Sacrifícios

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Assustado.

Era o único sentimento que definia o castanho naquele momento. Olhava em volta e via os rostos de seus ditos "amigos" a sua volta. O vento gélido da noite ricocheteava em sua pele como navalhas afiadas. A angústia deixava um gosto amargo em sua boca. Lágrimas se formavam no canto de seus olhos, mas nenhuma delas parecia estar preparada para cair.

Lutava e puxava. Sabia que era inútil, mas nada o impedia de lutar. Seus membros estavam começando a ficar dormentes, a circulação estava começando a ficar comprometida. As cordas apertadas o machucavam, mas a dor não era maior do que a de seu peito.

Sentia-se traído e usado. Aqueles ao seu redor eram seus amigos, mas amigos ajudam uns aos outros, não os transformam em sacrifícios humanos.

Era apenas uma noite entre amigos. Derek o convidou. Parecia que finalmente o sourwolf estava considerando o jovem castanho como um amigo, alguém em que se podia confiar. Stiles achava aquilo bom! Era para o bem do pack, todos se darem bem. Até Scott achava isso.

Mas, não foi assim. O pack estava lá, todos reunidos. Não foi daquele jeito que o garoto planejou que seria a noite. Foi imobilizado e arrastado até o meio da floresta. Preso em um tronco partido de árvore: Nemeton. O tronco mítico. Era onde estava deitado, preso e amordaçado. Queria gritar, mas não conseguia. Chorar, mas não conseguia. Deveria tentar fugir. Mas, para onde? Não havia lugar para correr ou se esconder.

Estava sozinho, rodeado por seres fúteis.

O medo e a angústia que rodeavam seu peito foram aos poucos se transformando em algo negro. O ódio estava começando a vibrar dentro de si. O mais puro e genuíno ódio consumia seu peito agora. O sentimento nascia e crescia em seu peito, se enraizando pelo resto do corpo como uma erva daninha que se infiltrava por debaixo de sua pele, se mesclando com o sangue e se fundindo a carne.

Ficou quieto, deixando o ódio o consumir. Seus "amigos" continuavam cantando algo irreconhecível. Não era uma música conhecida, deveria ser o feitiço de um ritual. Os símbolos estranhos desenhados no tronco e ao seu redor brilharam quando a luz da lua cheia os iluminou.

Stiles passou a sentir uma espécie de formigamento pelo corpo, algo ruim, algo sinistro, mas não tinha medo. Não mais. Apenas deixou que aquela sensação o enchesse e preenchesse todo o seu ser, o consumindo aos poucos. Notou Scott se aproximando com uma espécie de adaga negra. A expressão do lupino era de pânico e culpa e o castanho podia notar a mão trêmula do outro fazendo a adaga tremeluzir refletindo o brilho da Lua.

Stiles tinha os olhos bem abertos, focando toda a sua atenção no queixo torto. Não ousou em momento algum desviar o olhar, iria encarar seu carrasco olho no olho. Viu a adaga lentamente se aproximando, como em câmera lenta, sentiu o metal frio rasgando a pele de seu peito, perfurando seu órgão vital, sangue quente respingado e jorrando e por fim a puxando para fora.

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Scott, sujo de sangue, segurava em uma mão a adaga e na outra um coração, oferecendo o órgão para a noite e sua rainha, a lua. O lupino mordeu o órgão repassando-o para cada um ali que participou do ritual. Suas forças agora seriam duplicadas.

Poder. Era isso o que tinha em mente, apenas poder.

Foi um pouco complicado para Scott concordar com aquilo. Allison foi bem, digamos "motivadora" com aquele assunto. Depois que descobriram sobre o pack de alfas na cidade, um sentimento de pânico começou tomar conta dos lupinos. Eles não tinham poder suficiente para lutar contra um oponente tão poderoso como aquele, mas a Argent chegou com uma solução.

Um sacrifício humano. E que humano melhor do que o pálido e frágil Stiles? Allison convenceu Scott, assim como todo o restante do pack, de que aquilo seria o melhor. Não era para pensar na morte de Stiles. Nas palavras da caçadora, o Stilinski agora viveria para sempre com todos eles, lhes dando poder.

Infernal boyOnde histórias criam vida. Descubra agora