03 - Adaga de Luz

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A multidão que nos assiste, grita em alvoroço

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A multidão que nos assiste, grita em alvoroço. A sensação de estar no meio da arena depois da batalha não é bem como pensei que me sentiria. Percorro meu olhar por todo o local, e só vejo dor e morte, vários amigos meus que conheci desde criança estão mortos, e as pessoas ainda estão comemorando?

  Apenas seis de vinte e oito alunos sobreviveram, isso não é assustador? Poderia ser eu entre os mortos. É tão estranho perceber isso só agora.

Só consigo pensar em como o meu pai se sentiria nesse momento, o que ele faria? Ele já passou por isso e assim talvez saberia o que dizer.

As vezes eu sonho com ele, antes era quase todos os dias, mas aí os anos passaram e os sonhos forem diminuindo. Quando eu percebo que esqueci. Como era a sua voz ou tom da sua risada eu corro para ver algumas fitas de vídeos que ele gravou quando eu ainda era um bebê. Passo horas olhando seus vídeos tem dias que quando me dou conta a noite já se foi e já é dia.

Não vejo a hora de encontrar quem o tirou de mim e simplesmente dar um fim em sua vida.

— Alan, Alan — Nunca tinha ouvido tantas pessoas chamarem meu nome ao mesmo tempo, isso é muito louco.

O muro que cercava a arena desce e some em baixo da terra, guardas e funcionários da fundação correm até nos, trazendo toalhas e limpando todo sangue que escorre em nossos rostos, eu quase não sinto o chão em meus pés, o som da multidão, e os abraços e sorrisos que Kira e Diego me dão, não são capazes de me fazer voltar para a realidade.

Esperei tanto por isso, pensei que me sentiria extraordinariamente feliz, mas sei lá, me sinto meio estranho.

Passo a toalha em meu rosto, enquanto andamos para a sede da fundação escoltados pelos guardas, todas as famílias de caçadores estão aqui, eles esticam as mãos para nos tocar, as crianças vibram e chamam pelos nossos nomes.

Um garotinho consegue passar pela barricada dos guardas e corri em minha direção, me assusto com seu impacto, olho para baixo, ele está abraçado em minhas pernas, passo à mão levemente em sua cabeça bagunçando todo seu cabelo, ele olha pra cima e fala

  —Um dia serei igual você.

Droga meus olhos estão cheios de lágrimas agora, me lembro de quando falei isso para o meu pai, eu queria tanto que ele estivesse aqui para me abraçar e dizer que esta orgulhoso de mim, eu queria tanto poder falar olhando nos olhos dele que eu consegui. Me tornei um caçador e vou me esforçar para ser o melhor, igual um dia ele foi.

Eu juro por tudo o que é mais sagrado neste mundo, eu vingarei sua morte pai, procurarei a bruxa que tirou sua vida e farei ela pagar por isso.

— Cara, vamos ficar nas suítes, nossa eu esperei tanto por isso — Diego está bem entusiasmado para chegar até os quartos dos vencedores que ficam no andar mais alto da fundação

— Será que vamos ficar no mesmo quarto? Ele me pergunta — Ergo os ombros sem reposta, Kira sorri e diz — Eu posso falar com meu pai para colocar nos três no mesmo quarto, que tal? Diego vira os olhos e dispara — nem consigo imaginar que vamos entrar pela primeira vez no andar dos vencedores, eu salvei vocês dos vampiros então eu mereço muito isso —

Kira dá um soco no braço de Diego, e fala com deboche —Fala sério, agora você vai usar esse pequeno detalhe pra se glorificar o resto da sua vida inteira —

Eles começam a se implicar, e dar soco um no braço do outro. Paramos na porta do elevador dentro da fundação, eu estou tão disperso que nem percebo Kira estalar os dedos no meu rosto - Alooo? Ei, tá aí?

Pisco os olhos várias vezes para me situar

— Oi, tô de boa!

— Cê tá bem? Pergunta Diego

— Tô, falei que tô de boa. Diego continua — Pensando bem, não quero dormir no mesmo quarto que. Kira ela tem um chulezão que mata qualquer um — Kira soca o braço de Diego mais uma vez e exclama

— Que mentira, quem tem chulé é você

  — Mas você ronca, Diego começa a fazer o som do ronco de Kira _ roooonc, roooonc ...

Minha cabeça dói tanto, talvez porque acabei de matar um Goin? ou porque não consigo parar de pensar nas pessoas que morreram, por mais que eu tente me conformar, e pensar que está tudo bem, não, não está tudo bem.

Eu conhecia essas pessoas. Eu sei o nome de cada uma delas, nem consigo imaginar como as famílias delas estão sofrendo.

Eu sei que já sabíamos que isso aconteceria desde a infância, fomos preparados para isso desde cedo, todos nós tivemos a escolha, e escolhemos lutar pela marca, mas isso não muda o fato de que perder alguém que se ama dói, dói tanto ao ponto de querer morrer também, dói como a dor de uma facada nas costas.

Você sente seu corpo se destroçar por dentro, o seu sangue queima como galhos de uma fogueira que acabou de ser acesa. A dor da perda é algo que nunca se esquece, fica impregnada na alma, pode passar anos, mas ela sempre dá um jeito de aparecer, e fazer você se despedaçar mais um pouco.

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