Péssima madrugada

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Eram por volta das três e quarenta e duas da manhã, quando Seungcheol tentava a todo custo pegar no sono.

Já havia tentado conversar com o universo várias vezes naquela péssima madrugada, agradecido por seu dia e pedia desesperadamente para pegar no sono e assim não ficar que nem um zumbi na aula. Por mais que estudasse a tarde, sempre ficava cansado enquanto estudava. Era um verdadeiro inferno.

Sentia o coração estranho, acelerado. Sabia que ele batia normal, mas quando colocava a mão em sua pulsação do pescoço, podia sentir os movimentos mais lentos que o normal, e isso fazia uma corrente de calor derivado da angústia e medo tomar seu corpo e a respiração fraquejar. Não tinha mais volta, já sentia o medo de morrer consumir seu corpo, e a certeza de que sua hora havia chegado lhe cegar a consciência.

A fadiga veio, e com ela, o desespero. Já, já as lágrimas começariam a escorrer por seu rosto e uma crise de ansiedade, que mais tarde se tornaria pânico, se iniciaria como quase todos os dias.

O Choi se segurava, queria acalmar sua crise sem precisar acordar o namorado uma hora daquelas, mas parecia impossível. Sabia que não conseguiria, mas mesmo assim, teimava consigo mesmo. Queria se mostrar capaz de algo que já havia fracassado.

Aquelas crises eram frequentes, mas só aconteciam a noite. Ele passava o dia todo bem, sorridente, animado. Mas a noite era seu pior pesadelo. Sentia pavor quando via o céu aos poucos ir escurecendo e lembrando que mais tarde teria que dormir. Ou melhor, não dormir.

Era uma desgraça, um inferno em sua vida. Atrapalhava todo desempenho do rapaz, que sequer sabia o que fazer. Não tinha dinheiro para pagar psicólogos e muito menos permissão dos pais, que que o seu alegava que ele não havia motivo para ter aquelas crises. Dizia não aceitar o filho sofrer de tal enfermo.

Tentou respirar fundo várias e várias vezes, mas não obteve sucesso, como sempre. Era um verdadeiro fracassado.

Já cansado de lutar, pegou por fim o celular e com os dedos trêmulos e a mão no peito, se certificando de que não teria um infarto, ligou para Jeonghan, seu remédio para tudo.

O rapaz de madeixas médias estava dormindo num sono leve, quando de repente, acordou assustado com o som alto do celular tocando. Esfregou os olhos e atendeu a chamada, nem se dando o trabalho de ler o nome do contato. Apenas se jogou na cama com o celular no ouvido e voltou a fechar os olhos.

-- Alô? - Perguntou com a voz rouca pelo sono.

Seungcheol sorriu fraquinho e fungou. Apenas aquilo já fez o rapaz sentir uma paz invadir um terço de seu coração.

Já o efeito foi contrário para Jeonghan, quando o mesmo ouviu um "Hannie" choroso do outro lado da linha. Abriu os olhos de uma vez e se sentou de forma rápida na cama, já sentindo as mãos tremerem.

-- Cheollie, meu amor... - Disse baixinho e calmo, já se levantando da cama e indo até o guarda-roupa.

O namorado nem precisou explicar para que o Yoon já soubesse do que se tratava.

-- Hannie, eu 'tô tão cansado... - Escutou-o murmurar com a voz embargada.

-- Meu bem, fica calminho, ok? - Pediu tentando ser o mais pacífico que conseguia, enquanto pegava desesperadamente qualquer peça de roupa para sair de casa naquele frio. -- Eu estou chegando, viu? Fica tranquilo. - Continuou, deixando o celular do viva-voz, enquanto vestia rapidamente as peças de roupa, sequer se importando se elas estavam do avesso ou não.

Avisou ao namorado que desligaria a chamada para sair de casa, e minutos depois só se podia escutar os passos desesperados do Yoon pela rua. Que corria em puro desespero até a casa do Choi, que por sorte não ficava tão longe assim.

As pernas estavam bambas, e a preocupação no peito deixava-o quase cego. Por sorte não passava carro algum naquela hora, caso contrário, seria atropelado, já que estava escuro e ainda usava roupas pretas. Se não fosse por seu cabelo colorido, que chamava muita atenção, sem dúvidas poderia se camuflar em algum beco escuro e cometer um assalto.

Já Seungcheol ficou sentado na cama, respirando fundo e tentando se acalmar, enquanto esperava o namorado chegar.

Não pôde explicar a sensação de alívio que sentiu quando leu a mensagem pela barra de notificação:

"Hannie🌻: Pode descer, Cheol."
"Hannie🌻: Eu estou te esperando aqui na calçada. Em frente a tua casa."

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