ArmadilhA | MileApo BibleBuild

Capítulo 12

12

Build POV

Ao acordar sinto minha cabeça girar e a ânsia de vômito me atinge, tento levantar e noto que estou em um sofá e que não é o do meu apartamento, se fosse eu não estaria com essa dor infernal nas costas, o lugar que estou é bem menor e simples mas eu já o conheço, estou na casa de Bible.

- Finalmente você acordou – o escuto dizer da cozinha – Hoje é domingo mas tenho plantão então se manda.

O tom de Wichapas é o que ele usa normalmente comigo, o de alguém prestes a cometer assassinato, mas mesmo assim ele vem em minha direção e me entrega uma xícara de café.

- Obrigado. O que houve ontem? – minha cabeça dói tanto que não consigo lembrar de nada, nem mesmo de como cheguei ali.

- Bateu a amnésia? Você me pentelhou a noite toda e quando tentei te fazer ir embora você me agarrou. - Cuspo meu café.

- Eu te agarrei?

- Yeah, e ainda disse "fique do meu lado, seja meu".

- Porra, preciso parar de beber tanto. – não é que eu não me sinta atraído por Bible, mas uma coisa é provocá-lo e outra completamente diferente é tentar algo com ele. Nisso, posso dizer que admiro Mile, ter coragem de se envolver com um policial, eu não conseguiria, muitas coisas estão implícitas nesse tipo de relacionamento – Bem, obrigado pelo café e pela estadia mas vou indo.

- Lembre-se do que me prometeu.

- O que te prometi? – tenho medo de perguntar mas preciso saber.

- Se eu te desse vinho você não me incomodaria por uma semana.

- Ah, foi isso – um alivio instantâneo me atinge – Irei tentar cumprir essa promessa mas se eu notar algo estranho entre você, seu amiguinho e o Phakphum eu estarei aqui.

Parto e volto para minha casa, entro no chuveiro e a água fria me ajuda a clarear a cabeça, aos poucos borrões da noite anterior vão surgindo e lembro vagamente da conversa que tive com Bible. Porra, como eu pude me abrir tanto com um policial? O que Mile me disse não deveria ter me afetado tanto a esse ponto.

Soco a parede com força até que os nós de meus dedos comecem a doer, junto da dor mais memórias se desencadeiam e lembro de puxar Bible para um beijo, e não apenas isso, que ele também retribuiu esse beijo antes de me empurrar e se trancar no quarto. Agora tenho certeza que perdi completamente o juízo, não apenas me embriaguei e parei na casa de um policial como falei coisas pessoais e o beijei, ultrapassei todos os limites.

Não tenho muito tempo para remoer o que já aconteceu, tenho um novo encontro com Ping relacionado a exportação de cocaína mas dessa vez tomei o cuidado de ir para um lugar seguro. A perda de mais de uma tonelada de produto fez um grande rombo nas contas da família e preciso me recuperar.

Encontro com o pequeno traficante a sós, em uma velha casa longe da cidade, longe o suficiente para que eu percebesse se alguém estivesse me seguindo. Desde a última vez que nos vimos Ping está com sede de vingança, Phakphum matou alguns de seus homens e ele não quer deixar barato, ciente da nossa rixa o traficante está disposto a qualquer coisa para prejudicar o cabeça da família Romsaithong.

- Jakapan – ele me cumprimenta – Esses últimos dias não tem sido fáceis, meus homens estão com medo, insistiram para que eu não fizesse mais negócios com você, disseram que ficar contra o Phakphum era burrice e que a família dele era mais poderosa do que a sua.

- Se é assim, porque ainda está aqui? Em um estalar de dedo encontro alguém para te substituir.

- Ai que está, essa é a opinião deles, não a minha. Não suporto mais a soberba do Phakphum, quando eu lidava com o pai dele as coisas eram mais fáceis, as cobranças eram menores agora com o Mile? Sem condições, eu deixei de vender pó para não ter que lidar com ele. Acho que eu e você podemos fazer muito um pelo outro, eu ainda tenho contatos, muitos contatos – Ping segura um celular e aponta para mim – Alguns deles me devem favores, outros eu tenho podres, posso conseguir substituir o produto de Mile pelo seu, você só precisa fazer ele chegar as minhas mãos.

- E o que você ganha com isso?

- Quando você crescer mais, quero um lugar de destaque, quero sair das ruas, quero andar como vocês andam de terno e gravata. Quero provar meu valor e quero ser seu homem de confiança.

Os pedidos de Ping são razoáveis, até mesmo simples, se levar em consideração toda a complexidade dessa operação, assim, fechamos o nosso acordo.

- O próximo carregamento chegará em breve, não direi datas ainda, meus homens irão cuidar de receber o produto e só depois passo para você, da última vez que os seus ficaram encarregados disso você sabe o que aconteceu.

- Sem problema, chefe. A distribuição será na encolha, usarei esses contatos e em breve não haverá mais compradores e distribuidores para os Romsaithong.

Saio satisfeito da reunião, dessa vez as coisas terão que dar certo, eu não tenho outra opção senão fazer dar certo. Quando chego em casa Bas e Jeff estão lá.

- Boa tarde, senhor Puttha. Depois do restaurante ontem, o policial e o senhor Phakphum foram para o hotel e saíram apenas agora pela manhã, eles foram embora separados e outros dos nossos rapazes estão de olho neles – Jeff é quem fala.

- Descubram quem é o homem na frente do prédio de Bible, tenho certeza que é um dos homens de Phakphum mas não o reconheço.

- Sim, senhor.

Os dois se retiram me deixando sozinho, minha cabeça ainda está agitada com os acontecimentos da semana, tantas coisas aconteceram em poucos dias. Mas algo que está me intrigando é que as duas vezes em que fui na casa de Bible ontem lembro-me de ter visto o mesmo homem, mesmo com a memória afetada pela bebida eu sei que ele não estava ali casualmente então Mile deve ter deixado um dos seus seguranças vigiando Bible ou cuidando dele, não sei qual das opções está mais correta.