Verdade ou consequência?

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Por Gisinha Lima

Os olhos de sakura protestaram ao sentir algo quente no rosto. O vento, apesar de suave, trazia uma mornidão totalmente desconhecida, além da intensa claridade, que fazia seu rosto virar de lado. No entanto, a garota forçou-se a abrir os olhos, uma paisagem muito conhecida deixando-a totalmente mesmerizada. Era o Parque do rei Pinguim, as cerejeiras em flor, as pétalas se espalhando, carregadas pelo vento, agora um pouco mais fresco. Ao levantar-se, vira uma figura conhecida, os olhos piscando para ela, marotos. Um sorriso involuntário se abriu.

- O Mago Clow! - os pés literalmente se mexeram por ela, a distância entre os dois reduzida em poucos segundos. Sakura viu que ele passava a mão em uma corrente de ar formada pelas cerejeiras, como num pequeno córrego. Os dois ficaram um tempo em silêncio, até que Sakura o encarou, as bochechas ficando imediatamente coradas; o outro, ao ver a reação, simplesmente sorriu.

- Entendo sua imprudência, - o sorriso, aos poucos, a deixava realmente desconfortável. - Você foi pega de surpresa com um sentimento que é novidade pra você.

- Como...

- Tudo bem, Sakura, pode mentir para os outros, talvez até por um tempo... - ele ainda sorria, mas desconfortável. - Mas não pode mentir para si mesma. Não foi exatamente por Yue que fez isso, certo?

Ela corou furiosamente agora. Ainda sentia algo por Yukito, o mesmo sentimento que tinha desde que o irmão o levara em casa para conhecer sua família. Mas Yue mostrara o quanto os sentimentos, além de fortes, são confusos... e que podem mudar. O problema não era saber o que sentia por ambos. Agora sabia que Yukito e Touya se amavam, muito antes de Yue se declarar, o rapaz já havia sinalizado que não gostava dela da mesma forma. O que tinha fazer agora era decidir o que faria com isso dali para frente. Se a magia desse certo e ambos tivessem sido separados, ainda havia o fato de Yue não poder ser humano. Ainda era um guardião das cartas. Como lidar com isso?

- Eu o amo. - ver isso verbalizado tornou o sentimento muito mais real do que imaginava, e agora isso a assustava.

Clow sorriu, condescendente. Algo se agitou dentro de Sakura, fazendo-o recuar.

- Nossa, imaginei que você... bom, agora estou surpreso. - ele olhou pra baixo, desconcertado. - Meu guardião, pelo visto, teve sorte.

A menina o encarou confusa. Foi quando realmente percebeu o real motivo de Carta Espelho e Yue continuarem sendo seres mágicos.

- Foi por egoísmo. - uma lágrima rolou discreta pelo rosto da menina.

- Eu morreria e eles ainda continuariam, mas não conseguia conceber a ideia de perdê-los, como perdi Sophie... - ele olhou para o chão, agora com vergonha de encarar Sakura. - Pode perdoar um velho por ser muito tolo?

- Essas cartas... eram suas amigas...

- Sim, amigas com um poder enorme, que eu tinha responsabilidade de preservar. - sua voz agora assumiu um tom mais duro. - Não espero que entenda o que fiz, mas respeite minha decisão. As cartas precisam ficar subjugadas a um mestre.

Ao ver a reação exacerbada do outro, Sakura apenas puxou a respiração profundamente e parou de falar. Ele não mudaria de opinião e realmente acreditava que fizera o certo. Ele apenas vivia as consequências de suas escolhas. Escolheu aprisionar dois amigos a dar-lhes a escolha de permanecer ou não em sua vida. Não cometeria o mesmo erro.

Um sorriso leve a fez suspirar outra vez, surpreendendo o mago Clow.

- Você tem certeza disso? - um sorriso irônico não lhe passou despercebido.

A menina sorriu, as bochechas coradas, ao imaginar como seria recebida pelos amigos, entre berros e abraços, e, pelo modo como as cerejeiras rodopiavam, não iria demorar.

O doce sabor da paixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora