Estive pensando sobre como continuar esta história e reparei no quão difícil é lembrar dos detalhes. A minha memória nunca foi muito boa para este tipo de coisa, os acontecimentos se confundem em minha cabeça e eu acabo misturando um dia com o outro. Tenho também a impressão de que a paixão agrava ainda mais a situação e talvez alguns de vocês possam concordar comigo. Basta que você tente lembrar daqueles dias em que você estava perdidamente apaixonado, pense nos detalhes. De qualquer forma, farei um esforço para descrever o que for possível.
Ao acordar no dia seguinte eu não me dei conta de que já estava me apaixonando, nós nunca nos damos conta tão rapidamente, mas tudo em mim já estava diferente. A minha respiração estava mais suave, o meu caminhar estava mais tranquilo e eu acordei sorrindo. E é claro que ela estava entre os meus primeiros pensamentos do dia. Isto me faz lembrar daquele trecho da música do Tears For Fears: "Something happens and I'm head over heels, I never find out till I'm head over heels" . Entretanto, aquele domingo foi se passando e eu fui percebendo o rumo dos meus pensamentos e das minhas vontades. Meu único desejo era vê-la novamente, meu corpo e alma já estavam tomados por este sentimento tão vigoroso e cruel chamado paixão. Nada nem ninguém seria capaz de desviar-me deste destino, de maneira que tudo dependeria tão somente de nós dois. Tolo, cego e ingênuo, mal sabia eu que estava fadado ao sofrimento. Porém, faria tudo novamente, repetiria cada um de meus passos, me apaixonaria tantas vezes quantas fossem necessárias, sofreria um inferno por dia para tê-la em meus braços.
Cabe aqui um comentário importante sobre algo que escrevi no início do conto: o meu desejo de ter escrito esta história enquanto ela acontecia, em doses diárias, baseia-se na ideia de que o leitor poderia acompanhar o crescimento dos meus sentimentos sem a influência de tudo que estou sentindo agora. Estou convicto de que a leitura seria mais feliz e agradável, pelo menos por um tempo, pois o meu coração estava repleto de sentimentos positivos. Agora, contudo, estou tomado por uma tristeza que oscila de maneira caótica, afetando completamente não só a minha escrita, mas toda a minha vida.
A cada dia que se passou durante aquela semana eu acordei com uma mensagem de Alice me desejando um ótimo dia e bons estudos. Assim, nem mesmo o pior dos eventos poderia me irritar ou estragar o meu dia, era como se eu estivesse protegido por suas doces palavras. Os nossos diálogos eram sempre agradáveis e animados, com mensagens carregadas de bons sentimentos e muito carinho. Fomos nos conhecendo mais a cada dia, trocando histórias e experiências vividas, de forma que nenhum assunto era intocável. Não serei hipócrita deixando de dizer que algumas coisas me causavam desconforto, pois sempre fui uma pessoa mais reservada, mas mesmo estes desconfortos se transformavam em sorrisos e gargalhadas, Alice sempre sabia como me deixar à vontade. Ao me tratar de maneira atenciosa e carinhosa, Alice foi alimentando este sentimento que crescia em meu coração. Aliás, este é um detalhe importante nesta história, tudo aconteceu muito rapidamente entre nós, uma paixão tão intensa surgiu repentinamente, como que num piscar de olhos e, sem que eu percebesse, me dominou e me fez refém de toda a situação. Em poucos dias, todo o meu tempo e energia estavam totalmente direcionados a ela, nada mais importava.
O nosso segundo encontro foi ainda melhor que o primeiro, combinamos de tomar sorvete e passear pela Av. Paulista. Enquanto caminhávamos, decidimos ir ao cinema assistir um filme de comédia com o Brad Pitt, um filme demasiadamente longo. Temos aqui outro momento em que a diferença se sobressaiu, pois eu nunca gostei de filmes de comédia, com exceção de alguns estrelados por atores como o Jim Carrey. Entretanto, mais uma vez eu acabei me surpreendendo, não somente gostando deste filme em questão, mas mudando a minha opinião sobre a comédia.
Algo engraçado aconteceu antes de entrarmos no shopping: ao caminharmos, eu me aproximava dela mas não sabia como pegar em sua mão. Foi aí que, na hora de atravessarmos a rua, aproveitei que o semáforo estava se fechando e corri segurando a sua mão. Quando terminamos de atravessar e entramos no shopping ela me disse para não soltar, pois queria andar de mãos dadas comigo. A situação pode parecer um tanto boba ou sem graça, mas nada me fará esquecer o que eu senti naquele momento, um gesto tão simples e pequeno me deixou eufórico. Uma paixão vai crescendo em nosso peito até mesmo nos momentos mais monótonos, mas em situações como a que descrevi acima há um salto enorme em nossos sentimentos, elas são capazes de nos levar aos céus em uma fração de segundo. Agora porém, meu coração está em pedaços, lembrar de cada detalhe me afunda em um poço de lágrimas e todo o vazio que há em mim é preenchido com angústia e lamentações. Ah, se eu soubesse que aquela seria a última vez que nós andaríamos de mãos dadas, teria eu a segurado com mais força?
Após assistirmos o filme, caminhamos pela Av. Paulista em direção ao Conjunto Nacional para tomarmos um sorvete, como combinado. No caminho, conversamos sobre nossos relacionamentos anteriores, decidimos que isso seria importante para nos conhecermos melhor. Acredito que este tipo de diálogo, mesmo no início, é crucial para que ambos entendam o que incomoda e o que agrada um ao outro. Assim, poderíamos alinhar as nossas intenções e nossos desejos. Alice me falou algumas vezes sobre alinhar nossas intenções e esta ideia me fascinava, pois desta forma não haveria segredos entre nós nem problemas que não pudessem ser resolvidos.
Chegando ao Conjunto Nacional, tomamos sorvete e depois fomos à livraria Cultura para olharmos alguns livros e outros produtos. Um produto em especial chamou a atenção de Alice e foi este que motivou a capa do livro. Na seção de artigos para escritório e papelaria havia um coração de pelúcia em formato anatômico, em diferentes cores e tamanhos. Ela ficou encantada com os corações, dizendo que aqueles eram os mais lindos que ela já tinha visto e, obviamente, guardei esta informação. Afinal, seu aniversário estava se aproximando e eu poderia presenteá-la com um daqueles. Bastava descobrir a sua cor favorita e esperar mais alguns dias para ver como as coisas iriam caminhar entre nós dois. Ao sairmos da livraria, ficamos sentados em um banco dentro do Conjunto Nacional até a hora de irmos embora.
Uma coisa muito importante sobre Alice é o fato de ela gostar de toques físicos, assim como eu. Nós passamos o dia todo juntos, abraçados ou de mãos dadas, nos beijando ou conversando, mas sempre tocando um no outro. E isso não incomodava ou cansava nenhum de nós, muito pelo contrário, só aumentava a nossa vontade de estarmos juntos. Posso dizer que este foi um dos detalhes que mais me cativou, pois a falta de toque físico sempre me incomodou, de certa forma, em outros relacionamentos. Além disso, em nenhum de nossos encontros Alice se preocupou com o horário de ir embora, ela estava presente por completo, o que me deixou ainda mais envolvido.
Durante a nossa conversa, pouco antes de irmos embora, contei para ela que eu não era uma pessoa acostumada a consumir bebidas alcoólicas. Com Alice era diferente, ela é uma pessoa que gosta de sair e curtir com os amigos e aprecia uma boa bebida. Isto a fez me convidar para ir à sua casa, assim poderíamos nos divertir tomando alguma bebida mais leve. Portanto, nosso próximo encontro seria em sua casa e isso me deixou extremamente empolgado e ansioso. Tudo estava indo rápido demais, mas nada disso era estranho para nós dois, era como se as coisas estivessem em seus devidos lugares, acontecendo o mais naturalmente possível. Cada pedaço de nossas vidas se encaixava, tanto nas semelhanças quanto nas diferenças, resultando em um equilíbrio inimaginável.
Conversamos até um certo horário e fomos juntos para o metrô, parte do nosso caminho seria igual, então aproveitamos os últimos minutos da noite juntos. Eu a acompanhei até o seu ponto de partida, conversamos mais um pouco e demos um beijo de despedida. Cada vez que os nossos lábios se tocavam a minha paixão aumentava, de modo que, minutos após este último beijo, no caminho para casa, eu estava com a absoluta certeza de que nós ficaríamos juntos por muito tempo.
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Um mês
RomanceNeste conto, o protagonista narra como conheceu Alice, uma de suas maiores paixões. O título revela a duração desta história que, apesar de curta, é capaz de encantar e emocionar qualquer um que esteja de coração aberto. Ao relatar este amor vivido...