occupy my brain | l.s

o peso errôneo da minha conduta

Apertei o baseado com a mão esquerda enquanto ele me assistia. Eu sabia que tinha o influenciado sobre isso, mas ele não se importava - e muito menos eu, sendo sincero.

Harry me olhou de uma maneira tão crua - como se eu fosse um tipo de quadro antigo pintado a óleo - e crispou os lábios. "Você não deveria fumar tanto."

"Eu sei."

Ele retirou seu isqueiro em forma de revólver do bolso e me entregou. Suas unhas estavam recém roídas e agora só sobravam os resquícios do esmalte bege. Eu queria poder fazer com que ele quebrasse esses hábitos. Talvez fosse meio impossível.

Harry abriu uma latinha de coca, e olhou para o céu ao beber. Ele parecia tão infantil, com os malditos ombros largos e as pernas esguias de fora. Quis gritar para que ele se cobrisse, mas ele tinha tudo de si. Ele era exorbitantemente livre.

Toquei seus dedos com a palma da minha mão, desejando poder fazer mais do que isso. Ele se afastou, de reflexo, como se minha carne o enojasse.

Respirei fundo também olhando o céu se aprofundar em um tom escuro de azul marinho.

Divaguei por alguns segundos me perguntando se Harry pensava em algo complexo e poético ao vislumbrar a forma como os corvos arranhavam o céu e gritavam para o mundo de uma forma ensurdecedora. Eu me encolhi com os chiados, mas ele parecia deleitado. Fiquei esperando que dissesse algo, qualquer coisa.

E embora todos os pelos do meu braço tenham se arrepiado sutilmente com o toque áspero das cutículas maltratadas da unha dele, enquanto ele surrupiava o cigarro dos meus lábios e o levava até os seus, eu continuava esperando sua doce concepção sublime de como a mente dele retratava a extensão de mundo que nos abrigava.

Ele não disse nada, no entanto.

E um artista como ele, calado, era quase como um crime imperdoável.

[...]

Quando nos encontramos do outro lado da rua de um colégio católico, percebi o quão insinuativo da parte de Harry aquilo poderia soar. Quer dizer, era um mega plano estratégico para que eu não ousasse encostar um dedo em sua pele.

Ele parecia meio sensibilizado naquele dia. Não conseguiria lê-lo de verdade nem se tentasse. Mas eu o enxergava. Com todas as suas manias presas aos toques involuntários e a comum franzidinha no nariz.
Eu quis toca-lo. Quis autenticar o calor de sua pele e esvair suas adversidades com um simples enlace cordial. Não que eu tivesse tal permissão.

De qualquer jeito, seu quente olhar permaneceu focado em meus ombros pelo resto da tarde, enquanto tentava memorizar todos os detalhes minuciosos que me compunham e se esforçava de um modo gigante para não abrir a boca.

Deus, como eu sentia falta do Harry que tagarelava após dois tragos de maconha.

Quando seu rosto se mantinha passível dessa forma, - como se tivesse aceitado todo o caos que o mundo se estendia - eu perdia a conexão genuína que nossas almas partilhavam no momento. Porquê ele só parecia tão cômodo. Ele simplesmente tinha aceitado todas as merdas e só.

Aquilo me desconfortava.

E mesmo que talvez eu estivesse colocando tudo que ele tinha planejado à falhar, agarrei seu bíceps e o arrastei para longe daquela música gospel repetitiva.

Quando paramos atrás da pista de skate, Harry permanecia com o semblante neutro e idiota do dia todo.

Eu agarrei seus ombros e puxei sua camisa com força para minha própria direção. Eu o queria tanto.

"Não faça isso."

Foda-se. O soltei num ímpeto, carregando minha bolsa estúpida e caminhando para fora do parque com raiva.

Me senti encolhido num mundo que talvez não fosse pra mim. Queria que Harry pudesse descrever essa sensação em uma das suas pinturas.

Pensei que ele fosse finalmente tocar meu ombro e esqueceríamos a ambiguidade das minhas ações, mas ele só virou a esquina contrária do caminho que eu seguia de cabeça baixa e me deixou lá, com todos os pensamentos sufocantes perdurando meu cérebro.