Capítulo 02

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Maggie estava a caminho no automóvel de um amigo de universidade, Shawn e Beth haviam saído com a desculpa de buscar flores silvestres, quando na verdade, Shawn havia escapulido para festejar e Beth voltado furtivamente para seu quarto e adormecido. Em algum momento, Otis e Patrícia, - amigos próximos de Hershel e Annette. – haviam chegando e começado a ajudar na preparação.
 
Horas se passaram, e Shawn e Beth já deveriam ter voltado, assim como a chegada de Maggie já deveria está próxima.
 
“Shawn e Beth ainda não voltaram?” Otis perguntou após vê a óbvia preocupação no rosto de Hershel que olhava na direção do bosque.
 
“Não.” Respondeu o pai, mostrando certo descontentamento na voz, disfarçando a clara preocupação que tinha com sua caçula.
 
“Eu vou ligar pra Maggie e vê quanto ela ainda vai demorar.. Depois se Shawn e Beth ainda não tiverem retornado, eu vou atrás deles querido.” Annette confortou seu marido.
 
A sugestão de Annette para a solução daquele momento conflitante que Hershel estava o fez concordar e entrar, sendo seguido pela mulher que logo pegou seu tele móvel e discou o número de Maggie, escutando o som do toque.
 
Como residentes do campo, os adultos presentes estavam pouco acostumados com a tecnologia dos celulares portáteis, e nem mesmo queria proximidade com aquela coisa que poderia ter relação com o conhecido ‘capeta', mas com Maggie indo estudar longe de casa, o aparelho se mostrou como bastante utilidade, uma vez que poderiam entrar rapidamente em contato com seu ente querido.
 
[Alô?]
 
A voz  de Maggie fez Annette soltar um suspiro, acompanhado de um sorriso de conforto para Hershel, como sinal de que sua filha estava bem.
 
“Alô, querida, eu liguei por que seu pai está a todo nervo aqui, preocupado se está tudo indo bem em seu retorno..”
 
[Ah, Annette! Eu não diria que está exatamente bem..]
 
A voz meio robótica de Maggie soando no viva voz do aparelho atraiu a atenção de Hershel que antes fingia ler o jornal. Ele sabia que diferente de Beth, Maggie ainda não conseguia chamar Annette de Mãe, mas seu foco não foi naquilo.
 
“Como assim não esta ‘exatamente bem', Maggie?” A voz nervosa de Hershel foi ouvida do outro lado da linha.
 
[Esta no viva voz.. ] A voz surpresa foi ouvida, um pouco mais abafada, como se Maggie tivesse se afastado brevemente do aparelho. [Então, eu estou bem, mas o caminho não está, sabe?]
 
Mesmo com a tentativa de explicação de Maggie, os quatro presente ali ainda se encontravam confusos.
 
[Haa, o rádio, vocês devem ter escutado, essa manhã, falou sobre uma doença que faz as pessoas perderem a sanidade e tal..]
 
“Sim, escutamos antes de ir pra missa..” Hershel confirmou.
 
[.. No caminho de volta, um dos meus amigos pediu pra deixar ele no hospital, por quê a mãe dele está aqui, só que as coisas aqui no hospital estão meio descontroladas, sabe?]
 
Silêncio no meio da tensão e preocupação irradiando na sala.
 
“..”
 
[Pai?]
 
“Você está no hospital agora?”
 
[Sim, as coisas estão meio caóticas aqui deste que alguns doentes atacaram alguns médicos.. Aham, e meu amigo meio que não está conseguindo entrar em contato com a família em Atlanta, por isso ele quer voltar, vou fazer o resto do percurso de volta a pé.]
 
“Volte para casa bem, Maggie.”
 
[Tudo bem pai, tchau, te amo.]
 
“Eu também te amo querida.”
 
Assim que a ligação foi encerrada, um silêncio se fez presente entre os quatro, que de alguma forma se sentiam estranhos após a ligação, e antes que Annette soltasse um suspiro e se pronunciasse para continuar com seu planejamento de ir atrás de Shawn e Beth, o seu celular tocou de novo, assustando uma Patrícia perdida em pensamentos e levando Hershel a direcionar seus olhos para Annette, como se quisesse perguntar se era Maggie novamente, e se fosse ela se tinha acontecido algo que a fez ligar novamente.
 
Todavia, Annette logo olhou pro tele móvel em mãos tocando e negou em um balançar de cabeça, franzindo as sobrancelhas em estranheza para com o numero da ligação recebida.
 
“Número desconhecido..” Annette disse, hesitando por mais alguns toques, até que enfim resolveu atender. “Alô?”
 
[Mãe! Ahhh mãe, graças a Deus a senhora atendeu!]
 
“Shawn?! O quê-.. Shawn? O que foi esse barulho de fundo?”
 
Os presentes na sala não poderiam olhar mais confusos para Annette, afinal era de conhecimento de que Hershel só havia comprado dois tele móveis, um para Maggie levar e outro para ficar em casa para entrar em contato com ela. Mas o fato de Shawn esta repentinamente com um celular e ligando para eles era a preocupação de Otis, Patrícia e Hershel. A preocupação de Annette era do barulho abafado que ela havia escutado durante a ligação muito semelhante a uma bombinha, mas a mulher tinha um bom ouvido e soube diferenciar o som de uma bombinha para o som de tiros que escutou, assim como a respiração ofegante de Shawn do outro lado da linha.
 
[Olha mãe, eu vou pedir milhões de desculpas quando voltar pra casa e vou te acompanhar aonde você quiser, mas antes de conversarmos sobre eu ter saído escondido pra farrear com uns amigos, você pode vir me buscar? Estou correndo em direção a avenida, as coisas tão meio caóticas por aqui.. Por favor, vem logo!]
 
“..”
 
A ligação foi encerrada antes que uma Annette tremula dissesse qualquer coisa, um mal pressentimento a consumia enquanto passava brevemente o olhar nos três presentes ali, parando o olhar nas chaves da picape presas no porta chaves ao lado da porta, seguindo em direção a elas, assim como seu agasalho.
 
“Shawn saiu escondido pra uma festa, Beth provavelmente não está com ele, eu vou busca-lo enquanto vocês verificam onde ela está.”
 
Sem esperar por respostas, a porta de entrada bateu e logo o som da picape sendo ligada e partindo foi escutada. Os quatro trocaram um breve olhar, se sentindo mais tensos com a situação antes de acenarem.
 
“Eu vou dar uma volta pelo bosque pra vê se a encontro por lá.” Hershel foi o primeiro a se pronunciar, pegando também seu agasalho e saindo de casa.
 
“Eu vou dar uma olhada no celeiro.. Lá tem bons esconderijos e já achei ela lá algumas vezes.” Otis foi o segundo a se pronunciar, dando um beijo na bochecha de sua esposa e logo saindo também.
 
Patrícia ainda ficou parada ali por alguns minutos, ainda digerindo as ultimas ligações e informações, até que enfim solta um suspiro. “Então vou dar uma olhada na casa..” Não falou para ninguém em especial, afinal só havia restado ela ali. Sinceramente falando, ela não esperava encontrar Beth em casa, estava procurando apenas para manter a mente ocupada enquanto estava ‘sozinha'.
 
. . . . .
 
Fazia quinze minutos desde que Annette começará a percorrer a avenida em uma velocidade menor, assim a permitindo olhar em volta e procurar avistar Shawn, seu filho, assim como também perceber que alguns carros passavam vez ou outra por ela, em alta velocidade e com bagagens suficiente para perceber que estavam de mudança. Alguns carros bem conhecidos por ela, outros nem tanto, e poucos que ela estava vendo pela primeira vez. Os minutos se passavam e Annette apenas ficava mais tensa, afinal ainda não avistara Shawn em canto nenhum nos últimos 20 km percorridos.
 
O décimo oitavo carro em alta velocidade já havia a cruzado fazia poucos minutos, quando finalmente avistou a figura distante de uma pessoa andando de forma lenta e abatida na beira da estrada. Com tanto medo de não ser Shawn, quanto esperança de finalmente o ter encontrado a levaram a acelerar e parar ao lado da pessoa, soltando um suspiro de alívio ao reconhecer o rosto de seu filho, saindo do carro onde deu a volta e o acolhendo em um abraço apertado, apenas para o soltar rapidamente ao ouvir a risada deste ser substituído por um grunhido de dor.
 
“Shawn o que- oh meu Deus..” Annette não conseguia acreditar que não percebeu o sangue sujo nas roupas de Shawn, assim como ele pressionando o lado direito inferior de seu abdômen, onde provavelmente haveria um ferimento, e pelo sangue fresco, parecia feio! “Precisamos te levar ao hospital agora!”
 
“Não! O hospital logo não será seguro também!”
 
A fala de Shawn calou Annette, que ficou encarando seu filho sem saber o que fazer. Não era médica, mas tinha certeza de que Shawn precisava de atendimento médico o mais rápido.
 
“Então o quê..”
 
“Casa.. Temos que ir pra casa. Eu posso te contar no caminho. É apenas um tiro, Hershel- papai pode cuidar disso.”
 
Annette queria discutir e insistir para Shawn irem para o hospital, mas pela primeira vez seu filho havia reconhecido seu padrasto como pai, junto com um leve sorriso a fez aceitar.
 
“Tudo bem.. Tudo bem!”
 
Se virou e abriu a porta do passageiro, logo voltando e apoiando o corpo de Shawn no seu, o guiando até o interior do carro, logo correndo para dar a volta no carro uma vez que este estava dentro com o cinto e porta devidamente fechada, também entrando e sem se preocupar com o cinto, fechou a porta e girou a chave, começando a dar o retorno no carro.
 
Se as mãos de Annette não estivessem apertadas desnecessariamente no volante, estariam tremendo, e Shawn percebeu isso. Alguns momentos de silêncio na estrada, escutando apenas a respiração que Annette tentava controlar para não parecer tão desesperada, e alguns grunhidos contidos de Shawn, tornou a viagem bem desconfortável.
 
Annette vez ou outra desviava o olhar da estrada para encarar o filho, percebendo esse cada vez mais pálido pela perda de sangue, que já manchara o banco e ela suspeitava que o piso do carro também. A tez pálida, junto com o suor frio que se acumulava na testa de Shawn porém, a deixou mais tensa e a fez pisar no acelerador sem dó, tornando a viagem turbulenta.
 
Sem perceber, a turbulência piorou a situação.
 
“Sabe.. Eu realmente queria ir pra essa festa..” Shawn começou a divagar, dando voz a seus pensamentos.
 
Annette não respondeu sua divagação, estava brava por ele a ter a desobedecido e ido na festa que ela o falara pra não ir. A falta de resposta de sua mãe não pareceu desanimar Shawn.
 
“Era uma festa de despedida.. Henry iria amanhã para a universidade em Atlanta.. Bem, ia.. Sim..”
 
Annette percebeu a voz de Shawn se tornando vacilante e fez uma careta, dando outra olhada nele, apenas para vê os olhos e nariz de seu filho vermelhos, olhando fixamente pra estrada enquanto mordia o punho fechado, como uma forma de segurar o choro. Era a segunda vez que via seu filho tão abalado, e a primeira foi quando a notícia de que seu pai havia morrido.. Annette percebeu que algo estava errado. Shawn nunca ficaria naquela situação por ela ter a proibido de ir na festa de despedida de seu melhor amigo - quem ela dizia ser má companhia.
 
“Shawn, o que aconteceu realmente?”
 
Escutando finalmente a voz de sua mãe o indagando aquilo, pareceu o gatilho para as lágrimas finalmente caírem de seus olhos como uma represa quebrada enquanto Shawn balançada freneticamente a cabeça de um lado para o outro, como se não aceitasse as lembranças do acontecimento.
 
“Eu.. Eu não entendo! Estava tudo bem, sabe? Era só uma festa de despedida, tinha bebida, tinha música e tinha gente.. Muita gente! Muita mesmo..” Parando neste ponto, Shawn mordeu a mão trêmula enquanto se lembrava de tudo. “tinha tanta gente e.. Eu sabia que nem todo mundo conhecia todo mundo ali, mas todos conheciam Henry, e todos estavam apenas.. Se divertindo.. Mesmo não se conhecendo!”
 
Annette olhou brevemente para o filho quando sentiu o olhar deste em si, entendendo que este queria saber se ela estava compreendendo a situação até ali, uma tentativa de a mostrar que Henry não era uma má companhia realmente, mas Annette logo desviou o olhar, se negando em concordar, afinal já havia visto como o rapaz se vestia, e como andava armado com um calibre 38. Shawn soltou um suspiro vendo que não conseguiu.
 
“Estava tudo bem, cada vez mais gente estranha chegava, e o lugar já abafado.. Eu estava em cima de uma vá bebendo com Henry, apenas rindo de algumas trapalhadas que avistávamos.. Mas de repente, percebemos um grupo de pessoas com um olhar estranho e sujas de sangue chegando.. Mãe.. Ninguém mais os percebeu porquê estavam bêbados, drogados ou imersos demais no balanço da música.. Aquele grupo de pessoas.. Eu e Henry sabíamos que eram problema e nos levantamos.. Trocamos apenas um olhar rápido pra discutir sobre os recém chegados quando gritos foram ouvidos.. Mãe eu..”
 
Shawn ficou em silêncio, e Annette teve de desviar novamente o olhar da estrada para seu filho, percebendo que este voltará a morder o punho, mas desta vez ao ponto de sangra.
 
“Shawn pare com isso! Esta se machucado!” mesmo com a ordem de Annette, Shawn parecia não à escutar, assim a forçando a parar o carro e puxar a mão deste da boca e o fazer olhar para ela. “Olhe para mim e me diga tudo, certo? Esta tudo bem agora e vai ficar tudo bem..”
 
Em qualquer outro momento, Shawn teria acreditado no que sua mãe havia dito, assim como no conforto e segurança que sentia ao lado dela, mas naquele momento, depois do que viu e ouviu, tudo que conseguiu fazer foi deixar mais lágrimas caírem enquanto balançada a cabeça em negação.
 
“Não mãe.. Não vai ficar tudo bem.. Não vai..”

Sonhos Para Um Próximo Futuro - Beth GreeneOnde histórias criam vida. Descubra agora