MARTELOS

Brincadeira: Final

O bandido agarra a morena por trás. E consigo ouvir o que ele diz.

— Vou te matar, vagabunda, se não ficar quieta!

— Por favor, não me mate, moço.

Viram de frente um para o outro. A mulher com lágrimas nos olhos. O criminoso com olhar sedento. Pera aí! Ele se agarram e se beijam com vontade. Parecem estar perdidamente apaixonados. Não pode ser . Meu julgamento de caráter é infalível. A moça só pode estar agindo assim para não ser morta. É uma tática que consiste em fazer o jogo do cafajeste, enquanto aguarda ansiosamente por um salvador. Vou acabar com a tortura da vitima. Dou uma martelada nas costas do safado. Ele solta a mulher. Vira-se para o meu lado com semblante de espanto. Não perco tempo. Martelo sua cara de pau. O faço ir à lona. Espero que a moça me agradeça . Mas o seu olhar não demonstra a minima expressão de gratidão. Ela ajoelha-se perto do desfalecido. Levanta o rosto em minha direção. Abre a boca como se quisesse rugir.

—  Imbecil! Tem inveja do tesão alheio? Derrubou meu namorado à toa.

— Namorado? Pensei que fosse um assediador e estuprador. Achei que estava em perigo.

— Não era nada disso. Fazemos essa brincadeira de ele se fingir de predador para acender nosso fogo. Você entendeu tudo errado, seu burro.

Solto o martelo no chão. Ergo as mãos para o alto em um gesto de rendição. Tento falar alguma coisa.

— Só queria...

— Queria descontar sua frustração sexual em alguém. Mas não pense que vai sair impune dessa.

A morena já não está olhado em minha direção. E sua voz sai num tom extremamente forte.

— Aqui! Arrebentem esse cara que agrediu o meu namorado. Ele não pode escapar.

Juízes e juízas segurando martelos me cercam. Até a namorada do desmaiado pega o meu martelo do chão.  Não há para onde correr. E nem daria mais tempo. Martelam meus olhos, minhas mãos, meus dentes e minhas costas. Sinto uma dor dilacerante até o momento em que tudo escurece.

                                                                                           FIM