Já deu para perceber que cada capítulo se encerra com um encontro, revelando como este mês que passei ao lado de Alice está estruturado em minha mente. Outra coisa que está acontecendo é que, após o término de um capítulo, eu fico alguns dias sem escrever. Isto reflete o quão difícil tem sido relembrar cada momento que vivemos juntos, de maneira que a carga emocional aumenta quando chego ao final de um encontro, momento em que estávamos juntos fisicamente. Sinto-me profundamente resistente ao escrever este terceiro capítulo por dois motivos: o primeiro deles está no fato de que, não só o terceiro encontro foi muito mais intenso do que os outros, mas também a semana que se passou antes de nos encontrarmos; o segundo motivo é um tanto mais complicado, pois se relaciona com o meu conflito entre seguir em frente e revisitar as minhas lembranças ao lado de Alice. Volto a dizer que este processo está me destruindo e me afogando em um mar de lágrimas e tristeza, mas em alguns momentos emerge na superfície uma esperança, uma vontade de seguir em frente, me puxando para cima contra a inércia autodestrutiva de meu estado atual. Entretanto, a minha maneira de seguir em frente é um tanto ingênua e pueril, pois enterro as minhas lembranças e me ocupo com outras coisas, tornando tais lembranças em problemas futuros ainda maiores. Daí se explica a minha dificuldade em escrever sobre o que vivi, pois isto me puxa novamente para as profundezas mais obscuras deste mar de angústia. Todavia, daí também se explica a minha vontade de encarar estes sentimentos e continuar escrevendo, dando um novo sentido ao meu modo de seguir em frente.
Na manhã seguinte ao segundo encontro e nos dias que se passaram, um detalhe que até então não tinha importância para mim começou a me preocupar. Assim como eu, Alice havia terminado um relacionamento longo recentemente e, pelo menos por um tempo, não tinha a pretensão de se relacionar seriamente com outra pessoa. Entretanto, o término de Alice era muito mais recente que o meu e a duração de seu relacionamento anterior foi muito maior. E o motivo pelo qual isto passou a me preocupar é óbvio, eu estava perdidamente apaixonado por ela e já não conseguia esconder a minha vontade de estar ao seu lado. Isto me fez pensar se eu deveria me arriscar e continuar vivendo esta história ou se eu deveria parar por ali, pois eu sabia que os meus sentimentos por ela estavam aumentando cada vez mais e, caso tudo fosse por água abaixo, o sofrimento me tomaria por completo. Com todos estes pensamentos atormentando a minha cabeça, decidi conversar com Alice sobre o que eu estava sentindo, já que nós tínhamos liberdade para conversar sobre tudo. Afinal, uma conversa como esta nos permitiria alinhar nossas intenções. Ao conversarmos, Alice entendeu o meu ponto de vista e pediu para que eu tivesse um pouco mais de paciência, pois ela também estava nutrindo sentimentos por mim e sabia que se continuássemos evoluindo daquela forma, tudo se encaixaria naturalmente. Entretanto, eu não era o único a ter medos e inseguranças, pois nesta mesma conversa e até mesmo em momentos anteriores, ao perceber o estreitamento de nossa relação, Alice demonstrava certo receio de que eu sumisse de um momento para o outro. Eu sabia muito bem o que eu estava sentindo e tinha certeza de que eu jamais sairia de sua vida, mas era capaz de compreendê-la e fazia de tudo para demonstrar meus sentimentos, tanto com gestos quanto com palavras.
Não posso afirmar que esta conversa me deixou completamente seguro, tal qual não fez os medos de Alice se dissiparem. Não obstante, decidi que continuaria ao seu lado e que faria o que fosse possível para conquistá-la, mesmo porque eu já estava demasiadamente envolvido nessa história e não suportaria ficar longe dela.
Não me lembro ao certo quando foi que começamos a conversar por chamadas de voz, mas me lembro da primeira vez que ela me telefonou. Eu estava com a nossa mensagem aberta e esbarrei no botão de ligação sem querer e cancelei a chamada rapidamente. Mas Alice recebeu a notificação mesmo assim e retornou a chamada, brincando comigo e dizendo que eu poderia ligar sempre que quisesse. Daquele dia em diante nós nos falamos por ligação quase todos os dias, tanto antes de dormir quanto em momentos em que ela estava dirigindo, ela não gostava de dirigir em silêncio e preferia conversar comigo. Para mim era sempre um prazer ouvir a sua voz e saber como foi o seu dia, nada me deixava mais feliz do que receber suas chamadas repentinas. Foi em uma dessas ocasiões que Alice me perguntou sobre o nosso próximo encontro, dizendo que poderia ser no fim de semana que estava por vir, o que me fez saltar de alegria. Até então, eu estava imaginando que nosso próximo encontro demoraria para acontecer, já que tínhamos nos visto durante dois finais de semana seguidos. Após esta notícia, minha ansiedade aumentou e eu só conseguia pensar em como seria incrível passar um tempo a sós com Alice em sua casa. Me lembro, inclusive, de dizer a ela que seria impossível sair ileso deste terceiro encontro, a paixão seria inevitável. Mal sabia ela que eu já estava completamente apaixonado e apenas não tinha coragem de dizer com todas as palavras.
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Um mês
RomanceNeste conto, o protagonista narra como conheceu Alice, uma de suas maiores paixões. O título revela a duração desta história que, apesar de curta, é capaz de encantar e emocionar qualquer um que esteja de coração aberto. Ao relatar este amor vivido...