Astral

O quintal

"Rua Moreira Neves, número 14. Às 17h de hoje. Esteja lá."

Foi a carta que Zock encontrou no chão na parte de dentro em frente à porta de sua casa, às 13h.

Enquanto Zock lia a carta, também ia abrindo a porta e saindo de casa. Ao terminar de ler, o garoto ficou olhando para os lados, como quem está procurando algo, alguém, ou alguma explicação.

Antes que ele perceba, Flynn, ao seu lado, puxa sua camisa.

— AHH! — grita Zock num susto — Que susto, caralho!

Flynn se assusta junto e, logo em seguida, Zock diz:

— Desculpa... pelo palavrão. Eu não quis te deixar com medo.

— Me assustei pelo grito. Eu não tenho medo de você.

Zock franziu as sobrancelhas, numa mistura de contentamento, por saber que Flynn não tinha medo dele, e indignação... por que Flynn não tinha medo dele?! Será que ele não era assustador? Que não sabia colocar medo?!

Flynn interrompe os pensamentos de Zock, puxando sua camisa mais uma vez.

— O que foi? — diz Zock sem entender.

Flynn ergue a mão, entregando a Zock uma carta. Confuso, Zock segura a carta e olha para Flynn, na esperança de que Flynn explique, mas o canceriano só permanece calado.

Então cai a ficha.

— Ah... — diz Zock, travando à fala — você quer que eu leia?

Flynn concorda com a cabeça.

— Você não sabe ler?

Flynn, dessa vez, permanece calado, olhando para o lado, mas é o bastante para Zock confirmar a dúvida.

Zock abre a carta e se depara com...

"Rua Moreira Neves, número 14. Às 17h de hoje. Esteja lá."

— Flynn... quem te entregou isso?

— Eu não sei. Quando eu acordei, estava perto de mim.

Zock tira do bolso uma carta e diz:

— Eu recebi uma carta igual à sua.

Flynn pega a carta da mão de Zock e começa a olhá-la.

— Hummm...

Zock continua observando-o.

— Uhum, uhum.

Zock, intacto, começa a alternar entre olhar para Flynn e olhar para o lado, apenas mexendo os olhos.

— Certo, certo.

Flynn termina de observar e, enquanto entrega a carta de volta a Zock diz:

— Eu não sei ler.

— AH, É SÉRIO?

No fim da tarde, Flynn e Zock estavam sentados na calçada da casa do Aquariano.

— Então... nós vamos mesmo? — interroga Zock.

— Sim. — conclui Flynn — Temos que descobrir se isso tem a ver com o que vem acontecendo com a gente. Falando nisso... — continua Flynn — aconteceu mais alguma coisa com você?

— Sobre essas coisas que vêm acontecendo? Humm... Eu meio que dei outro pulo.

Flynn começa a prestar atenção em Zock, interessado no assunto.

— Foi... estranho. Eu só corri e pulei, e foi muito alto... eu subi uns... três, quatro metros. O mais estranho é que, quando eu caí, foi como se eu estivesse levitando levemente, como uma pena.