Sombras e aves

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Escuro. Uma mancha negra acima de sua cabeça, seus olhos varrendo a imensidão negra e observando como as sombras se moviam. Dançando e se contorcendo, chamando por ele, querendo que ele se juntasse outra vez a elas. Stiles era parte delas.

Tic tac, tic tac... ele conseguia ouvir o barulho do relógio na parede da sala de estar, uma coruja piando no telhado, algum cachorro revirava uma lata de lixo nos fundos da casa. Stiles ouvia tudo e continuava a contemplar o teto escuro do quarto. Estava com fome.

Mas sua fome não era dessas que assola as almas viventes e as fazem dar um pequeno rolê até a geladeira na madrugada, não! Sua fome não era dessas. Sua fome não seria saciada dessa forma, com um sanduíche, um docinho e um suco, Stiles precisava de outra coisa.

Irritado, saiu da cama. Sua aura negra puxando as sombras do quarto e as fazendo o seguirem, as sombras pareciam felizes em o seguir. O som da porta foi abafado pelas sombras, ascendeu a luz para se observar no espelho - sombras fugindo assustadas da luz - o que via lhe desagradava.

A imagem refletida era pálida como giz, a pele esticada sobre os ossos, seus olhos estavam fundos com enormes bolsas arroxeadas embaixo. Parecia doente, se via como um cadáver ambulante, - que irônico - estava péssimo. Sentia-se fraco e faminto, parecia quebradiço e frágil como cristal. Isso o irritava tanto. Ele era forte, implacável, ele era a porra de um demônio, estar desse jeito o fazia se sentir patético. Patético e humano.

Ele não era nenhuma dessas coisas.

Precisava comer. Precisava de um plano. Já era hora de dar continuidade a sua vingança.

O dia estava amanhecendo, sabia pelo sussurro desgostoso das sombras que se escondiam em seu quarto, que fugiam da luz do banheiro. O dia amanhecia e as sombras fracas se escondiam. Stiles não era fraco, ele não precisava se esconder, precisava se mostrar.

Quando olhou novamente para o espelho, a escuridão se juntava a ele, ofuscando a luz do cômodo e esquecendo-se do amanhecer. Porque era como diziam "os similares se atraem", sombras se juntam às sombras e apagam a luz.

Hoje seria um longo dia.

********

Stiles estava fraco, anêmico, sabia e sentia a necessidade de se "alimentar" novamente. Pensava em algo no caminho para a escola, olhava sua terrível aparência pelo retrovisor, sabia o trapo que estava. Muitos chegavam nele e perguntavam "amavelmente" sobre sua condição e não era difícil mentir. Preocupação pela morte sem solução do amigo. Um mês e ainda não havia nenhuma pista. Um assassino maníaco solto por aí e ele estava uma pilha de estresse, deduziram os outros. "Pobrezinho", ouvia isso com frequência. Ele e Liam eram os que estavam mais visivelmente "abalados", Stiles queria rir quando ouvia isso, mas, ele deveria continuar com o seu show de atuação.

Ao chegar à escola, e seu Jeep, viu a rodinha de "amigos" conversando. Eles mantêm distância, Stiles mantém a sua "distância" disfarçada. É um jogo de floreios e encenações, Stiles é o melhor jogador, sem dúvida. Com seu sorriso demoníaco, resolveu brincar.

- "Uni duni tê salamê minguê o sorvete colorê - seu dedo ossudo passava de um membro do pack para outro - o próximo a morrer vai ser ... você! - para apontando para Theo, seu sorriso maléfico aumentando, fala consigo mesmo – É, Theosiane você será minha próxima vítima.

Stiles observa um garoto ir até onde o pack estava, se embrenhando na conversa fervorosa sobre algum assunto que eles tinham. Ele próprio não estava com a mínima vontade de participar do assunto, mas ele tinha que continuar fingindo interesse, por isso saiu do carro e entrou na rodinha do pack. Ele sabe que não é bem vindo e não dá a mínima para isso, pois tudo é um show ensaiado de aparências.

Infernal boyOnde histórias criam vida. Descubra agora