Quando éramos o mundo

XI

Duas semanas depois, no alto do nosso prédio

Cole

Era inacreditável. Eu só te fiz reviver o seu trauma. Lá no fundo eu sabia que não daria certo.

A desgraçada da família Di Laurentiis tinha dinheiro, e porra eu sabia que era muito dinheiro. Nesse mundo eles resolvem assim. Tiram o brilho da vida de uma doce menina e pagam para que outros possam continuar encobrindo suas merdas.

Eu sabia Lauren, minha mãe me avisou. Teria sido melhor se eu tivesse lutado com as minhas próprias mãos? Talvez teria sido. Duas semanas depois do mandato ter chegado na porta da família Di Laurentiis, o Carlos não estava mais na cidade. E ninguém sabia o por que dele ter fugido no meio do semestre de aulas, ninguém sabia.

Eu não podia simplesmente contar para todo mundo sobre as merdas dele. Isso era sobre você, era sobre sua dor.

Depois de alguns dias, quando você e a Tina voltaram a se falar, você pensou que seria bom compartilhar isso com ela, afinal eram amigas a mais de sete anos. Mas ela não entendeu o tamanho da situação, decidiu acreditar que não passava de uma simples conversa e que naquele instante você não tinha derramado para ela as palavras que contavam a história que mais te doía.

Eu a odiava, era simplesmente uma das piores pessoas que apareceu na sua vida. Eu ficava incrédulo enquanto você contava a maneira que ela te rejeitou, a maneira que ela parecia sorrir no final de cada uma de suas frases. Ela pareceu gostar do seu sofrimento, como se ela esperasse esse momento. A inveja a corroeu, destruiu uma amizade de quase uma década. Não foi só a inveja, ela era maldosa por natureza.

Enquanto você chorava nos meus braços, as luzes que acompanhavam seu rosto todas as noites pareciam tristes. De alguma forma, elas demonstravam suas condolências e eu as acompanhava.

-Eu vou continuar lutando por você Lauren- Eu repetia contra seus cabelos sedosos.- Eu não vou desistir.

-Cole.- Sua voz embargada pedia minha atenção - Eu não quero que você faça mais nada. Eu só quero tentar esquecer.

-Lauren, por favor não me peça para parar de lutar. Eu preciso descobrir em que país ele se meteu e trazer ele para cadeia.

-Cole você não enxerga que nosso esforço não vai levar em canto nenhum? Nem se isso tomasse uma proporção nacional Cole, eles não fariam nada por mim.- Você estava tão cansada. - Eu não posso mais continuar vivendo assim Cole, eu não consigo reunir forças para lutar.

-Por isso eu vou lutar por você - Eu falava derrotado.

-Mas eu não quero, não são as suas vontades, são as minhas. Você sabe quantas meninas passaram por essa situação e não tiveram nenhuma ajuda jurídica Cole? Praticamente todas. Eu sou mulher Cole, filha de imigrantes em um país de sistema claramente patriarcal. Eu quero lutar, mas não dá para continuar sabendo que já perdi essa luta.- Agora era a sua voz que parecia firme e derrotada.

-Eu admiro tanto a sua força meu amor- Selei nossos lábios rapidamente.- Eu não vou tentar mais nada se é isso que você deseja, mas eu acho que podemos procurar alguma ajuda psicológica, se você quiser tentar dessa maneira, um profissional te ajudaria. Não sei as maneiras corretas para te ajudar.

-Eu não quero ajuda- Você deitou a cabeça no meu ombro enquanto admirava as luzes da cidade.

-Lauren, por favor, pelo menos isso. Vamos tentar- Eu falei quase implorando.

-Vai ser muito cansativo- Você falou em tom de derrota.

-Mas temos que tentar. Me promete que você irá tentar?- Eu só precisava de suas palavras para me dar esperanças.

E você me prometeu. Prometeu que tentaria, que agora seríamos uma só mente lutando pela sobrevivência.

Você me prometeu.