Jeongin havia esquecido de colocar o despertador para tocar. Depois da longa noite de choro, acordou com dor de cabeça, os olhos inchados e vermelhos. Nem se importou em programar o celular, e também esqueceu que Hyunjin viria à sua casa às 14h. Ainda sonolento, abriu o diário para escrever um pouco.
Assim que ia pegar a caneta, a voz da mãe ecoou lá de baixo, anunciando a chegada do Hyunjin. Jeongin congelou. Tinha esquecido completamente.
— Eita, puta merda! Eu esqueci completamente! — Levantou-se da cadeira em desespero, olhando em volta, perdido.
Ouviu as batidas na porta e soube que estava ferrado. Estava com a cara amassada de sono, o cabelo parecia um ninho de passarinho de tanto que se mexeu à noite. Nem café da manhã, nem escovar os dentes, nem lavar o rosto.
— Baaabyy, abre aquiii. — Hyunjin chamou de forma manhosa.
Jeongin correu para o banheiro, arrancando a calça de moletom no desespero — até rasgou um pouco. Vestiu a primeira roupa que achou no cesto de roupas sujas, ligou o chuveiro e se molhou inteiro. Passou sabonete de qualquer jeito, só para deixar algum cheiro, e logo se enrolou na toalha. Se olhou no espelho, tentando disfarçar a cara amassada com tapinhas no rosto, e saiu do banheiro fingindo naturalidade, como se tivesse acordado havia horas.
— Oh... Eu não sabia que você estava no banho... — Hyunjin comentou, surpreso. Nunca tinha visto o melhor amigo apenas de toalha.
— A-aan... Porra! — Jeongin berrou ao notar o diário aberto em cima da mesa. — Então, fique à vontade! — Disse rápido, agarrando o caderno como se fosse sua vida. — Hyun! Eu vou me vestir e daqui a pouco... daqui a pouco... A GENTE CONVERSA! — A voz saiu trêmula, nervosa.
Hyunjin estranhou a reação, sentindo uma curiosidade enorme.
— Vai lá, raposinha. — Sorriu, enquanto pegava a caneta quase caindo da mesa. — O que é isso? — Murmurou, notando o detalhe escrito nela. — Hyunin? An? Hyunin... Hyunin... Hyunin... — Repetia baixo, confuso.
Enquanto isso, Jeongin respirava aliviado por ter visto o diário antes do amigo. Pegou roupas confortáveis: calça jeans larga e moletom azul. Para disfarçar o hálito, mascou um chiclete. Quando voltou ao quarto, viu Hyunjin sentado na cama, ainda segurando sua caneta especial.
— E aí! Vai querer? — Ofereceu o chiclete, mas travou ao ver a caneta na mão do amigo. — Larga isso! — Praticamente pulou em cima dele.
Hyunjin reagiu rápido, e em um movimento ficou por cima, segurando a caneta diante do rosto de Jeongin.
— Hyunin... É Hyun de Hyunjin e In de I.N? Nossos nomes? — Sorriu. Achou aquilo a coisa mais fofa do mundo.
— Felix! — Jeongin gritou, desesperado. — Ele que me deu... talvez seja isso! — Colocou a culpa no amigo, como sempre.
— Que fofo! Vou ligar pra ele pra confirmar...
No impulso, Jeongin o empurrou, ficando por cima em segundos. Hyunjin arqueou as sobrancelhas.
— Jeon, o que está fazendo? — Perguntou, achando tudo estranho. — Você está escondendo alguma coisa de mim, Innie. Está esquisito... — E só então percebeu a posição em que estavam: Jeongin praticamente sentado em seu colo, segurando seus braços.
— Hyunjin! Larga de ser safado! — Jeongin resmungou, saindo de cima. Hyunjin gargalhou alto. — Eu não estou escondendo nada de você! — Completou, forçando naturalidade. Rezava para não estar vermelho. — E você não vai ligar pro Lix, vai atrapalhar ele com o Bin. Você já devia saber, ele sempre fala: “14h! Ou menos! Não importa, nesse horário estou ocupado com meu amor, ok?” — Imitou Felix, arrancando risadas de Hyunjin.
— Aham, aham! Vem cá, raposinha. Você sabe que eu gosto de ficar abraçado com alguém. Já que briguei com minha namorada, sobrou pro meu melhor amigo... — Hyunjin abriu os braços.
Jeongin forçou um sorriso, mas a frase ecoou em sua mente como uma facada. “Sobrou para o meu melhor amigo...”
— Vem, meu neném. — Hyunjin insistiu.
“Isso dói de um jeito...” “Respira, Jeongin...” “Não chora agora!”
Jeongin brigava com seus pensamentos. Hyunjin percebeu a mudança, mas como sempre, acreditou quando o mais novo disse que era apenas sono. Eles se deitaram lado a lado, de conchinha. Para Hyunjin, era apenas carinho entre amigos. Para Jeongin, era uma confusão de sentimentos que lhe embrulhava o estômago.
[🍞🥟]
Passaram a tarde brincando, conversando, dançando, pintando, rindo e até fizeram tatuagens de caneta um no braço do outro. Hyunjin escreveu no pulso do Yang: “Raposinha danada~”. Jeongin desenhou um coração no pulso do amigo.
Quando deu 18h45, Hyunjin precisou ir embora. Sua mãe faria plantão e sua irmã caçula, Hwang Yeji, de 15 anos, não podia ficar sozinha à noite. A Sra. Hwang trabalhava na delegacia que antes fora do marido; após sua morte, assumiu o posto.
Sozinho novamente no quarto, Jeongin pegou o diário.
📚:
【21/09/2022 — 18:50】
| “Oi, diarinho. Hoje você quase foi descoberto! Meu Deus, eu entrei em pânico. Não sei por que sempre escrevo à noite, mas é quando as palavras saem.
Aff... Já estou falando coisas sem sentido. Sou assim quando estou feliz demais!
Hoje o Hyunjin veio aqui. Foi muito legal, fizemos várias coisinhas juntos, como sempre. Mas o que me deixou realmente feliz foi ele não ter falado nada da namorada! Normalmente, não importa o assunto, ele sempre dá um jeito de mencionar a Nayeon... e eu acabo me irritando.
Eu estava planejando escrever desde cedo, mas acordei tarde demais e até esqueci que ele viria. Foi um sufoco! Mas no fim deu tudo certo.
Porra, estou tão feliz que não consigo parar de bater o pé na mesinha. Já está doendo! Melhor parar antes que eu fique sem dedo.
É, só sou um pouco dramático... ATÉ AMANHÃ! MANO, ESTOU MUITO FELIZ! Só por uma coisinha simples, mas deixa eu ser emocionado!” |
Jeongin terminou de escrever e se jogou na cama, massageando o dedinho dolorido.