O Começo (parte 4)

7 1 1
                                    

...porcos, seus olhos recheados de tristeza por serem abatidos, sua pele ilesa, não tinha nem cheiro de bicho morto e todos eles estavam impecáveis, pareciam que tinham morrido a apenas alguns dias e não há 30 anos.
— Viu, te falei que ficaria assustado Koster.— Mas como eles estão tão conservados?— Aí que você entra, talvez tenhamos o primeiro caso de algo sobrenatural registrado de verdade!— Calma Wesley, vamos devagar. Possivelmente alguém enterrou eles aí a pouco tempo.— Olhe a sua volta Kaká, e vê se tem algum pedaço de chão revirado, o solo está intacto meu amigo, aposto, que se cavarmos com a retro, vamos encontrar uma centena deles.— Quando acharam isso?— Tem dois dias, a quase 300 anos atrás aqui era um cemitério, quem estava pilotando a máquina sabia disso, saiu correndo, dizendo que era mau agouro. O pai do dono do abatedouro morreu um dia depois do achado.— Não tem nada de mais, vamos tirar uma amostra e ver a quanto tempo estão aí.— Eu já adiantei, estou com o laudo aqui na minha mão, leia você mesmo.— Não é possível, diz aqui que pelo laudo os porcos têm mais de 30 anos!— Falei que era algo assustador, a mídia vai estar em breve aqui e já pensou se cai no ouvido da população, logo tudo se tornará uma confusão sem precedentes, você precisa me ajudar, o mais rápido possível Koster.— Como pode ser, eu não sei, mas vamos dar um jeito, eu preciso comer estou faminto.— Vamos até à cidade comer algo e voltaremos logo.
Minha barriga ronca como o motor do meu carro, que voa pelas estradas de chão de Lomba Grande.Volto para a cidade seguindo Wesley, paramos para almoçar na churrascaria O Fim do Touro, um garçom muito gentil nos traz o cardápio e nos pergunta se é nossa primeira vez lá, eu digo que sim, explicando cada item do menu, o simpático rapaz nos dá sugestões do que pedir.Quando chegou a refeição que escolhemos, minha surpresa foi grande, tínhamos um verdadeiro banquete, por um preço bem em conta, comemos um arroz soltinho acompanhado de batatas fritas sequinhas, bifes bem saborosos e temperados, um feijão de dar água na boca, salada de alface com tomate e suco de uva para matar a sede, uma comida de excelente qualidade, vou indicar a todos.De volta ao trabalho, passei em casa para pegar a câmera, fomos para a fazenda, precisava olhar com mais calma as cercanias do lugar, minha mente era um labirinto de dúvidas, parecia que tínhamos todas as respostas para tudo, mas nenhuma delas levava a minha resposta. Por que aqueles porcos depois de 30 anos enterrados ainda estavam tão conservados? Como eles podiam estar naquelas condições sem nenhum processo de decomposição? Algo me fugia aos olhos, ficava uma lacuna em minha mente, precisava de respostas lógicas para esse caso. Aquela estancia era maravilhosa e linda, uma combinação de cores entre o azul límpido do céu, o amarelo do sol e o verde da grama, tudo deixava o perímetro onde meus olhos tocavam um cartão postal.— Vai ficar apreciando a beleza até quando Koster?— Se você não sabe, estou trabalhando.— Preciso de respostas rápidas, depois voltaremos aqui para você registar as suas fotos.— Tudo bem Wesley, o que mais você tem a dizer sobre a fazenda? Tente se lembrar de tudo.— Rapaz, isso é meio difícil, essa fazenda já foi tanta coisa.— Tanta coisa como?— Foi depósito de materiais, uma fábrica, granja e abatedouro.— E porque a granja fechou mesmo?— A vigilância sanitária encontrou um grande número de materiais estocados de forma errada, o antigo dono era bem displicente com as condutas e regras de meio ambiente. O velho Hoffman era um alemão bem cabeça dura, trabalhou desde muito jovem e todo dinheiro que ganhava acabava investindo, comprou as terras e a fazenda do seu antigo chefe, investiu em uma fábrica de produtos para fazer corantes e químicos para curtir o couro, ele ganhou muito dinheiro e seu declínio se deu a partir daí, com a febre do calçado na região, vários outros empresários de visão começaram a navegar nas águas da fabricação de calçados e com eles o couro era a grande matéria prima. O velho era muito competitivo e não gostava de ficar atrás de ninguém, estava sempre a frente de tudo e sabia que o couro que ele precisava vinha do gado, ampliou a fazenda e a criação de gado e porcos, começou a fazer uns experimentos na alimentação dos animais, e em uma visita da vigilância encontraram galões de arsênio, carbonato de sódio, sulfato de sódio entre outros, tudo estava armazenado de forma irregular e os animais ficavam expostos a todos esses materiais tóxicos. A vigilância ficou horrorizada, fechou tudo e mandou sacrificar os animais.
— E porque não me disse isso antes Wesley?— Era importante?— Sim, tenho uma pista do que pode ter acontecido, tem algum material desse em estoque?— Tem um velho galpão, que também se guarda um pouco desse material.
As coisas agora faziam sentido, tenho uma pista do que pode ter acontecido aos porcos. Olhando bem no galpão vi um galão, nele apareciam as iniciais NaHCO₃ era tudo que eu precisava.
— Está vendo isso aqui Wesley, era o que eu precisava, sabe o que é isso?— Não faço ideia.— É bicarbonato de sódio, é usado para alimentação de gado, ele controla o PH dos ruminantes e auxilia na eficiência das bactérias ruminais. Essa era a chave que eu precisava, está vendo aqueles sacos ali, são sal de cozinha. Bingo, já temos a resposta!— Que resposta é Koster?— Simples Wesley, o solo está cheio de natrão.— E o que é isso?— Natrão é um composto mineral formado por bicarbonato de sódio, sulfato de sódio, carbonato de sódio e sal, ele era usado pelos egípcios para mumificação e ainda temos o arsênio. Temos vários elementos que são usados em mumificação e está aí a resposta dos porcos, passe a mão sobre a pastagem que os bois comem, está cheio de sal, pecuaristas fazem isso. Tire um pedaço do solo e leve para o laboratório para confirmar, mas não há dúvida, todos os elementos somados fizeram do terreno um lugar perfeito para a mumificação, acaba aqui o meu trabalho.— O de hoje Koster, nos encontraremos em breve para novos casos.
Alguns dias depois chegou o laudo do solo, que constatou que ele estava rico em natrão o que fazia qualquer coisa que fosse enterrado ali se manter com o aspecto de algo vivo e conservado.
FIM... (Parte 4/4)

Contos de Novo HamburgoOnde histórias criam vida. Descubra agora