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Não vou me meter a escrever alguma coisa que vá te agradar ou que será completamente romântica. Isto não quer dizer que não haverá momentos em que eu me empolgarei com o que sobrou do que eu senti durante este mês que se passou. Sim, tudo o que eu escrevi aqui durou cerca de um mês, mas acredito que isso não seja tão relevante. Você deve estar rindo da minha cara e me questionando: – Está de brincadeira? Olha o nome do conto, acha mesmo que isto é irrelevante? – Bom, qual a importância do título? Ao terminar um livro e saber toda a sua história, o título terá como única função distinguir um do outro. Certo, vou deixar o orgulho de lado e assumir que o fato de toda essa história ter durado um mês me perturba e muito, desperta sentimentos de várias naturezas em meu coração. Como pode tamanha conexão ter sido criada tão rapidamente? Em contrapartida, como pode algo tão belo ter morrido em tão pouco tempo? Não vou responder agora, até porque eu estou revelando muitas coisas antes da hora, como você verá nas próximas linhas.

Eu gostaria de ter escrito sobre isso diariamente, enquanto eu ainda estava vivendo essa história, ou ilusão se assim preferir, mas estava ocupado e apaixonado demais para encontrar forças ou vontade para escrever. Na verdade, nunca gostei de escrever sobre o que eu sinto ou coisa alguma, então essa explicação quase não é válida. Fato é que tudo o que eu disser aqui não fará jus ao que eu vivi e senti, já que são só lembranças de sentimentos que talvez não existam mais. Já parou para pensar no que são lembranças de sentimentos? Elas são bem diferentes de lembranças de meros fatos ou acontecimentos. Ao tentar descrever um fato vivido, desperta-se sentimentos ainda existentes em seu coração, o que com certeza fará com que a sua história seja melhor ou pior contada. Que seja, pois esta é a sua verdade e nada mais importa. Mas tente descrever um sentimento que já não existe mais, ou quase não existe. Sempre vos faltarão palavras ou inspiração na hora de expressar, de botar para fora, até porque já não há o que botar para fora. Dito de outra forma, no primeiro caso você acrescenta sentimento às suas palavras, enquanto que no segundo você acrescenta palavras aos seus sentimentos. Então, se você está lendo essa história, te deixo a triste notícia de que você jamais saberá com precisão a intensidade dessa paixão, só eu e ela sabemos como foi, cada um ao seu modo, já que eu também não sei e nunca saberei o que ela sentiu e com qual intensidade. Mas isto também é irrelevante, concorda? Enfim, não se preocupe com este detalhe, pois eu fiz questão de escrever algumas cartas no momento em que eu estava completamente destruído, em frangalhos, sem vontade alguma de viver.

A primeira coisa que você precisa saber é que o amor é o meu ponto fraco, a paixão é o meu vício e se eu não estou vivendo essa loucura, pode ter certeza de que estou a procura desses sentimentos que me escravizam, sejam eles por uma pessoa, por ideias ou coisas. E lá estava eu, procurando por alguém que pudesse me enlouquecer mais uma vez, sempre babando para achar a pessoa por quem eu possa perder toda a minha sanidade e energia, para quem eu possa entregar a minha alma e a minha vida. É assim que eu amo e me arrisco a dizer que talvez Werther estivesse certo: ao controlar o meu jeito de amar, controlarei também o meu amor, sufocando-o até a morte.

Quatro ou cinco meses no vazio, somente eu e a minha insuportável companhia. – Não, não se engane achando que eu me sinto bem na companhia de outra pessoa, não, eu não suporto estar acompanhado. – Estou me revirando para pensar em como dizer de maneira elegante que eu usei um desses aplicativos de namoro, mas hoje em dia não existem maneiras elegantes de iniciar histórias românticas. Bom, mesmo se tiver... não é com isso que estou preocupado, não importa como tudo começou.

Dentre as pessoas que eu conversei, uma ou duas estavam realmente interessadas em conhecer alguém e ter uma conversa razoável, sem medo do que iriam encontrar ou sem medo de se conectarem com outro ser humano. Mas a conversa com Alice foi a melhor possível desde a primeira palavra que trocamos, ela realmente gosta de pessoas e de um bom papo. Calma, eu não me empolguei logo de cara, passamos duas ou três semanas conversando por mensagem antes do primeiro encontro e, até isso acontecer, eu não tinha um pingo de noção de que viveria a maior e mais intensa paixão da minha vida. Eu sempre fui uma pessoa mais reservada, mas quando conheço alguém legal acabo falando pelos cotovelos, pois não há nada mais irritante do que monologar em um diálogo. Para a minha sorte, Alice já tinha deixado claro em sua "bio" o quanto ela gostava de pessoas extrovertidas, e posso confirmar que não só gostava como também se mostrava extrovertida e interessada.

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