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Estava deitado na cama, esparramado entre os lençóis. As minhas pernas estavam cobertas, não só pelas calças, como pelas próprias cobertas, enquanto o meu tronco estava desnudo, totalmente livre de qualquer tecido que o pudesse cobrir.

A janela estava aberta e os estores levantados, o que me permitia encher-me das luzes da cidade, tão lindas quando vistas de um apartamento localizado a uma boa altura como o meu, onde me encontro.

A brisa noturna soprava-me no rosto e os meus cabelos moviam-se por esta mesma razão, vez ou outra. Mas que boa ideia teria sido a minha de deixar a cama mesmo ao lado da janela, caso contrário, não me sentiria tão em paz quanto me sinto agora.

Por momentos, fecho os olhos, e tento afastar de dentro da minha cabeça qualquer ruído, bom ou mau, porque acho que instantes como estes foram feitos para se viverem em silêncio.

Uma vez estando deitado de barriga para cima, virei-me na cama, para ficar de lado. Inclinado para o da janela, através da qual a beleza me inundava o corpo todo. Deixo-me ser levado por este sentimento bom depois de tanto stress no trabalho, mais cedo.

Tudo o que importa agora são os carros, as estradas, os prédios, as ruas, as luzes, o céu, a Lua e as estrelas... até uma luz fraca embater na janela e me tirar do meu estado de relaxamento extremo.

Trata-se da pouca iluminação vinda do hall de entrada, que viajara pelo corredor, e chegara ao meu quarto com muito menos potência do que a que realmente tem.

Ouço-o fechar a porta da rua, descalçar os sapatos, deixar a mala à porta. Viu, provavelmente, todas as luzes apagadas e, como sabe do meu hábito de ficar assim, deitado quando escurece, evitou fazer mais barulho, ou pelo menos, trazê-lo para o quarto.

Os seus passos ecoam ao longo da casa e, já com a luz do hall apagada, perco-o de vista até escutar o cinto das calças.

Não me mexi, porque conhecia bem a sua rotina. Trocar de roupa, dirigir-se à casa de banho para tomar banho e tudo o resto, enquanto eu continuava deitado, a ver os carros, a fechar os olhos ocasionalmente, a deliciar-me com a brisa doce a bater-me na cara.

A certo ponto, deixo de prestar atenção a tudo o resto, e é nesse momento que volto a escutar os seus passos perto de mim, e me viro de barriga para cima para o receber. Deita-se ao meu lado sem dizer uma palavra, e enrola-se nos lençóis até que me aproximo dele. Sem pedir, encaixa-se a mim e ficamos deitados, sempre para o lado da janela, as suas pernas enroladas nas minhas, e o seu peitoral colado nas minhas costas, com exceção dos momentos em que apoia o peso do tronco num braço só para se debruçar sobre mim.

Com toda aquela calma e gentileza que apenas nele encontro, toca-me o rosto e sorri-me, iluminado pela luz fraca que perdura da rua.

– Olá. – digo-lhe, finalmente, num tom baixo, mas suficientemente alto para que ele me ouvisse.

– Olá, meu amor.

Entretanto, viro-me para ele, abraço-o com carinho e, quando me apercebo, troquei a beleza da noite pelo seu corpo morno.

– Hoje foi difícil? – pergunta-me e, desta vez, sou eu quem sorri. Os meus olhos focados nos seus, mesmo que estejamos praticamente às escuras, e assinto num suspiro fraco. – Não importa. Estamos aqui, hm?

Toco-lhe, com os dedos, os cabelos húmidos, a bochecha suave, o queixo bonito e os seus lábios macios. Faço-lhe o mesmo novamente, mas com os meus.

Tocamo-nos incansavelmente, até se tornar visível, em ambos os nossos rostos, a vontade manhosa de dormir juntos por umas horas. Em meio a breves despertares durante a noite que nos rendem beijos, abrires e fechares da tão famosa janela, saltinhos à cozinha e mais beijos, os nossos preferidos.

Afinal, quando o dia acaba, que acabe sempre na melhor companhia.

– Doyoung. – chamo-o, baixinho, de súbito envergando os mesmos olhos molhados dos últimos meses.

– Diz-me, Jungwoo.

– Tenho muitas saudades tuas.

E ouço-lhe a resposta, entre as tantas memórias e noites como estas que aqui partilhámos, nesta cidade, neste apartamento, nesta cama.

E vejo-o brilhar onde algures antes observava com amor, e que se multiplicou desde que ele se mudou para entre as estrelas do céu bonito deste mundo que, um dia, foi nosso.

Recordo-te, Doyoung, segundo dono deste mundo, como um ser paciente. Recordo-te paciente o suficiente para afastares de mim todos os resquícios de preocupações que me enchiam a cabeça todos os dias mesmo também estando cansado das tuas.

Recordo-te lindo, afetuoso como tudo. Guardaste em ti todo o afeto do universo como se tivesses, dentro de ti, todas as estrelas e estrelinhas que ainda brilham acima de mim. E recordo-te brilhante. Muito mais brilhante que elas.

⌕ dowoo shorts ๑Onde histórias criam vida. Descubra agora