Capítulo 2

5 2 0
                                    


~Sonho~

— Ei, é você a desenvolvedora de Bloody Diamond... não é?

A garota ficou pálida com minhas palavras. Levaram alguns instantes até ela fingir uma expressão de desentendida e começar a negar veementemente o que falei.

B-Bloody o quê? Hahaha, do que você tá falando? Tipo, é claro que não desenvolvi essa coisa aí...

— Não? — Já tinha chego ali, não fazia sentido só aceitar o que ela falou. — Desculpa, mas vi a notificação que chegou no seu celular... E-Eu não mexi em mais nada, juro! É só que alguém comentou na página do projeto, aí liguei os pontos e...

Lilian suspirou.

— Não adianta mais esconder, né...? Vai lá, pode rir. Uma garota de dezesseis anos tentar fazer um jogo no Brasil é algo tão idiota que dá pena. Ainda mais um jogo fraco que nem Bloody Diamond.

— R-Rir?

— É, pode rir. Pelo que entendi, você jogou. Ou pelo menos conhece ele.

— B-Bom, sim, mas...

— Aí, ó. Ficou uma porcaria, não ficou? Não precisa ter medo, eu aguento. Não, mentira, pega leve nas palavras senão meu coraçãozinho não vai aguentar.

Ela não me dava tempo de falar. Sempre que ia começar alguma sentença, era interrompido por Lilian. Foi então que, sem querer, aumentei meu tom.

— Seu jogo ficou incrível! — gritei. A garota se assustou e eu, arrependido disso, senti meu rosto esquentar enquanto desviava os olhos. — Q-Quer dizer, é, eu joguei. Ele é curtinho, mas o combate é muito prazeroso e responsivo, além disso a exploração das fases ficou muito boa.

— Ah, é... — murmurou ela, parecendo desacreditada.

— Sim, sim! E não tem nem o que falar da pixel art! Foi você que fez?

— Hã, sim... Sim! Sim, fui eu! — Ela abriu um sorriso e seus olhos começaram a brilhar enquanto me escutava.

— Como imaginei. Já tinha visto alguns desenhos seus, então reconheci o estilo. É até difícil de imaginar que você fez aquilo tudo sozinha...

— B-Bom, os fundos das fases e as músicas vieram de um banco de dados público, na verdade...

— Ainda assim, não tira o mérito das coisas que são originais.

— Ah, é? Tipo, até me surpreende que você não mencionou a disparidade entre os personagens e o fundo, hahaha.

— E-Eu não sou a pessoa com maior conhecimento sobre arte, hehe...

E sem perceber, nós dois começamos a rir. Estranho, mas me senti bem falando aquelas coisas com ela. Quer dizer, tinha o Leandro, meu melhor amigo, com quem eu conversava sobre jogos. Mas a conversa sempre foi mais casual como "gosto de jogo x, ele é divertido." Poder falar de forma mais técnica com alguém daquele jeito... Era mágico.

— M-Mas o jogo tem falhas sim... — falei, diminuindo o tom com medo de magoá-la. Entretanto, logo recuperei a confiança e prossegui. — Tá mais explicado no meu comentário, mas faltou polimento na dificuldade e, principalmente, na escrita.

— Qual foi, você vai zoar o meu português ruim até mesmo aqui?

— B-Bom, é algo que dá pra melhorar na escola, né? E-Enfim, acho que é melhor ir embora. Não quero te atrapalhar mais do que isso.

Além dos PixelsOnde histórias criam vida. Descubra agora