O Luar

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That's why I walk down memory lane
'Cause is the only place
That I have you again

Memory Lane, Haley Joelle

A lua.

O astro que Minho amava observar todas as noites - quando não era surpreendido pelas nuvens para cobrí-la. Não que fosse um amante da astronomia e pudesse dizer com precisão alguns fatos sobre cada planeta existente no sistema solar, porque no máximo tinha Netuno como seu planeta favorito e repetia a famosa frase "que os anéis de Saturno me expliquem como o seu sorriso me tira da órbita" mentalmente algumas vezes. Mas, mesmo que não soubesse quase nada do que diz respeito ao vasto universo em que habitava, buscava admirá-lo o quanto era possível.

Estava em pé na sacada de seu apartamento, com as mãos nos bolsos da calça moletom cinza, uma blusa de malha azul escura e chinelos. Havia retornado do rolê há algumas horas e, embora estivesse caindo de sono durante o filme que assistiram, sentia fome. Não pôde dormir enquanto sentia a barriga reclamar pelo meio hambúrguer que havia comido mais cedo. Na verdade, não comera tão pouco pela falta de fome, mas pela pressa para voltar para casa. Demoraram tanto no cinema que, quando saíram, todo o shopping já estava fechado. Os funcionários deram um crédito apenas para uma porcentagem que ainda esperava por seus lanches. Fora isso, também viu Seungkwan reclamar quando a funcionária do Burguer King resolveu terminar os atendimentos quando chegou a sua vez. No fim, decidiu que repartiria seu pedido com o amigo. Todos ficaram contentes com a atitude, menos o seu estômago.

Esperava o ramén ficar pronto às duas e meia da manhã. Era sábado, não planejava acordar antes das duas da tarde, então não tinha razão para se apressar ou esperar até o sol raiar para alimentar-se. Sentiu uma pontada de felicidade ao se lembrar de que teria um tempinho extra para descansar naquele final de semana, principalmente porque não tinha nada pendente no trabalho.

Uma de suas gatas, Dori, subiu em cima do sofá da sala, miando baixinho enquanto olhava para o dono. Minho desviou o seu olhar da lua e voltou-se para o felino, que tinha as orbes mais brilhosas que o normal devido às luzes da rua que atravessavam as portas francesas da sala. Caminhou até a gatinha, sentando no sofá.

- Quais são as chances de você estar dizendo "você é o melhor pai do mundo" em vez de "comi mais cedo mas ainda estou com fome, me dê comida, humano"?

Não obteve nenhuma resposta, nem um miado. Acariciou a cabeça de Dori, soltando uma risada baixa pela sua fala estúpida. A pegou e colocou em seu colo, suspirando ao recordar da história de como a resgatou num terreno baldio. Uma pontada de raiva e tristeza atingiu seu coração ao relembrar de como estava sujinha e fraquinha dentro de uma caixa de papelão, ao lado de sua irmã, jogada no mato alto. Estava com Jungwoo quando ocorreu, e o outro se comprometeu a cuidar da outra gata. Hoje, ambas estão seguras e amadas em lares abundantes. No fim, ainda existem seres humanos com coração bom.

A orelhinha esquerda do bichano continha uma pequena marquinha. Minho julgava ser uma exclusividade dela, sendo uma manchinha branca em meio ao pelo alaranjado. Após a adoção, sentia como se a gatinha o fizesse companhia sempre. Amava estar em seu apartamento, só pelo fato de saber que a encontraria por lá todas as vezes que atravessasse a porta de entrada. Segurou a cabecinha de Dori com as duas mãos, acariciando-a desde o focinho até a pontinha de suas orelhas. Beijou-a na pontinha da cabeça.

- Eu sabia. Estamos juntos nessa. Não deveria, mas vou colocar comida para você só dessa vez. Não abuse.

Assim o fez. Deu um pequeno sorriso ao vê-la se deliciar da comida, ainda que pouca se comparado à quantidade que costumava comer durante os horários corretos.

Paper Planes | Lee MinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora