Capítulo 1

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Meu peito doía. Meu coração pulsava sem parar. Minhas pernas avançavam mesmo com a inquietação que sentia. Isso tudo não era fruto do cansaço, entretanto. Era culpa da minha hesitação.

Ela me ajudou tanto... Eu fui um idiota de não ter percebido! Pensei enquanto subia as escadas da pousada.

Saí correndo pelos corredores e procurei em cada centímetro que meus óculos pudessem enxergar. Nada. Não era tão tarde, mal tinha passado das oito da noite. Mesmo assim, as luzes estavam apagadas já que a maioria dos outros alunos tinham ido jantar. Ela não foi com eles, entretanto. Ela. Logo ela que tinha se declarado pra mim naquele mesmo dia e eu não soube como responder.

O Leandro disse que você estava aqui em cima, então... Cadê?

O som dos meus passos ecoava no silêncio da noite e a cada porta que abria, o desespero de não encontrá-la se intensificava. Cada canto, cada quarto, cada janela. Nada. Foi quando me encostei na parede, prestes a desistir, e olhei para o breu do lado de fora. A luz da lua, enquanto banhava o corredor, revelava uma silhueta na sacada. Lentamente me aproximei, desacreditado que a garota ainda estava lá. Com cuidado, abri a porta.

— Finalmente... — murmurei. A garota não escutou, estava perdida nos próprios pensamentos.

A noite era fria. Estávamos no interior e à beira de um lago, rodeados por árvores. Não poderia ser diferente, né? Mas não era frio que eu sentia. Não. Dentro de mim vinha um calor sobrenatural. Uma determinação que superava até mesmo a minha timidez e hesitação de antes. Dei mais alguns passos para me aproximar enquanto, inconscientemente, me lembrava do medo que sentia... Mas até isso passou. Meu coração sabia o que tinha que ser feito.

— Hã? — A garota enfim me percebeu e se virou. — Dani... o que você está fazendo aqui?

— Eu vim... Eu vim pra te responder!

— Me responder? Do que está falando? — Ela forçou um sorriso e tentou desviar o olhar, mas não conseguiu.

Minha garganta travou com esse gesto dela. Ainda assim, reuni as forças necessárias para gritar o que estava entalado esse tempo todo. Reuni as forças necessárias para gritar o que só eu não tinha percebido ainda.

— Eu também te amo!

E foi assim que nosso namoro começou. Mas não é assim que essa história aqui começa...


Capítulo 1

~Bloody Diamond~

— Você morreu, tente novamente — disse a voz irritante do jogo.

— Ah, que saco! Esse jogo injusto...

Tudo começou meses antes do que narrei. O brilho vermelho da tela de Game Over era refletido pelos meus óculos e já estava cansativo. Tinha acabado de passar das duas da manhã e ainda estava acordado, jogando no computador. Com um longo suspiro, retirei os óculos para limpá-los. Sem perceber, me peguei encarando o meu próprio reflexo. Um garoto relativamente baixo, acho que tinha 1,68, com sardas no rosto e um cabelo ruivo — o único com essa tonalidade na família — incrivelmente bagunçado. Esse sou eu, Daniel Lopes, um viciado em jogos que vive o oposto do que é considerado saudável pra um estudante do ensino médio.

Horas mais cedo, ainda no início da noite, decidi dar uma pausa na minha jogatina de Superego, um RPG japonês antigo, mas que é uma das séries mais conceituadas atualmente. Depois de morrer e perder todo o meu progresso de uma área, fui navegar por um site de jogos independentes e dar uma chance para alguns deles. Nenhum me chamou tanta atenção quanto Bloody Diamond, que parecia ser brasileiro.

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