VIII

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Dois meses depois do verão dos dezessete

Cole

-Qual sabor de suco você quer?- Lauren me perguntava encarando concentradamente a prateleira do supermercado.

-O de uva? Não sei, qual você achar melhor.- Te respondi agora também encarando a prateleira.

-Então o de uva.

-Devemos escolher algumas uvas também, para ser um piquenique completo.- Era uma das primeiras vezes que você conseguia sair de casa depois da morte de sua tia.

Uma semana depois do enterro você não falava muito e muito menos comia direito. Eu levava algumas frutas, e minha mãe sempre fazia sopas para você comer e ter forças para aguentar o dia seguinte.

-Cole, iremos para o bosque das flores, certo?- Você perguntou enquanto entrava no carro.

-Claro, é o seu lugar preferido e eu já preparei tudo.- O bosque das flores era algo que você havia descoberto com seus 8 anos, e desde então ia sempre para lá brincar.


Aproveitamos o dia ensolarado que ainda nos restava e decidimos que seria o momento perfeito para um piquenique.

Nada com a Lauren era apenas um simples momento. Tudo era mágico e feliz, a sua gargalhada e o seu olhar eram minhas doses diárias de felicidade, você Lauren, era o que eu entendia como vida.

Mas como eu viveria a vida com você, se você desistia do seu próprio eu? Sabia que você precisaria de muito mais tempo para entender que ela tinha ido, sabia que cada momento do seu lado era importante para tentar trazer ar aos seus pulmões, por que a cada segundo parecia que você não se importava mais em puxar o ar e continuar respirando. Eu só queria te fazer brilhar.

-Cole.- Sua doce voz me chamou enquanto retirava as comidas da cesta.- Estava pensando em mudar um pouco.

-Mudar um pouco? Como assim?- Levantei a cabeça te encarando sem entender.

-Não sei, sinto que preciso de alguma coisa nova para focar.

-Mudar o cabelo ou algo assim ou simplesmente um hobby?- Tentei sugerir alguma coisa para levar a conversa a um lugar compreensível.

-Talvez o cabelo seja uma boa ideia, tem algum tempo que não mudo o corte ou faço algo de diferente.- Você concluiu mas ainda parecia longe de se compreender.- Ou talvez um hobby, como natação? Eu gosto da água, talvez me faria bem.

-Eu apoio tudo que te fizer bem.- Depositei um beijo em sua testa.- Fale o dia que te levo para o salão, e sobre a natação podemos tentar com o clube? .- Você assentiu a cabeça em aprovação.

A sua felicidade era tão importante que eu começava a esquecer da minha. Ignorava o meu corpo pedindo ajuda e demonstrando sinais de fraqueza, porque na minha história o seu nome era o único que importava. Não que você não se importasse comigo, pelo contrário, você era perfeita, me dava a atenção necessária e mesmo em cacos cuidava de mim com tamanha minuciosidade que era impossível de reclamar. Mas talvez por você estar despedaçada e eu estando preocupado demais em juntar os seus cacos eu esqueci do ar que eu também respirava. 

Quando éramos o mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora