04 - Uma velha dor para um nova perda

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Olho para Diego e Kira que gargalham — É sério isso, acabamos de perder a maioria dos nossos amigos, e vocês estão brigando por quarto? Mano vocês são tão zuados

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Olho para Diego e Kira que gargalham — É sério isso, acabamos de perder a maioria dos nossos amigos, e vocês estão brigando por quarto? Mano vocês são tão zuados.

As palavras saem da minha boca com tanta facilidade que me sinto leve, suspiro profundamente. A porta do elevador abre, eu entro, e os dois entram logo atrás, subimos para os quartos em total silêncio.

Nossas famílias nos esperam no corredor dos vencedores com uma grande salva de palmas, cada um recebe sua chave.

— Esse aqui é o quarto, falei com meu pai bem antes da batalha — Fala Kira em um tom suave, mas que demonstra um certo receio, ela passa o cartão na tranca da porta, e entra em disparado.

O silêncio ainda toma conta de nós três, me sinto mal agora que merda, acabei de deixar as duas pessoas que mais amo na maior bad, eles tem todo o direito de comemorar é lógico, são vencedores. Lembro de quando ainda éramos crianças, sempre falávamos sobre vencer a última prova, de como iríamos aproveitar os quartos dos caçadores, e a festa de recebimento da marca, éramos sempre nos três juntos, e agora o clima tá tão pesado que dá ate medo de falar. Não posso deixar que o dia mais esperado de nossas vidas termine assim.

— Ei, olha só o tamanho dessa cama
Me jogo, esfregando meus braços no lençol de ceda, tento quebrar o silêncio, mas os dois ainda permanecem calados.

— Aposto que tem banheira — Olho para Kira e Diego, esboço um sorriso no rosto e continuou — Quem chegar por último vai ter que puxar a peruca do Presidente Ulisses

Kira cruza os braços e diz — Cara de novo essa? Ele é  meu pai!

Em questão de segundos estamos os três correndo na direção da porta do banheiro.

Fala sério, eu sempre perco e sempre me lamento, mas estamos sorrindo de boa novamente, é isso o que importa.

Kira senta no chão e diz — Eu sei que... a gente não devia estar comemorando, crescemos junto com todas aquelas pessoas, você tem razão. 

Diego põe a mão em meu ombro — É, nós perdemos nossos amigos, deveríamos estar de luto —

— Não! Eu que errei, nós vencemos; eu tenho certeza que os nossos amigos iriam querer nos ver assim, comemorando por vencer a batalha que a gente sonhou e se preparou desde a infância, passamos tanto tempo treinando pra isso, e não podemos comemorar? eu que tô errado pra caralho, e sou eu quem tenho que pedir desculpas.

— Amanhã é dia da saudação, e vamos manter nossa promessa de saímos daqui juntos pra caçar pelo mundo — eu falo enquanto ergo meu dedo mindinho.

— Eu não vejo a hora de isso acontecer — responde Kira juntando o dedo dela ao meu

— Sempre e para sempre e essa nossa  promessa nunca deve ser quebrada — Diego exclama levantando o seu dedo para se juntar com o de Kira e com o meu.

Estou tão cansado que nem consigo aproveitar todo todos os tipos de chocolates, e frutas que estão na mesa do quarto. A cama está me chamando, o grande lençol da cor vinho tão macio, e as almofadas tão fofinhas do mesmo tom me fazem adormecer em segundos.

Abro os olhos rapidamente, o quarto está tão escuro que não consigo enxergar nada. Nossa peguei no sono, só lembro de Diego falar alguma coisa sobre a roupa da festa de amanhã. Ligo a luz e Kira me joga uma almofada dizendo — Apaga isso pelo amor de Deus!

Acordo Diego, e imploro para que ele vá comigo até o refeitório pegar água — Sério, eu tô com tanto sono, leva a Kira — ele fala entre os dentes
Kira sussurra — Tô fora
— Por favor, gente sério, vamos? Por favor!
Depois de ser um completo chato e repetir a palavra por favor umas cem vezes, eles concordam

Minha boca está salivando por um gole de água, como que eles enchem isso de chocolate, mas não deixam uma garrafa de água se quer, a comissão da fundação está precisando de umas aulinhas. Descemos o elevador e vamos até o refeitório, eu nunca tinha andado por aqui nesse horário, tudo é tão calmo e escuro.

— Que barulho foi esse? Exclamo.
Retiro o que eu disse sobre ser calmo
— Eu não ouvi barulho nem um — murmura Diego
Kira anda se escorando em cada centímetro da parede — Eu tô com tanto sono, que quase não consigo me segurar em pé

Um som de porta batendo ecoa no corredor onde estamos  — Ouviram agora? Pergunto.
Começo a andar em direção ao barulho, Diego segura meu braço — Sério que você vai querer fazer isso? Solto um sorriso de canto e digo — Não vai me dizer que tá com medo? Você matou um monte de vampiro hoje meu filho, relaxa _
— Não deve ser nada, vai ver é só alguém do conselho trabalhando até tarde — acentuou Kira ainda escorada na parede.

A porta do escritório principal está fechada, mas por baixo dela é possível ver que a luz está acesa, tento entrar, mas parece que algo a impede de abrir, coloco um pouco mais de força, e ao entrar vejo um dos guardas virado de frente para a parede em pé em cima da bancada, olho pra Kira e Diego, eles fazem a mesma cara de espanto, Kira vira a cabeça em direção a porta e dá um grito e logo em seguida põe a mão na boca, antes de me virar em direção a Kira sinto um peso no ar flutuar sobre minha cabeça, ergo os olhos e a luz amarela e densa do lustre reflete nos quadros de todos os fundadores da F.C.N que estão pendurados na parede, me viro e outro guarda está caído encostado entre a porta na estante amadeirada de livros que fica de canto, era ele, ou melhor o corpo dele que nos impedia de abrir a porta.

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