um temor deplorável

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"Eu não consigo te compreender." Louis dissera, observando a forma como Harry mantinha o desenho virado na própria direção, como se fosse algo sigiloso e pertencente à somente ele.

Ele queria dizer sobre os papéis, queria questionar todas as posições em que o garoto de olhos verdes o colocava por puro capricho, queria entender como toda aquela situação parecia martelar seu coração.

"Algumas pessoas não podem ser compreendidas."

Louis piscou, enquanto assentia lentamente, concordando consigo mesmo que sim, Harry estava se comunicando com ele, ali e agora.

Talvez ele estivesse a demorar muito para fechar todas as pontas desse empecilho. Quer dizer, Harry o arrastou para uma salinha afim de pinta-lo em um quadro - isso era quase como um tipo de anseio utópico que estaria preso no fundo do seu mais intenso devaneio. Era praticamente o mais perto que estiveram sem a influência de narcóticos.

"Eu posso ver?" Ele pergunta, medindo às poucas palavras enquanto assistia Harry hesitar, movendo a peça devagar em sua direção.

Ficara grandioso. O rosto de Louis mantinha pequenos tons de bege e marrom pela extensão e suas costas nuas brilhavam no sol. A cadeira de madeira foi substituída por um banco muito mais melancólico, surtindo um efeito mais dramático á pose. O âmbito da obra era como um quarto vazio e cinza, com apenas as luzes da cortina da janela se reluzindo e iluminando o corpo de Louis. Ele parecia tão real, tão cru em sua essência. Os olhos deles continham pequenos feixes brilhantes quase imperceptíveis, mantendo suas íris azuis ainda mais destacadas.

Não era perfeito, mas ainda promissor.

A forma como o rosto de Harry se avermelhava como se tivesse cortado pequenos pedaços de morango e passado no rosto deixava Louis absorto nesse pequeno mundo particular e inventado que criara. Quer dizer, talvez aquele sorrisinho ruborizado poderia realmente ter sido direcionado à ele.

Entre todas as alternativas de respostas que poderiam ser consideradas ali, sobre como tudo aquilo tinha chegado naquela proporção, a mais chamativa delas continha uma certa necessidade urgente de os mostrar como tudo aquilo poderia ser errado, sabe, era tudo só tão malditamente errado. E eles mal tinham feito algo.

O caso mais mínimo ainda era o mais alarmante quando se colocado em situações como aquela.

Mesmo que Louis perguntasse a si mesmo qual era o motivo de tanta aflição, seu peito ainda doía sem sequer elaborar uma conclusão viável. Ele não fazia ideia do porquê seu estômago se agitava tanto com tão pouco, mas ainda o fazia. Aquele mar borbulhante de ácido borboleteava por sua barriga e ele não conseguia explicar o porquê.

Harry parecia ter o mesmo ponto de interrogação no rosto, como se o medo pudesse ser, de repente, material.

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