Renata, 17 anos

10 3 0
                                    

Roberto assumiu um ar sério e colocou de lado o prato vazio e as taças que um garçom apareceu pouco tempo depois para recolher.

"Renata era linda e tão meiga. Tinha um cabelo longo e escuro que ia até a metade das costas. Ela era a garota mais popular do ensino médio, e naquela época, isso era importante pra mim! Quando ela se tornou minha amiga, de repente, meu mundo virou de ponta cabeças. Eu era  só o nerd tímido com poucos amigos e umas 12 espinhas novas por semana no rosto, até então." Ele  começou "Mas em uma terça-feira qualquer, Renata se sentou ao meu lado durante a aula de física, mesmo tendo outros lugares vazios na sala. Ao contrário de todas as outras garotas, ela não me pediu a resposta do dever, ela era inteligente e não se rebaixaria a tanto, sabe? Discutimos as questões, respondemos juntos, rimos e almoçamos juntos naquele dia. A menina mais gata do ensino médio sentou ao meu lado e puxou conversa comigo. Consegue imaginar como isso afeta um adolescente?"

"Isso não parece tão ruim  e é digno de um filme adolescente." comentei rindo

"Exato, Sara! Agora deixe-me continuar."

"A primeira vez que eu me apaixonei, foi por ela. Eu tinha 16 anos, quase 17." Ele recomeçou. "Renata passou a sentar comigo todos os dias e me apresentou para todos os amigos dela. Conversávamos muito e chegamos a sair para lanchar juntos depois da aula algumas vezes. Cheguei até a ir em festas dos amigos dela e ela foi na minha casa para fazer alguns trabalhos escolares. Eu me tornei o cara e me sentia assim. Na minha cabeça ainda na puberdade, aquilo só poderia significar uma coisa: ela gostava de mim! Então eu passei a venera-la, eu sonhava com a Renata e economizava meu dinheiro da merenda e o que eu ganhava como jovem aprendiz em um mercadinho para comprar presentes para ela."

"Por semanas eu vivi em uma bolha de amor, embora ela não tivesse dito nada sobre amor, eu sabia que era isso. Tudo desmoronou quando eu tentei beijá-la um dia enquanto dividíamos um pacote de salgadinhos vendo TV na minha casa. Renata me empurrou e limpou a boca com tanto nojo que eu me espantei."

"Eita." Comentei. "Sinto muito, Roberto."

"Ela me confessou naquele dia que só tinha começado a falar comigo por causa do Diego, um primo meu, mais velho. Renata perguntou perplexa se eu não tinha percebido que só conversávamos sobre o meu primo quando estávamos juntos. Eu fiquei irritado e chorei pedindo pra ela ficar comigo. Foi vergonhoso! Mas dias depois, depois de tomar meu primeiro porre da vida e ficar de ressaca, eu percebi que ela tinha razão."

"Não era o caso da menina popular que se apaixonou pelo nerd fofo. Que decepção!" Eu disse a ele.

Roberto soltou uma risada.

"Era o caso do nerd não fofo que foi usado sem consideração. É o que acontece na vida real. Nem todo mundo tem um glow up e uma reviravolta na vida."

"E depois disso? Continua."

"Primeiro eu persegui ela e chorei muito escutando Rock e MPB. Depois eu avisei para o meu primo que  tinha uma garota da minha salada interessada nele. Eles ficaram juntos no final daquele ano e eu me afastei dos dois. Se casaram tem uns quatros anos e eu não fui ao casamento."

"Eu também não iria!" Concordei "E como são as reuniões de família?"

"Não sei. Não costumo ir."

"Eu te entendo! Mas já está na hora de superar isso, não é?"

"Eu superei. Minha família é complicada por muitas outras razões."

"Continua. Qual foi a sua paixão número dois?"

"Podemos pedir a sobremesa primeiro?"

"Algo doce para equilibrar o amargo das lembranças, Roberto?" Brinquei.

"Algo do tipo. O brownie daqui é maravilhoso! Quer provar?"

"Ok. Vamos pedir! Quero o sorvete extra com calda quente junto."

O Último Caso de Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora