tanto sentir raiva de você, sabe? — Antônio quebrou o silêncio e Amanda abraçou o próprio corpo, como se tentasse se proteger de algo, talvez do peso e força das palavras que viriam a seguir. — Queria ignorar que você voltou e fingir que nem mesmo nos conhecemos. Queria conseguir gritar e xingar, apontar o dedo na sua cara e dizer o quanto foi egoísta por ir embora.

Mas ele não era assim.

— Mas eu não sou assim. — Ele completou, como se lesse o pensamento de Amanda. — Quando cheguei de Nova York e a Gabby me disse que voltou, eu não pensei duas vezes antes de vir atrás de você, como um cachorrinho. — Soltou um riso fraco, descrente, abrindo os braços. — E agora, aqui, olhando nos seus olhos, só o que consigo sentir é alívio por você estar bem. Como se toda a dor e angústia de dois anos, fossem apagados num passe de mágica.

De Volta à Vida Real - [One Chicago] - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora